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“Pensei que ia morrer”. Começou o julgamento de Pedro Dias

Paulo Novais / Lusa

Pedro Dias, suspeito de um duplo homicídio em Aguiar da Beira

Pedro Dias, suspeito de ter cometido três homicídios em Aguiar da Beira, em outubro de 2016, e também acusado de múltiplos outros crimes, começa esta sexta-feira a ser julgado no Tribunal da Guarda.

A primeira das 24 sessões que já se encontram agendadas teve início às 09h30, no Tribunal da Guarda, que requisitou medidas adicionais de segurança.

À entrada do tribunal, a advogada de Pedro Dias, Mónica Quintela, disse aos jornalistas que o cliente “irá falar durante o julgamento”. “É muito importante que o arguido assista ao julgamento do início ao fim”, cita o Diário de Notícias.

“O que se pretende com este julgamento é que se esclareça o que se passou naquela noite. Que seja feito um julgamento dentro de um Estado de Direito, de um arguido que vai ser submetido ao julgamento com todas as regras”, disse ainda a advogada.

No entanto, de acordo com o Observador, já na sala de audiências do Tribunal da Guarda, o suspeito identificou-se a pedido do magistrado e acabou por dizer que, “de momento”, não vai prestar declarações.

Seguiu-se então o depoimento do guarda António Ferreira, a testemunha chave do processo, que pediu para que “Piloto”, como foi batizado pela imprensa, saísse da sala, uma vez que não consegue falar na sua presença. O juiz aceitou e Pedro Dias foi levado para outro espaço onde pode assistir ao depoimento por videoconferência.

GNR que sobreviveu conta o que aconteceu

De acordo com o jornal online, o GNR contou que foi ele quem passou a revista à carrinha Toyota onde o arguido se encontrava a dormir, sentado no lugar do condutor junto ao hotel da Termas. “O Caetano ficou do lado dele e eu bati no vidro no lado do pendura“.

O guarda conta que o colega foi ao carro patrulha com os documentos da viatura para apurar se havia “alguma pendência” e, quando voltou, já vinha com informações, obtidas via rádio, de que o arguido “era perigoso e estava referenciado pelo posto de Fornos de Algodres” e que podia estar armado.

António Ferreira prossegue: “Quando eu virei a cara, estava ele com a arma”, cita o Observador. “Se te mexeres, fodo-te os cornos”, terá dito Pedro Dias, que depois abriu fogo contra o guarda Caetano. “És burro? Não vês que ele está morto?”, acrescentou ainda, depois de o GNR sobrevivente ter começado a gritar pelo colega.

Foi então que foi obrigado a entrar no carro patrulha, para o lado do pendura, no qual foi mantido sob sequestro durante algum tempo. “Desaparece, leva o que quiseres, deixa-me ficar aqui ao pé dele [colega que foi baleado] para o socorrer”. “Queres morrer?”, terá respondido Pedro Dias.

Foi então que pararam num local ermo, onde foi obrigado a algemar-se num pinheiro. Acabou baleado e, quando estava a “perder os sentidos”, sentiu que estava a ser coberto com vegetação.

“Quando acordei já havia dia. Tinha sangue a escorrer na cara. Fiquei um bocado perdido. O sítio não me dizia nada. Caia e levantava-me. Pensei que ia morrer“, explica, citado pelo Correio da Manhã.

Ainda hoje, António Ferreira continua a correr risco de vida. Segundo o CM, tem uma bala alojada na coluna e não pode ser operado.

As acusações

Pedro Dias é acusado da prática de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.

Na altura em que foi marcada esta data para arranque do julgamento, ainda não figurava o crime de homicídio relativo a Liliane Pinto, que faleceu cerca de cinco meses depois de ter sido alvejada.

A defesa prescindiu então do prazo para abertura de instrução do processo relativo a esta vítima, por forma a conseguir juntá-lo ao processo principal, o que acabou por verificar-se.

O julgamento, que começou esta sexta-feira, conta com 76 testemunhas por parte da acusação, informou a advogada do arguido.

O arguido, de 44 anos, esteve fugido um mês depois da noite sangrenta em Aguiar da Beira, até se ter entregado às autoridades. Tem aguardado o julgamento em prisão preventiva, na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa.

ZAP // Lusa

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