O segundo debate entre os candidatos às eleições primárias socialistas, esta quarta-feira, conheceu vários momentos de tensão e de confronto direto entre António José Seguro e António Costa, sobretudo em torno da dívida e das autarquias.
Ao contrário do que aconteceu no primeiro debate, o presidente da Câmara de Lisboa entru no debate ao ataque, acusando o secretário-geral do PS de procurar apropriar-se de propostas que fazem parte dos programas do partido há vários anos.
António Costa deu como exemplo o facto “de 76 das 80 medidas” do Contrato de Confiança apresentado pela direção de Seguro em maio passado serem uma consequência dos últimos programas eleitorais do PS.
António José Seguro reagiu de imediato: “Não apouques o trabalho de milhares de militantes e de simpatizantes” ao longo de mais de dois anos.
O debate endureceu quando os dois candidatos abordaram o problema do peso da dívida do Estado, com o autarca de Lisboa a acusar Seguro de ter gasto mais energia a demarcar-se dos anteriores governos socialistas do que a fazer oposição ao atual.
António José Seguro respondeu que não enjeita nenhum passado do PS, mas que também não trazia nenhum passado de volta, e disse não compreender como é que Costa, “um candidato que quer ser candidato a primeiro-ministro”, considera que a dívida não é um ponto da maior relevância.
Para o autarca de Lisboa, a posição do secretário-geral do PS “assume a explicação que a direita deu sobre a crise por razões puramente internas” e para se demarcar de parte do partido.
“Com isso, Seguro acabou por ficar prisioneiro da própria agenda da direita”, sustentou o dirigente socialista e ex-ministro de José Sócrates.
Seguro interrompeu então Costa para lhe dizer, tal como fizera no debate de terça-feira, que o autarca defendera publicamente a abstenção no Orçamento para 2012.
O presidente da Câmara de Lisboa negou, convidando todos para reverem a sua posição sobre o Orçamento para 2012 no “Youtube”, e a acusar o secretário-geral do PS de estar a “falsear a verdade”.
“Só te desqualificas dizendo isso. Tenho-te ouvido com evangélica paciência”, desabafou Costa, com o líder socialista a contrapor: “Tens de ser rigoroso. Isso é um gesto de arrogância que te fica mal”.
O debate voltou a aquecer quando Costa acusou a direção de Seguro de não se ter envolvido na reforma administrativa do Poder Local, o que, na sua opinião, deixou o Governo sozinho para tomar as medidas que entendia.
“Estás a repetir o argumento do Governo. Fica-te mal. Não é verdade”, reagiu o secretário-geral do PS, contrapondo que foi o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, quem desrespeitou o compromisso de procurar fazer essa reforma como os socialistas.
Costa continuou ao ataque: “Tens falado muito de cor, com muito daquilo que te escrevem as agências de comunicação e com muito pouco de estruturado”.
“Durante três anos liderei o nosso partido, afirmando um projeto, que foi construído a partir do terreno, falando com as pessoas. Não estive à janela do Município à espera de ver qual era a melhor oportunidade”,
A frase levou o presidente da Câmara de Lisboa a considerar que Seguro ofendera os autarcas.
“Acha que os autarcas estão à janela? Os autarcas andam com os pés na terra, andam no terreno junto das populações. Essa altivez com que te referes aos autarcas não te fica bem”, atirou Costa.
“Não manipules”, contrapôs Seguro.
Frases chave
“Das 80 medidas de Seguro só 6 propostas e meia é que não constavam do Contrato de Confiança de Sócrates”
António Costa
“O António José Seguro tende a ter a visão de que tudo começou com ele”
António Costa
“Essa é a argumentação do Governo português, por isso estou surpreendido”
António José Seguro
“Não falseies a verdade”
António Costa
“Não estive à janela do município à espera de ver qual era a melhor oportunidade”
António José Seguro
“Só te desqualificas dizendo isso”
António Costa
“Tens de ser rigoroso. Isso é um gesto de arrogância que te fica mal”
António José Seguro
As eleições primárias do PS decorrem no dia 28 de setembro.
ZAP / Lusa
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