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Um ano depois do terror em Alcochete, Sporting renasce das cinzas

António Cotrim / LUSA

Faz hoje um ano que o Sporting viveu um dos dias mais negros da sua história. O ataque à Academia de Alcochete causou o pânico entre jogadores, técnicos e adeptos. Agora, o Sporting renasce mais forte do que se pensa.

Pelas piores razões, o dia 15 de maio de 2018 ficará eternamente na memória de todos os sportinguistas. Incrédulos, todos aqueles que estavam na academia do clube, em Alcochete, viram 41 pessoas invadirem o balneário e lançarem o terror.

O incidente causou mossa imediata na estrutura do clube e não tardou até que as consequências surgissem. Rui Patrício, Daniel Podence, Gelson Martins, William Carvalho Rúben Ribeiro e Rafael Leão saíram em definitivo após apresentem cartas de rescisão com justa causa.

O cenário poderia ter sido pior, já que também Bruno Fernandes, Bas Dost e Rodrigo Battaglia fizeram o mesmo. Com a saída de Bruno de Carvalho da presidência do clube, os novos dirigentes conseguiram convencer estes três jogadores a regressarem, mas para tal, foi preciso despender 5,6 milhões de euros.

O clube conseguiu também chegar a acordo com Rui Patrício e William Carvalho, mas os dois jogadores acabariam por zarpar para destinos diferentes. Patrício transferiu-se para o Wolves por 18 milhões de euros e William foi para o Bétis por 16 milhões.

Desilusão no adeus

Em declarações ao jornal Record, Rui Patrício justificou que “tinha-se tornado insustentável” a sua continuidade no clube. O guardião, que dedicou grande parte da sua carreira aos ‘leões’, diz que suportou e viveu situações menos positivas para poder representar o clube.

“Nunca faltei ao respeito a ninguém nem nunca o irei fazer, pois o meu silêncio até hoje, foi exclusivamente por respeito a todos”, escreveu o internacional português na despedida aos adeptos sportinguistas.

Daniel Podence, que viria a mudar-se para o Olympiacos, mostrou desagrado por tudo o que aconteceu. Durante o ataque, o jogador foi enfiado dentro de um dos cacifos do balneário.

“Apesar de tudo que o Sporting me ensinou, ninguém me ensinou a lidar com um ambiente de ameaças, de violência, onde temo pela minha segurança e pela da minha família e nem deveriam ter ensinado, porque o futebol ou outro desporto não devem ser assim”, escreveu.

Gelson Martins, que esta terça-feira chegou a acordo com o Atlético Madrid para se transferir em definitivo, diz que nunca quis prejudicar o Sporting. “O meu principal foco e preocupação passou sempre por conseguir encerrar de forma benéfica para o clube a situação que me envolvia”, escreveu o internacional português.

A recuperação financeira

O clube ficou também perto do precipício financeiro. “O Sporting corre o risco de não ter liquidez para fazer face aos seus compromissos nesta atual situação, que se vai arrastar”, disse, na altura, José Maria Ricciardi. O banqueiro e sócio do Sporting avisou que o clube poderia estar em “risco de insolvência“.

Para esclarecer aos sócios o estado das contas do clube, Frederico Varandas encomendou uma auditoria. Os resultados, divulgados num total de 254 páginas, diagnosticaram vários problemas que se acumularam durante a presidência de Bruno de Carvalho.

Apesar de estar mergulhado em problemas financeiros, o clube conseguiu um resultado positivo de 6,45 milhões de euros no primeiro trimestre. No entanto, o maior encaixe aconteceu com a venda de jogadores. Segundo o JE, Rui Patrício, William Carvalho e Gelson Martins renderam 60,5 milhões de euros aos cofres de Frederico Varandas.

Há ainda a joia da coroa leonina: Bruno Fernandes. No mês passado, o Sporting pedia 70 milhões de euros pelo internacional português, o que pode subir ainda mais o lucro do Sporting com a venda de jogadores.

Incertezas judiciais

Um ano volvido e a instrução do ataque à Academia do Sporting ainda não começou. Isto depois de, ainda esta segunda-feira, o juiz ter sido recusado pela terceira vez.

A instrução, fase facultativa em que Carlos Delca iria decidir se o processo segue para julgamento, foi requerida por mais de uma dezena de arguidos, entre os quais o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho e o antigo oficial de ligação aos adeptos do clube Bruno Jacinto.

Os primeiros 23 detidos pela invasão à academia e consequentes agressões a técnicos, futebolistas e outros elementos da equipa leonina ficaram todos sujeitos à medida de coação de prisão preventiva em 21 de maio.

Bruno de Carvalho chegou a estar detido durante cinco dias no posto da GNR de Alcochete, tendo sido libertado após pagar uma caução de 70 mil euros. Ficou com a obrigação de se apresentar diariamente na esquadra da polícia da área da sua residência.

Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados. O líder da claque Juventude Leonina está também acusado de um crime de tráfico de droga.

Keizerball salva época

Depois do ataque a Alcochete, Jorge Jesus rescindiu com os verdes e brancos e rumou para a Arábia Saudita. Para o substituir, chegou o experiente José Peseiro, que regressava ao Sporting quase 15 anos depois. O treinador português acabou por não conseguir apresentar resultados e o Sporting voltou a ficar sem treinador.

O panorama não estava favorável para os ‘leões’, que fazia o que conseguia para se tentar reerguer. A opção escolhida por Varandas foi Marcel Keizer, que estava a treinar nos Emirados Árabes Unidos. No leme do clube, o treinador conseguiu calibrar o foco dos jogadores e pôs a equipa a jogar um futebol mais apelativo.

E se todos esperavam que, depois de tudo que aconteceu em Alcochete, a época fosse descarrilar, a verdade é que o Sporting conseguiu igualar (e até superar em alguns aspetos) os resultados da época passada.

Esta temporada, o Sporting sagrou-se campeão da Taça da Liga, ao derrotar o FC Porto na final, e conseguiu assegurar o terceiro lugar do campeonato — o mesmo que a temporada passada. Na Europa, ao contrário do ano passado, conseguiu passar a fase de grupos, onde acabou por ser arrumado pelo Villarreal nos 16 avos-de-final.

A juntar a tudo isso, o Sporting vai ainda disputar a final da Taça de Portugal no Jamor, podendo ainda adicionar esse título ao seu palmarés.

DC, ZAP //

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