Costa abraça PS, alerta para “fiasco” do PSD e acusa: Marcelo errou

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José Coelho / Lusa

O primeiro-ministro António Costa

PSD não é solução estável aos olhos do primeiro-ministro em gestão, que recordou a “barafunda” que foram os “arranjos” à direita nos Açores. Afasta teorias de conspiração e confessa que “factos novos” levariam inevitavelmente à sua demissão. Marcelo fez “avaliação errada” ao dissolver o parlamento.

No primeiro dia útil como primeiro-ministro em gestão, António Costa abordou a polémica relativa à sua demissão, afirmando que não lhe restava outra opção após a Procuradora-Geral da República oficializar uma suspeição contra si, depois de na sexta-feira o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter formalmente demitido o seu Governo.

Apesar de reforçar estar de “consciência absolutamente tranquila”, de declarar confiança na Justiça e de acreditar que “isto tudo acabará ou numa não acusação ou com o arquivamento ou, no limite, com uma absolvição”, Costa admite no entanto, em entrevista à TVI/CNN Portugal que, afinal, o famoso parágrafo “assassino” da Procuradoria-Geral da República (PGR) não foi assim tão “determinante” para a sua demissão, como havia considerado.

Costa admite que o dinheiro encontrado no gabinete de Vítor Escária podia ter levado ao mesmo fecho.

“Houve factos novos que podiam ter contribuído seriamente para que tivesse tomado a decisão independentemente do comunicado”, disse, confirmando que um desses factos seria os 75 mil euros escondidos, em numerário, pelo seu chefe de gabinete na residência oficial de António Costa, em São Bento.

“Esse é um facto que só é conhecido no dia seguinte. Poder-me-ia ter levado a tomar esta decisão”, frisou.

“Aquele parágrafo é acrescentado claramente àquele comunicado para dar notícia pública de que há uma suspeita sobre o primeiro-ministro que está a ser investigado. Eu não sei qual é a suspeita”, reforça.

Marcelo errou ao dissolver o parlamento

Mas na opinião de Costa, Marcelo errou ao dissolver o parlamento.

“Acho que o Presidente da República fez uma avaliação errada e só espero que as eleições resultem numa situação mais estável do que a que temos atualmente”, atirou.

Perante a Operação Influencer, Costa considerou que Marcelo “tinha tido todas as condições para encontrar uma solução alternativa que poupasse o país a esta crise” política.

“Não conheço nenhum constitucionalista que valide que seja motivo de dissolução do parlamento o facto de o primeiro-ministro apresentar a sua demissão. As eleições não são plebiscito ao Presidente da República”, lembrou, avisando que “somos julgados pelas nossas decisões.”

“Tenho a certeza absoluta que quem nos está a ouvir em casa ninguém deseja ir para eleições. A última coisa que os portugueses pensam e desejam é irmos para eleições. Não há uma vaga de fundo no sentido da mudança. As pessoas estão tristes. Foram anos muito duros, muito difíceis”, sustentou.

Cuidado com a “barafunda” do PSD, avisa

E os ataques não se limitam a Marcelo. Os “arranjos” à direita? “Deu no que deu” nos Açores.

António Costa aproveitou para deixar um aviso sobre uma eventual “barafunda” governativa caso o PSD venha a governar, usando como exemplo o caso açoriano.

“Não queremos imaginar sair de março com uma barafunda idêntica à dos Açores”, disse: “foi um fiasco”.

O PSD fez um acordo com a IL e com o Chega nos Açores que mais tarde ruiu, levando a eleições antecipadas.

“Foi um ensaio geral do que o PSD pretende fazer a nível nacional”, disparou. “A única solução estável tem de ter por base o PS”, avisa.

Aeroporto é “teste de credibilidade” do PSD

O Novo Aeroporto surge na conversa como um problema associado ao PSD, um “teste de credibilidade” para se saber se os social-democratas respeitam, ou não, o acordo celebrado com o Governo em relação à localização.

“Se o PSD não honrar o compromisso, eu diria que [o meu maior arrependimento nestes oito anos de governação] foi ter confiado em trabalharmos em conjunto para ter uma decisão de consenso para uma infraestrutura fundamental para o país como é o novo aeroporto.”

Costa espera que o PSD “não o desiluda” na forma como lida com a nova localização — considera-o um “teste de credibilidade” do partido que lhe “tirou o tapete” na solução Portela+Montijo.

O líder social-democrata, Luís Montenegro, anunciou a criação de um grupo de trabalho no PSD para analisar o relatório da CTI, que considera que Alcochete e Vendas Novas são as soluções viáveis para o novo aeroporto e que numa primeira fase a solução escolhida deve coexistir com a Portela.

A decisão é mal encarada por Costa, que lembra que o PSD já aceitou “uma solução em Alcochete durante o Governo Sócrates”, depois decidiu “não haver aeroporto nenhum”, mais tarde escolheu o Montijo.

