O advogado da ex-mulher de José Sócrates disse que Sofia Fava, arguida na “Operação Marquês”, não foi confrontada com “dados novos” no interrogatório hoje conduzido pelo Ministério Público.
“Não foi confrontada com dados novos”, disse Paulo Sá e Cunha aos jornalistas à saída da audição, sublinhando não poder revelar mais nada sobre o interrogatório realizado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), em Lisboa.
O advogado escusou-se a precisar se o interrogatório, a escassos dois dias do prazo previsto para a conclusão do inquérito, foi pedido por Sofia Fava ou pelos procuradores que dirigem a investigação Operação Marquês.
Questionado sobre se concorda com a posição da defesa de José Sócrates de que o prazo para a conclusão do inquérito teria terminado à meia-noite de segunda-feira e não na próxima sexta-feira como anunciou a Procuradora-Geral da República, Paulo Sá e Cunha confessou que “não fez a contagem” dos 180 dias a mais que Joana Marques Vidal concedeu em setembro para a conclusão da investigação.
Porém, no seu entender, “o prazo não afeta minimamente a validade dos atos praticados no inquérito”, o que leva a concluir que discorda da posição feita pelos advogados do antigo primeiro-ministro.
Sofia Fava e o advogado entraram cerca das 10h30 e saíram cerca das 13h50. Entretanto, às 14h30 deu entrada no DCIAP o arguido Diogo Gaspar Ferreira, administrador de Vale de Lobo, acompanhado pelo advogado João Medeiros, tendo ambos recusado prestar declarações.
Sofia Fava está indiciada na Operação Marquês pelos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais relacionados com a aquisição de um monte em Montemor-o-Novo, em que a garantia bancária, no valor de 760 mil euros, foi dada pelo empresário Carlos Santos Silva, amigo de longa data de José Sócrates, e que é apontado pelos investigadores como sendo o ‘testa de ferro’ e o fiel depositário dos subornos alegadamente pagos ao antigo líder do PS.
Na investigação, Sofia Fava é ainda suspeita de ter simulado um contrato de prestação de serviços com uma empresa de Carlos Santos Silva, por forma a auferir mensalmente cerca de cinco mil euros, que os investigadores entendem que na prática se tratava de dinheiro que o ex-primeiro-ministro canalizava para a ex-mulher através do empresário seu amigo, para amortizar as prestações mensais pela compra do monte no Alentejo.
José Sócrates está indiciado por corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, num processo que investiga crimes económico-financeiros e que tem 25 arguidos, 19 pessoas e seis empresas, quatro das quais do Grupo Lena.
Entre os arguidos estão Armando Vara, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos e antigo ministro socialista, Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, Joaquim Barroca, empresário do grupo Lena, João Perna, antigo motorista de Sócrates, Paulo Lalanda de Castro, do grupo Octapharma, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, ex-administradores da PT, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e os empresários Diogo Gaspar Ferreira e Rui Mão de Ferro e o empresário luso-angolano Hélder Bataglia.
// Lusa