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Nem de direita, nem de esquerda. Mayan tem uma visão política “pragmática” e garante: “Não me associo a nada”

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Manuel de Almeida / Lusa

O candidato presidencial apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves

Tiago Mayan Gonçalves é o candidato a Belém apoiado pela Iniciativa Liberal, partido que fundou. “Farto da bolha em que o sistema político vive”, o advogado de 43 anos disse, em entrevista ao ZAP, ser liberal, ter uma visão “pragmática” e não se colocar dentro de “caixinhas”.

Questionado sobre as suas principais prioridades na entrada em Belém, o candidato liberal Tiago Mayan Gonçalves, apoiado pelo partido que fundou, o Iniciativa Liberal, garante, em entrevista ao ZAP, que a primeira coisa que fará será “reunir com o Governo, Conselho de Estado, com partidos com assento parlamentar e outros agentes do país para ver os termos em que temos de regressar o mais rápido possível à normalidade constitucional.”

Além disso, Tiago Mayan quer “a reposição dos direitos de liberdade e garantias e virar o foco da ação do Governo para a recuperação económica e social que urgentemente precisamos”. Como? “Devolver aos cidadãos, aos pequenos e médios empresários e às empresas, a capacidade de ação, por via de apoio fiscal e sem burocracias”.

Sobre a possibilidade de enfrentar uma crise política caso seja eleito, o candidato liberal descarta responsabilidades à figura presidencial, sublinhando que o cumprimento da legislatura do Executivo de Costa até ao fim “depende do governo, não depende de mim”.

Na sua visão, “o Presidente da República tem que analisar a cada momento se há condições de governabilidade ou não, mas quem garante essas condições é o Governo, negociando com os partidos do parlamento”. Quanto à atual geringonça, considera que esta se encontra “aparentemente mais frágil porque o Bloco de Esquerda já saiu, mas ainda mantém a maioria disponível para já”.

“Sou um liberal”

Para além de destacar quais as suas principais prioridades caso chegue a Belém, o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal não se esquece de definir a sua posição política, lembrando sempre que é “um pragmático”.

Nuno Fox / Lusa

João Cotrim Figueiredo, deputado pelo Iniciativa Liberal, e Tiago Mayan Gonçalves em Belém

Tendo em conta as propostas que defende, e que são baseadas na ideologia do partido que fundou, realça que não se enquadra em lados políticos e que a sua única prioridade tem sido dar voz a “políticas liberais”, porém “as pessoas é que as qualificam dentro das “caixinhas”.

“Eu sei que quando falo de mais liberdade económica, menos impostos, mais simplificação fiscal, menos regulamentação e mais capacidade para as empresas, as pessoas associam isso à direita. Mas se eu falar de mais liberdade social ou da despenalização da morte medicamente assistida, as pessoas vão estar a associa-me à esquerda. Eu não me associo a nada, eu sou um liberal e um liberal significa isto tudo“, destaca.

Marcelo andou a passar “paninhos quentes”

Na hora de avaliar o trabalho feito por Marcelo Rebelo de Sousa nos últimos cinco anos de mandato, Tiago Mayan não tem dúvidas e considera que o atual Presidente da República não cumpriu o seu papel. “Não cumpriu o seu papel de regular o funcionamento das instituições e o funcionamento do Governo”, afirma o candidato, em entrevista ao ZAP.

O advogado considera que Marcelo Rebelo de Sousa andou a “passar paninhos quentes” ao Executivo de António Costa, e reconhece que “não cabe ao Presidente da República ser o garante de vida de um Governo. Um Governo tem de governar e o Presidente tem de garantir que o Governo está a governar”.

Mayan defende ainda que o Chefe de Estado deve “alertar quando acha que o Governo está a meter a mão nas competências de outros órgãos, que é o que temos visto. O Governo governa mal e mete-se nas funções de outros órgãos de soberania”.

