A sessão do julgamento de Pedro Dias, conhecido como o homicida de Aguiar da Beira, foi marcada, nesta terça-feira, pela emoção, perante os relatos das mães do casal Liliane e Luís Pinto, alegadamente mortos pelo arguido.
Um dos momentos mais intensos da sessão do julgamento que decorre no Tribunal Judicial da Comarca da Guarda aconteceu quando a mãe de Liliane Pinto, a mulher que passou seis meses em coma depois de ter sido, alegadamente, baleada por Pedro Dias, acabando por falecer, se cruzou com o arguido.
Maria de Fátima fez questão de enfrentar com o olhar o homem que é suspeito de ter morto a sua filha. E “pela primeira vez, o homicida de Aguiar da Beira mostrou uma reação: corou intensamente“, relata o jornal Correio da Manhã.
Durante os seus depoimentos, em tribunal, as mães de Liliane e Luís Pinto comoveram até o colectivo de juízes, conta a SIC. “Espero que todas os pais sejam felizes porque eu também fui”, disse a mãe de Luís, Virgínia Pinto, em tribunal.
“Ele [Luís Pinto] era o meu braço direito. [A Liliane] era uma filha, não era de sangue mas era de coração. Eu era feliz, agora já não sou“, disse ainda, citada pelo Observador.
À saída do tribunal, o advogado das famílias de Liliane e Luís Pinto, João Paulo Matias, salientou que Pedro Dias deve receber uma “pena exemplar”, ou seja, a “pena máxima”, “25 anos de prisão efectiva”, reporta ainda o jornal online.
“O Pedro não mata um animal”
No mesmo dia, foi ouvida a ex-namorada do arguido, Ana Cristina Laurentino, que recordou o encontro que teve com Pedro Dias no dia dos homicídios. Estava a caminho da escola onde trabalhava, quando um carro lhe fez sinais de luzes para encostar.
“Estava calmíssimo”, contou em tribunal, acrescentando que o arguido lhe pediu “o favor” de ir até Vila Chã buscar uma carrinha. “Caso alguém pergunte por mim, se não te incomodar, diz que tivemos uma escorregadela e que passámos a noite juntos“.
Quando foi contactada pela GNR, disse aquilo que o ex-namorado lhe tinha pedido, admitindo que ficou “nervosa e muito desconfiada”. Só quando lhe foi explicado o que estava em causa, decidiu contou a verdade.
Relativamente à personalidade do arguido, Ana Cristina conta que, durante a relação, tinha alterações súbitas de humor e que houve duas situações em que a agrediu. “Era bruto e agressivo como tão depressa me pedia desculpa”. Porém, acredita que não era capaz de matar: “O Pedro não mata um animal, respeita muito a natureza e os seres vivos”.
“Levei um tiro na cabeça, o Caetano está morto”
Esta quarta-feira, o militar da GNR Carlos Santos, que abriu a porta de sua casa ao colega depois de ter sido baleado, foi o primeiro a prestar depoimento no Tribunal da Guarda.
“Quando abri a porta, dei com o camarada. Não o reconheci logo. Ele disse-me: ‘Santos, levei um tiro na cabeça, o Caetano está morto, ajuda-me'”, cita o Observador.
Vinha “com o casaco na mão, trazia o polo enrolado à cabeça e vinha com a cara de um lado completamente inchada”. “Nem o olho conseguia abrir e cuspia sangue da boca. Quando levantou a camisola, vi que tinha o peito todo esfolado”, acrescentou.
Foi nessa altura que chamou os bombeiros e ligou para o 112, bem como “para o comandante de posto” para pedir um carro que fosse à procura do outro militar da GNR. “Ele tinha uma arma, fiz tudo o que ele mandava, não pude fazer nada”, dizia o sobrevivente enquanto isto acontecia.
Quando Ferreira acabou por ser levado por uma ambulância para o hospital, Carlos Santos, descreve o jornal online, pegou no seu carro e foi “para o sítio do mato que ele indicava”. Entretanto, foi avisado que o veículo já tinha sido localizado e, quando chegou ao local, estavam dois colegas GNR que lhe confirmaram que o corpo estava na bagageira.
Posteriormente, juntamente com os colegas, percorreu os locais onde tinham ocorrido os crimes, nomeadamente ao sítio onde Ferreira terá sido baleado. “Encontrámos uma poça de sangue, do lado de baixo do pinheiro. Mais para dentro do mato, havia outra mancha de sangue e ramagens partidas”, recorda.
O cabo da GNR percorreu ainda o trajeto que Ferreira terá feito até sua casa graças às “pingas de sangue” que encontrou na mata e que lhe indicam que “terá andado perdido”.
Na primeira sessão de julgamento, na passada sexta-feira, testemunhou o militar da GNR que sobreviveu, depois de alegadamente ter recebido um tiro desferido por Pedro Dias. “Pensei que ia morrer”, confessou António Ferreira, que só prestou declarações depois de pedir para o arguido sair da sala.
Pedro Dias é acusado de cinco crimes de homicídio, três consumados e dois na forma tentada. Também responde por crimes de sequestro, de roubo e de detenção de arma proibida.
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