Robles Casas & Campos

“Retrato de uma dama”, de Vittore Ghislandi, exposto na parede da sala de um chalé posto à venda na Argentina
As autoridades argentinas recuperaram uma pintura do século XVIII, roubada pelos nazis a um negociante de arte judeu em Amesterdão, depois de a obra ter sido identificada por acaso num anúncio de venda de uma propriedade. A filha do comandante nazi que a saqueou está em prisão domiciliária.
A pintura “Retrato de uma dama“, que tinha sido vista no anúncio de um imóvel na Argentina e desaparecido novamente, foi entregue às autoridades argentinas por Patricia Kadgien, filha do falecido comandante nazi Friedrich Kadgien.
Segundo o The Guardian, Patricia Kadgien encontra-se em prisão domiciliária, juntamente com o marido, Juan Carlos Cortegoso, desde terça-feira.
A pintura, que há muito se encontrava desaparecida, é uma obra do mestre italiano Vittore Ghislandi. Pertencia à coleção de Jacques Goudstikker, negociante de arte judeu de Amesterdão, e foi saqueada durante a Segunda Guerra Mundial.
Na quinta-feira, as autoridades argentinas confirmaram estar a investigar Patricia Kadgien e o marido, diz o The Jerusalem Post.
A obra será mantida na Argentina enquanto decorrem os trâmites para uma eventual restituição aos Países Baixos ou aos herdeiros do proprietário original, informaram os procuradores em audiência pública.
Segundo as autoridades, o casal está a ser investigado por ocultação agravada. Foram realizadas buscas em várias propriedades ligadas a Kadgien e Cortegoso na tentativa de localizar outras obras desaparecidas.
A procura pelo quadro intensificou-se depois de ter sido avistado numa fotografia de um anúncio imobiliário relativo a um chalé em Mar del Plata, propriedade de Patricia Kadgien.
Um juiz argentino determinou a prisão domiciliária do casal, que está também proibido de viajar e foi obrigado a entregar os passaportes. O magistrado impôs ainda restrições à circulação dos dois suspeitos, impedindo-os de se ausentarem de casa por mais de 24 horas sem autorização judicial.
De acordo com a acusação, o casal tentou obstruir a investigação, por ter retirado o anúncio imobiliário da internet, removido a placa de “vende-se” do chalé e substituído o quadro por uma tapeçaria antes da rusga policial.
O advogado de defesa, Carlos Murias, rejeitou as acusações de ocultação, garantindo que os seus clientes colaboraram sempre e estavam dispostos a entregar o quadro.
Negou igualmente as alegações de obstrução, sublinhando que o processo civil tinha como único objetivo determinar a propriedade da obra, não escondê-la.
Murias classificou a proibição de viagens durante 180 dias como “excessiva”, mas aceitou a medida. Concordou ainda que o quadro fosse transferido para o Museu do Holocausto, para guarda temporária.
Durante as buscas, foram apreendidas gravuras, estampas, desenhos e duas pinturas do século XIX. Caso se confirme que estas obras também foram saqueadas, o casal poderá enfrentar novas acusações.
Considerado o mais importante especialista financeiro de Adolf Hitler, o pai de Patrícia, Friedrich Gustav Kadgien, foi um dos nazis mais procurados pelos Aliados após a Segunda Guerra Mundial. Antes de fugir para a Argentina, viveu na Suíça, onde se tornou especialista em lavagem de dinheiro, com operações em Buenos Aires e no Rio de Janeiro.