Neste sentido, Tiago Mayan vai mais longe e acusa Marcelo de permitir “um excesso de atuação do Governo” – e para o candidato não faltam exemplos: “nomeação da Procuradora-Geral da República, do Presidente do Tribunal de Contas, do Governador do Banco de Portugal, na negociação entre o Governo e o principal partido de oposição para proibir os debates quinzenais na Assembleia da República. E depois também todo um conjunto de legislação, como por exemplo a lei da contratação pública e a alteração à lei eleitoral autárquica”, enumera.

Para o candidato liberal, as ações de Marcelo tiveram dois objetivos: “dar mais poder de intervenção ao Governo” e “garantir a sua popularidade”.

Ao longo da sua campanha, o advogado não tem poupado nas críticas ao atual Presidente, sendo que no debate que os colocou frente a frente, no passado dia 3 de janeiro, Mayan não se inibiu se classificar Marcelo como um “propagandista do Governo”.

O milagre que, afinal, nunca o foi

Em relação à pandemia de covid-19, e questionado sobre o papel de Marcelo Rebelo de Sousa, o liberal considera que mais uma vez o que o Presidente fez foi “continuamente aderir às narrativas do Governo”.

“Foi o Sr. Presidente o primeiro a apanhar a vacina da gripe e até fez aquela sessão de striptease e anunciou que todos os portugueses tinham acesso à vacina da gripe. E a verdade é que não tiveram. O Sr. Presidente preferiu estar do lado da narrativa em vez de estar do lado da verdade”, atirou o candidato liberal.

Voltando à pandemia, Tiago Mayan continuou as acusações, dizendo que “também foi o Sr. Presidente a anunciar o milagre português aqui há uns meses. O Governo estava a dizer que estava tudo bem e que era o único país da Europa que estava a fazer as coisas bem no combate à pandemia”.

O candidato acusa Marcelo de ser “desculpabilizador” e de “criação de distrações no contexto do que o Governo tem feito na gestão desta pandemia, que é a revelação de contínua incapacidade de previsão, contínua incapacidade de gestão e total incompetência. E preconceito ideológico também”, remata.

De Tancos ao caso José Guerra

Apesar da pandemia marcar a governação e ação do Presidente nos últimos cinco anos, foram muitos os outros assuntos a gerar controvérsia no panorama político português, um dos mais mediáticos, e que se centrou em torno da figura presidencial foi o caso de Tancos.

Questionado sobre o assunto, Tiago Mayan considera que este caso “mostra até que ponto (…) chega a atuação do Governo no exercício das funções que tem”.

O candidato realça que Marcelo foi a Tancos “fazer uma visita quase como visita de estudo” e, quando começou a investigação, “lavou as mãos” e “não assumiu o seu papel como comandante das Forças Armadas”. Tancos “não pode ficar com a culpa solteira”, realçou Tiago Mayan.

Já sobre o SEF, um tema que gerou bastante controvérsia nos últimos meses, o liberal reiterou que o Presidente fez um “pacto de silêncio” com o Governo. “A própria viúva teve de pagar a transladação do marido, sem respostas do Estado, do Sr. Presidente e do Governo”, disse Tiago Mayan.

Para ele, “se não fosse a entrevista que os pôs aos olhos do mundo, ele [Marcelo] continuaria calado, o Governo continuaria calado, a diretora do SEF continuaria a ser diretora do SEF, e o SEF continuaria a ter uma política de violação dos direitos humanos implantada dentro do seu seio”.

Relativamente à extinção do SEF, Tiago Mayan disse que “não cabe a um Presidente determinar a organização das polícias”, mas sim “assegurar o cumprimento do Estado de Direito dos direitos, liberdades e garantias em qualquer estrutura de polícia”.

No que diz respeito ao caso do procurador europeu, o liberal disse apenas que “este assunto não é de agora”, mas que “a comunicação social cumpriu o seu papel e trouxe aos olhos dos portugueses o que se está a passar aqui”. Para Tiago Mayan, “o Presidente da República devia ter atuado há meses”.

