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Desconfinamento foi feito com “um excesso de otimismo”, diz bastonário dos médicos

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José Coelho / Lusa

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, alertou na terça-feira para o perigo que pode significar a conjugação da gripe sazonal com uma segunda vaga da pandemia, e criticou o “excesso de optimismo” no desconfinamento, que está a ter consequências nos elevados números da doença na Área Metropolitana de Lisboa.

“O inverno tem de ser programado já e com muita cautela. Não sabemos se vamos ter ou não uma segunda onda da pandemia, mas de certeza que vamos ter a gripe sazonal. Sabemos também que durante esse período os hospitais ficam com os serviços de urgência bloqueados, assim como os próprios internamentos, e perante este cenário, a que se junta a covid-19, temos de preparar antecipadamente o que vai ser feito”, defendeu Miguel Guimarães em visita ao Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa, em Lisboa.

Crítico do “otimismo exagerado” com que foi feito o desconfinamento, apontou “falhas de comunicação” e disse que há problemas que tardam em ser resolvidos, enumerando a questão dos transportes ou dos horários desfasados nos locais de trabalho, segundo noticiou a agência Lusa.

“É obrigatório que as empresas e o próprio Estado se organizem para os horários serem diferentes e não estarmos todos à mesma hora no mesmo sítio. É importante dizer às pessoas que a pandemia ainda não acabou (…). Se estivermos a pensar em futebol, e a discutir se vamos ou não ter adeptos, não ajuda. E digo: espero que não tenhamos, sobretudo na Liga dos Campeões”, advertiu.

Sobre a situação pandémica em Lisboa, voltou a apontar o dedo ao Governo e às autoridades de saúde, a quem pede que tenham capacidade de antecipação.

“O que está a correr mal em Lisboa é a comunicação e a antecipação, porque é assim que se luta contra um vírus. A fase de desconfinamento foi feita com muito otimismo, um excesso de otimismo. A mensagem foi de que estava tudo bem quando não estava, e isso dá às pessoas uma outra liberdade na sua obrigação de proteção e individual e coletiva”, resumiu, lembrando que quanto mais cedo for controlada a questão sanitária, “mais rapidamente a economia pode começar a crescer”.

Ainda sobre a possibilidade de uma segunda vaga pandémica, sublinhou, ainda assim, que Portugal está melhor preparado para essa eventualidade do que outros países europeus.

“A nossa taxa de mortalidade é o melhor indicador que temos quando comparado com o resto da Europa, o que é extremamente positivo e nos deve encher de orgulho. Estamos melhor preparados, mas temos de trabalhar para colmatar as deficiências que existem. É aí que a Direção-Geral da Saúde deve trabalhar”, apelou.

Sobre a capacidade de testagem ao vírus em Portugal, disse que o país tem ido ao encontro das recomendações da Organização Mundial da Saúde de “testar mais e mais”, deixando uma palavra de agradecimento aos privados.

“O sector privado nesta área teve uma colaboração muito estreita com o Serviço Nacional de Saúde. Se não fossem os testes do privado, que neste momento significam 50% do total, teríamos muito mais dificuldades. Aos médicos de patologia clínica tenho de deixar um elogio e agradecimento no combate à pandemia, em que fizeram um trabalho extraordinário”, concluiu.

Portugal contabiliza 1.629 mortos associados à covid-19 em 44.416 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde.

// Lusa

2 Comments

  1. Depois do jogo todos acertam no resultado, perguntar não ofende a O.M. é uma ordem profissional ou sindical?É que de há muito tempo para cá que vejo as Ordens Profissionais agirem como se fossem sindicatos

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