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Surtos em lares. PSD e CDS exigem explicações ao Governo para evitar “novos crimes humanitários”

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Mário Cruz / Lusa

O primeiro-ministro, António Costa, e a ministra da Saúde, Marta Temido

O PSD e o CDS desafiaram o Governo a instar a ministra da Saúde e a ministra da Segurança Social a esclarecerem a auditoria ​feita pela Ordem dos Médicos ao surto no lar em Reguengos de Monsaraz, em Évora, que registou 162 casos de infeção que provocaram 18 mortos.

O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, pediu esta terça-feira ao Governo respostas “com urgência” para os surtos de covid-19 em lares de idosos e quer saber a estratégia do executivo para “evitar novos crimes humanitários”.

Numa nota enviada aos jornalistas, o líder democrata-cristão lembra o caso do lar de Reguengos de Monsaraz, em Évora, onde surgiu o surto de covid-19 que causou 18 mortos, e aponta que estes idosos “morreram abandonados” naquela instituição, “por falta de alguém que lhes matasse a sede ou que lhes desse um medicamento”.

Na ótica de Francisco Rodrigues dos Santos, o que aconteceu nesta instituição “é o retrato da decadência moral do Estado português, da renúncia ao dever de cuidar por parte dos responsáveis locais, do desinteresse do Governo pelos mais fracos, da imperdoável falta de fiscalização da tutela”.

“Continuam surtos ativos em 73 lares, que totalizam 545 idosos infetados. Qual é a estratégia do Governo para evitar novos crimes humanitários como o de Reguengos de Monsaraz? É pedir muito que as ministras da Saúde e da Solidariedade Social interrompam as férias para dar uma explicação ao país?”, questiona, salientando que “o CDS exige respostas com urgência”.

Apontando que “40% das mortes por covid em Portugal ocorreram em lares”, Rodrigues dos Santos salienta que “continua a faltar o básico que o CDS exigiu ao Governo há cinco meses atrás: planos de contingência para os lares, com regras claras e procedimentos de atuação definidos”.

No texto, o presidente do CDS lamenta que “não se ouviu falar em ‘brigadas de resgate dos idosos abandonados’, não há revolta nas redes sociais, não existe escândalo mediático, nem sequer uma palavra da ministra da Saúde ou da ministra da Solidariedade Social”.

“Estranho mundo este onde o Estado português parece cada vez mais preocupar-se com os animais – que merecem certamente o nosso cuidado responsável – do que com os idosos”, critica também.

O líder do CDS refere ainda que “o vírus mata, mas o desprezo por quem precisa de ajuda também, e esse Portugal não esquecerá”. “Cuidar dos mais velhos é uma prioridade do CDS e uma obrigação de quem governa o país”, vinca Francisco Rodrigues dos Santos.

Em declarações ao jornal Público, o deputado social-democrata Ricardo Baptista Leite, disse que o PSD, “de uma forma construtiva” e porque “o inimigo comum continua a ser o SARS-CoV-2”, vai aguardar antes de recorrer aos mecanismos que tem ao dispor para ouvir as ministras no Parlamento. O deputado pediu ainda o “esclarecimento cabal” por parte da tutela dos lares, o Ministério da Segurança Social.

O deputado afirmou ao Público que os subsídios criados para os lares são insuficientes e “não deveriam ser tratados como benefícios”. “A situação exige que não se distingam estes lares, para que todos possam ter acesso a soluções”, disse. “A principal responsabilidade do Estado é proteger os mais vulneráveis e aqui os mais vulneráveis são os mais idosos.”

“Temos apelado a várias correções”, disse ao mesmo jornal, sublinhando a disponibilidade do PSD para apresentar soluções. “Não creio que haja qualquer benefício em trazer tricas político-partidárias. O vírus não distingue entre esquerda e direita. O PSD vai ter muito tempo no futuro”.

Na semana passada, foram conhecidas as conclusões de uma auditoria ao lar feita pela Ordem dos Médicos (OM) relativas ao lar Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS) onde, a 18 de junho, foi detetado o primeiro caso de covid-19.

Nesse relatório, ao qual a agência Lusa teve acesso, a comissão da OM que realizou a auditoria disse que o lar da FMIVPS não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) e apontou responsabilidades à administração, à Autoridade de Saúde Pública e à Administração Regional de Saúde.

Esta terça-feira, a direção do lar garantiu ter feito “tudo o que estava ao seu alcance e dentro das suas competências” para “salvar vidas”, nesta “crise” com “contornos dramáticos”.

No total, este surto, que já foi considerado como resolvido pela Autoridade de Saúde, provocou 162 casos de infeção, a maior parte no lar (80 utentes e 26 profissionais), mas também 56 pessoas da comunidade, tendo morrido 18 doentes (16 utentes, uma funcionária e um homem da comunidade).

A Procuradoria-Geral da República adiantou à Lusa, na sexta-feira, que foi instaurado um inquérito sobre o surto de covid-19 neste lar e que está a analisar o relatório da OM. A Ordem dos Advogados revelou igualmente à Lusa que vai fazer “o enquadramento jurídico” das conclusões do inquérito dos médicos para determinar consequências.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Não fico estupefacto, com este género de Noticia. Mesmo sem esta recente Pandemia, já foi varias vezes evidenciada a lamentável insuficiência (ver.. inexistência) de vagas em Instituições (legais ou mesmo ilegais) para Pessoas Idosas. Além de se ter tornado um frutuoso Negocio para algumas Entidades, esta Pandemia só veio por a nu a triste realidade do fim de Vida que reservamos aos nossos anciãos. Sem falar dos que morrem en silencio, abandonados nos seus Domicílios sem apoio de ninguém. A Pergunta que devemos fazer é “que fazer futuramente dos nossos Idosos” com mais Altruísmo e menos Objectivo de Lucrar. Se a dependência de outrem devido a idosidade é vista como um custo Social não prioritário, o Covid 19 e outras Doenças oportunistas, estão a fazer o trabalho sujo !……. Mas que importa, somas astronómicas não faltam para rechear áreas opacas que todos nós temos conhecimento ! Não sou Pessimista …sou Realista !

  2. O PPD está preocupado com o silencio do governo sobre as mortes em Reguengos, eu estou é preocupado caso o PPD propõe para o País e como vai executar o que venha a propor, quando não temos soluções até os cacos dos outros nos servem, Sobre os donos do lar nem um pio ou será porque há lares de gente dom PPD e não convém falar dos donos? vão todos lamber sabão.

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