Sobre a TAP, o candidato considera apenas que, “se (…) for uma empresa viável, deverá encontrar o seu caminho”. “Nem mais um euro para a TAP”, defende.

Mesmo discordando da conduta que o Presidente da República tomou nos últimos anos, não esquece que a meta é Belém e sublinha que Marcelo é o adversário.

Para o advogado do Porto, Marcelo “é o representante da visão que nos levou a ser um país continuamente ultrapassado por todos os países europeus, e que nos faz ser o país mais pobre da Europa”. É aqui que encontra as principais diferenças entre si e o recandidato, pois realça que tem uma “visão totalmente diferente, a visão liberal e a visão que tem demonstrado lá fora que traz prosperidade e desenvolvimento”.

Segundo Mayan, a sua candidatura situa-se do lado oposto à do atual Presidente. “Eu sou um liberal, em termos individuais represento uma visão totalmente distinta do professor Marcelo Rebelo de Sousa”, destaca ao ZAP.

“Uma constituição não deve ter carga ideológica”

Nas veias corre-lhe uma visão política liberal e, por isso, defende que a atual Constituição deveria ser revista, uma vez que “ainda tem uma carga ideológica muito grande, nomeadamente em aspetos relativos à planificação económica e social, o rumo ao socialismo, não deve lá estar. Uma constituição não deve ter carga ideológica, não deve ter opções ideológicas sobre o rumo do país”.

Assim, sugere “alguns ajustes também quanto à defesa mais robusta dos direitos de liberdades e garantias”. Contudo, admite que este cenário está longe, pois para que a Constituição fosse revista seria necessário uma votação no parlamento, em que pelo menos dois terços dos deputados votassem a favor.

Mayan considera que “isso não vai acontecer num futuro previsível, não é possível pensar que vai haver revisão constitucional, a não ser talvez em assuntos muitos concretos como por exemplo esta questão das eleições presidenciais que temos vindo a discutir, ou aspetos muitos cirúrgicos”.

Ainda assim, deixa claro que “não é esta constituição que nos impede de tomar um rumo mais liberal para o país, não é esta constituição que nos impede de respeitar as liberdades e garantias, ela até as garante na verdade, portanto nós não estamos impedidos de tomar um rumo diferente. Esta constituição permite-o e eu enquanto presidente iria pugnar por isso”.

Com uma visão pragmática da política, Tiago Mayan considera que “todas as visões extremistas representam uma visão totalitária e não liberal”, por isso posiciona-se do outro lado da moeda e diz ser “totalmente contrário a isso, em ambos os extremos”.

Numa altura em que André Ventura se posiciona bem classificado, pelo menos no que diz respeito às sondagens presidenciais, o liberal não se deixa abalar e acredita que no futuro tem potencial para conseguir contribuir para travar os avanços da extrema-direita.

Mayan pretende fazê-lo “olhos nos olhos”, pois acredita pertencer a um partido “com conteúdo”.

No debate entre o liberal e o líder do Chega, Tiago Mayan chamou André Ventura de “troca-tintas, xenófobo e racista, lembrando que “mandou uma deputada negra para a sua terra” (referindo-se a Joacine Katar Moreira) e que quis “confinar uma maioria” da etnia cigana.

Neste sentido, reforça que o que vê “é a defesa do ódio, da separação das pessoas em grupos, ou em classes, e o contínuo esvaziamento de propostas com valor”, afirma, garantindo que, juntamente com outros políticos com ideologias semelhantes à sua, será capaz de dar a volta a esta tendência.

“Mais tempo” poderia ser a chave de ouro

Numa altura de pandemia, muito se tem falado sobre a possibilidade dos níveis de abstenção alcançarem um novo recorde. E Tiago Mayan acredita que isso irá mesmo acontecer.

“Isso preocupa-me, mas estamos num ponto de não retorno nestas eleições, o governo, por absoluta incompetência, por absoluta incapacidade de previsão e preparação, trouxe-nos a um ponto de não retorno”.

