O ataque a tiros e facadas, cometido por palestinianos nesta terça-feira na sinagoga de Har Nof, é o mais grave de uma série de incidentes de caráter religioso ocorridos em Jerusalém nas últimas semanas.
As vítimas do ataque são quatro rabinos, que foram assassinados durante a oração matinal, num bairro ultraortodoxo. Outras sete pessoas ficaram feridas, e os autores do atentado – dois palestinianos de Jerusalém Oriental – foram mortos pela polícia.
Esta nova onda de violência começou no início de novembro, em meio a uma campanha movida por políticos da extrema-direita israelita em prol do “direito à oração de judeus” num local sensível aos muçulmanos, dentro da Cidade Velha.
Como parte da campanha, alguns políticos e ativistas israelitas entraram na Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar sagrado para a religião islâmica, despertando a fúria dos fiéis palestinianos que temem a concretização de promessas de “construir o Terceiro Templo no Monte do Templo”, no lugar das Mesquitas de El Aqsa e do Domo da Rocha.
No dia 5 de novembro, polícias israelitas entraram na própria Mesquita de El Aqsa à procura de jovens que tinham atirado pedras, gerando uma escalada da tensão em Jerusalém e duros protestos por parte da Jordânia, que convocou o seu embaixador em Israel para consultas.
Do ponto de vista da religião islâmica, a entrada de polícias de botas na área da Mesquita foi considerada uma “profanação” do santuário, já que a tradição proíbe que pessoas entrem calçadas no local sagrado.
Provocações
O presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, acusou Israel de fazer “provocações” religiosas e de “profanar” a mesquita. “As provocações de Israel podem levar o conflito a uma guerra religiosa”, advertiu Abbas.
Em resposta, o chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, acusou o presidente palestiniano de “incitamento antissemita”.
No mesmo dia da entrada na mesquita pelos polícias, um palestiniano atropelou israelitas que estavam numa estação de comboios, matando duas pessoas e ferindo mais oito.
A esse atentado seguiram-se outros ataques, nos quais palestinianos utilizaram carros e facas como armas contra israelitas nas cidades de Jerusalém e Tel Aviv e também na Cisjordânia.
Essa nova onda de violência, que teve como catalizador sas tensões envolvendo a Esplanada das Mesquitas, já deixou 10 mortos do lado israelita e 14 do lado palestiniano, incluindo os autores dos ataques.
“Amplia-se o componente religioso no conflito com os palestinianos”, afirmou o analista Amos Harel, num artigo no jornal Haaretz. “A nova onda de terror começa a assumir características de uma guerra religiosa”.
“É bem provável que o alvo do grave atentado desta terça – a sinagoga do bairro de Har Nof – não tenha sido escolhido por acaso. Trata-se de um alvo explicitamente religioso, no contexto de um confronto religioso. É quase desnecessário explicar o quão perigosa é essa motivação”, prosseguiu Harel.
O autarca de Jerusalém, Nir Barkat, pediu à população para manter a calma e advertiu sobre o perigo de possíveis represálias por parte de israelitas contra palestinianos. “Não tentem fazer justiça com as próprias mãos”, afirmou.
O ministro da Segurança Interna, Itzhak Aharonovitz, que coordena a Polícia, prometeu medidas duras “contra os terroristas, as seus chefes e as suas famílias”.
Aharonovitz também defendeu a diminuição das restrições ao porte da armas “para que haja mais mãos (a atirar) contra terroristas que decidam cometer atentados”.
Reações
O ataque desta terça-feira foi reivindicado pelo grupo nacionalista palestiniano Brigadas de Abu Ali Mustafa, braço militar da Frente Popular pela Libertação da Palestina, que também esteve por trás de atentados anteriores.
O presidente palestiniano, Abbas, emitiu um comunicado a condenar “o ataque de judeus no seu local de oração e a morte de civis”.
Na Faixa de Gaza, em contrapartida, o ataque foi comemorado, e o grupo radical Hamas, que administra a região, disse que tratou-se de uma vingança pela morte de um motorista de autocarro palestiniano encontrado enforcado dentro de um veículo em Jerusalém na segunda-feira. A polícia israelita tinha considerado o caso um suicídio.
ZAP / BBC
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