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27 mortos em terça sangrenta na Ucrânia

 

A polícia da Ucrânia avançou, esta terça-feira, contra um acampamento na capital, Kiev, ocupado há meses por opositores do governo.

Imagens mostram explosões, disparos de fogos de artifício e focos de incêndio na Praça da Independência, onde acredita-se que estivessem milhares de pessoas. A polícia usa canhões de água para conter o fogo.

O dia foi palco das piores cenas de violência do país nas últimas semanas. Pelo menos 27 pessoas – entre as quais 6 policias – foram mortas nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança, informaram as autoridades na noite desta terça.

Dois líderes da oposição esperavam reunir-se ainda esta noite com o presidente Viktor Yanukovych, que até agora rejeita a renúncia reclamada pela oposição.

Quartel-general dos opositores em chamas

O quartel-general dos manifestantes antigoverno na Praça da Independência em Kiev encontrava-se esta noite em chamas, segundo relatou um jornalista da France Presse no local.

De acordo com o relato da agência de notícias, havia fogo a sair pelas janelas do edifício usado pelos opositores como uma das suas principais bases.

A violência dos confrontos entre ativistas antigoverno e a polícia na capital ucraniana, Kiev, aumentou hoje, registando-se 6 polícias mortos, “por ferimentos de bala”, segundo o ministro do Interior ucraniano.

Presidente ucraniano recusa cancelar assalto policial e quer fim da manifestação

O Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, disse à oposição que não irá cancelar o sangrento assalto policial  sobre a Praça da Independência, o principal ponto de concentração da manifestação antigoverno, anunciou hoje o líder da oposição Vitali Klitschko.

“Ianukovich disse que apenas existe uma opção: evacuar a Praça Maidan [Praça da Independência] e toda a gente tem de ir para casa”, disse Klitshcko à televisão independente Hromadske, após um encontro com Ianukovich.

snamess / Flickr

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‘Possível uso da força’

A polícia tinha dado um ultimato aos manifestantes para que interrompessem os protestos até as 18h. Sem o cumprimento do ultimato, o local – cujo acampamento tinha sido maioritariamente pacífico desde que fora estabelecido, em novembro – foi cercado por forças policiais.

O líder oposicionista Arseniy Yatsenyuk afirmou que os manifestantes não iriam recuar “um passo sequer” da praça.

“Não temos nenhum lugar para o qual recuar; a Ucrânia apoia-nos. Não temos medo, só fé na nossa força, só solidariedade e unidade”, afirmou.

Outro líder dos manifestantes, Vitaly Klitschko, instou mulheres e crianças a abandonar a praça, afirmando que não poderia “excluir a possibilidade de uso da força”.

Pouco antes das 18h locais, a polícia anunciou por alto-falante que começaria uma “operação antiterror” e deu início a disparos de canhões de água contra os manifestantes, avançando também com um tanque.

Os manifestantes, por sua vez, alvejaram os policiais com pedras, fogos de artifício e bombas caseiras.

Há relatos de que os protestos estejam a eclodir também em outras cidades ucranianas, como Lviv e Ivano-Frankivsk.

Manifestantes apoderam-se de armas de unidade militar em Lviv

Os manifestantes antigoverno da Ucrânia apoderaram-se hoje de armas numa unidade militar em Lviv, um reduto nacionalista no Oeste do país, segundo um jornalista da France Presse no local.

Após confrontos que envolveram o lançamento de ‘cocktails molotov’, disparados contra edifícios militares, cerca de cinco mil manifestantes tomaram o controlo de depósitos de armas, de acordo com a agência de notícias.

Em solidariedade com os manifestantes que se encontram em Kiev, a capital ucraniana, em Lviv centenas de manifestantes tomaram de assalto, na noite de terça-feira, o Governo Regional e a sede da polícia.

Origem dos protestos

As manifestações começaram em novembro, quando o presidente Yanukovych decidiu não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, trocando-o por uma aproximação económica com a Rússia.

Em janeiro, os protestos tornaram-se mais violentos na capital, depois de o governo ter adoptado novas leis com o objetivo de controlar as manifestações.

O momento é particularmente delicado no país: muitos temem que a escalada da violência polarize ainda mais a opinião dos ucranianos, dificultando um acordo.

Interferência

Segundo a agência de notícias Reuters, o Ministério do Exterior da Rússia afirmou que os últimos episódios de violência na Ucrânia são “resultado direto da conivência dos políticos ocidentais e das estruturas da Europa que fecharam os olhos às ações agressivas de forças radicais”.

O governo da Rússia quer que a Ucrânia se junte a uma união aduaneira que diminuiria as barreiras comerciais entre os dois países. Cazaquistão e Bielorrússia já fazem parte deste bloco.

Rússia e União Europeia trocam acusações de interferência na política interna da Ucrânia.

Esta terça, a chefe de política externa da União Europeia, Catherine Ashton, disse-se “profundamente preocupada” com os confrontos do conflito e instou os políticos ucranianos a “enfrentar as causas” das manifestações.

Governo português condena violência e pede regresso urgente ao diálogo

O Governo português condenou esta terça-feira “toda a violência” na Ucrânia e apelou para o “regresso urgente ao diálogo”, disse à Lusa fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Em declarações à Lusa, a mesma fonte afirmou que o executivo está “a acompanhar os acontecimentos na Ucrânia com muita preocupação” e “lamenta a perda de vidas humanas”.

“O Governo condena toda a violência e apela ao regresso urgente ao diálogo”, acrescentou o ministério de Rui Machete.

ZAP / BBC / Lusa

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