O candidato disse ainda que as eleições presidenciais deveriam ter sido melhor planeadas e considera que não era necessário “um adiamento”, até porque existiam “muitas soluções como ampliar a capacidade de voto, como implementar o voto por correspondência para todos os eleitores, repensar o voto online, pensar em estender por mais dias as votações, ou flexibilizar os votos dos emigrantes”.

Questionado sobre quem seria o candidato mais prejudicado com este cenário, o advogado inclina-se a responder que será ele próprio, uma vez que é “o candidato que objetivamente era o menos conhecido”.

Neste contexto, volta a levantar a questão do adiamento das eleições presidenciais e assume que “se calhar se as eleições fossem adiadas seria bom para mim”, reiterando que desta forma poderia ter mais tempo de campanha.

Ainda assim, sublinha que “não tenho de pensar em mim, tenho de pensar no país, nas circunstâncias que temos, tenho de pensar na constituição e tenho de a respeitar”.

Ana Moura, Maria Campos / ZAP //

14 Comments

  1. Tiago Mayan é sem dúvida um bom candidato e tem pernas para andar na política. Foi o melhor candidato a estas eleições, pela forma clara e objectiva como abordou as variadas temáticas. Respeitoso mas acutilante, conseguiu elaborar um discurso profundo, em completo contraste com os restantes candidatos.
    Quanto às criticas a Marcelo, temos de reconhecer que foram bem apontadas e acima de tudo, justas e verdadeiras. Ter medo de mudar está nos genes de muitos portugueses. Mas mudar, pode ser uma coisa boa, porque rompe com estereótipos, com acomodações e conivências dentro de um Estado que pode e deve ser mais justo.
    De facto Marcelo, pode passar a imagem daquele presidente simpático, populista e boa pessoa, mas não engana quem, mais atento, repara nos pormenores da sua presidência.
    Seja como for e ganhe quem ganhar, uma coisa tem de acontecer: os políticos portugueses vão ter mesmo de mudar. Portugal é o país mais pobre da Europa. Os senhores governantes não Têm vergonha quando se apresentam de mão estendida na União Europeia? Eu tinha.

    • E não tens vergonha de espalhar mentiras?
      Portugal nem é, nem de perto, o país mais pobre da Europa!!
      Só alguém muito ignorante para dizer um disparate destes…
      .
      O Mayan parece ser boa pessoa, mas confia demais nos “mercados” e na auto-regulação…

  2. A Iniciativa Liberal é uma pedrada no charco desta nossa política podre e cheia de vícios.
    Espero que não se pervertam, que mantenham o foco, a retidão e os ideais.
    Portugal será um país melhor!

  3. Os portugueses têm sido sempre governados pelos mesmos. Nunca estamos bem e o estado normal do País é a crise. Parece que “temos” medo de experimentar coisas novas mesmo que as velhas já tenham demonstrado, à exaustão, que são um rotundo falhanço. Há que mudar para uma política diferente, moderna e liberal. Olhe-se para o Luxemburgo, por exemplo!…

  4. Pois eu vou ser franco, o meu voto ia para o Marcelo mas já não vai porque tenho acompanhado mais os discursos deste Tiago Mayan e como não sou de partidos, tanto voto num como no outro ( comunismo não) já decidi vai ser nele que voto, Pessoa nova 43 anos bem formado sensato e mais importante durante a campanha ele fala do que queremos saber e o que faz se for eleito, têm postura, personalidade e sabe o que diz do que está a falar! e não é como os outros que só falam mal uns dos outros e do que fariam se…. nada. Apoiado Tiago Mayan precisamos dessa juventude a conduzir-nos porque esta velhada já não mudam de visão e eu compreendo pois já tenho 53 anos.

  5. Bom candidato, não tem receio de falar sobre as questões essenciais para o país , tem postura, personalidade e convicção de ideias, frontal, sensato e sabe do que está a falar revelando segurança nas suas intervenções. Por exemplo não se intimidou com Marcelo e confrontou-o em questões importantes, para mim uma excelente revelação.

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