“Não me arrependo de nada e tenho esperança que o PSD não me desiluda”, confessou Costa.

Os ataques à oposição não se ficam por aqui. Apesar de se demarcar de preferências em relação ao próximo secretário-geral do Partido Socialista, Costa acredita que qualquer um dos dois grandes candidatos do PS serve muito melhor o cargo do que o Luís Montenegro.

“Temos felizmente dois candidatos à liderança do PS, sou neutro nessa escolha, mas qualquer um deles tem muito mais experiência e competência e assegura muito melhores qualidades de governação do que o líder da oposição”, ataca.

“Estranho” caso Galamba e o caso das gémeas

Sobre a longa investigação de quatro anos em redor de João Galamba, Costa apenas defende que foi “excelente” nas suas funções como secretário de Estado da Energia e como ministro das Infraestruturas.

“Se a Justiça tem alguma coisa contra João Galamba, então que investigue, que prove”, disse. “Se é estranho? Aparenta ser”, esclareceu.

Perguntado, já no final, sobre Lacerda Machado, um dos arguidos na operação que levou à sua demissão, Costa admite que já falou com o seu amigo ao telefone depois dos acontecimentos.

Questionado sobre o caso das gémeas, afasta teorias da conspiração e não lhe “passa pela cabeça que não seja uma coincidência” o facto de a investigação surgir apenas quatro dias depois da Operação Influencer.

Sobre o caso que envolve o Presidente da República, lembra que o que fez é o “circuito normal”, uma vez que “por semana há dezenas de cartas que vêm do Presidente da República para o gabinete do primeiro-ministro”.

“Fui ver agora o que é que se tinha passado. De facto, chegou um ofício da Presidência da República e foi reencaminhado para o Ministério da Saúde um conjunto de seis ofícios, um relativo àquele caso e cinco relativos a outros casos”, adiantou.

Futuro? “É uma boa questão”

António Costa admite que ainda não pensou no que vai fazer, mas reafirma que não vai exercer cargos públicos enquanto estiver sob suspeita, apesar de garantir que tenciona continuar a fazer política.

Tenciono ter opiniões, escrever para jornais…”, disse, excluindo no entanto a hipótese de ser comentador devido ao facto de ter sido primeiro-ministro.

Recorda ainda o pior dia como primeiro-ministro: o desastre de Pedrogão Grande, cujo sentimento de impotência foi, para si, “pior” que a covid.

Tomás Guimarães, ZAP //

7 Comments

  1. Como é possível um PM que governou o País durante quase 8 anos, não fez uma reforma, deixou o caos no SNS com milhares de utentes sem médico de família, alunos sem professores, hospitais com serviços encerrados por falta de condições (médicos, enfermeiros e material), aumento de pobreza, problemas graves na habitação, ainda tem o descaramento de vir para a Comunicação Social armar-se em vitima e fazer crer que a culpa é do PR!

  2. Carlos Mota, ele quis foi sair em bom tempo quando viu que estava a levar o Pais para a Ruina , e aproveitou este escândalo para poder sair e alguns falarem bem dele, pois ele sabe bem que o Governo dele é só corruptos era caso atras de caso

  3. Cada vez está mais roto este gajo. Deixa o país de pantanas e tem a falta de vergonha de vir vender um país de maravilhas. Deixa os portugueses em sofrimento e o país na cauda da Europa.

  4. Este senhor tem uma personalidade perigosa!
    Deixou a educação, a saúde, a justiça e toda uma nação revoltada e asfixiada. Já vai tarde.

  5. Totalmente de acordo, alem disso o melhor ainda está para vir , a maior parte da população continua a votar neste tipo de pessoas.

  6. Desde o início do mandato com maioria, maioria que ele António Costa não acreditou que conseguia, mas o povo deu em prol de estabilidade. António Costa sabia que seria governo de 2 anos, como Durão Barroso fez em 2012. Rodeou-se de artistas e caiu, mas caiu porque ele quer ser politico europeu, isto é o melhor dos nossos políticos (fracos políticos) Venha de lá a MÉRITOCRACIA quem é realmente bom e presta um bom serviço ao país tem de ser reconhecido, basta de pessoas com QI pequeno, Portugal tem de ser capaz de reconhecer e captar os crânios que saem das universidades e dar-lhes o devido lugar nos fatores decisivos nos destinos de Portugal se queremos voltar a ser grandes, isto é estratégico, António Costa deu o seu melhor.?? Se calhar até deu, os tempos mudaram, se calhar devemos fazer uma estruturação e renovar com gente capaz de inovar, tendo a capacidade de conciliar a democracia com a sustentabilidade. O PS é Democracia sem sustentabilidade. Um jardim pode ser bonito de se ver, o jardineiro se não cortar, aparar e limpar as ervas daninhas, bem, toda a gente sabe o que acontece.

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