Ucrânia recuperou numa semana territórios que a Rússia conquistou em sete meses

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Presidência Ucraniana / EPA

“Desde o início de setembro, os nossos soldados já libertaram quase 6.000 km2 de território ucraniano”, afirmou Zelensky no habitual vídeo noturno, no qual elogia a “bravura” das unidades militares.

Durante os quase sete meses de invasão russa, a Ucrânia esteve quase sempre à defesa. Mas os avanços significativos que conseguiu em poucos dias na região de Kharkiv, empurrando a tropa inimiga quase até à fronteira, parecem confirmar que Kiev é a iniciativa atacante neste momento.

Esta “é a terceira etapa” da guerra, de acordo com Oleksii Reznikov, o ministro ucraniano da Defesa que, em entrevista ao Le Monde, explica que a primeira etapa consistiu em “deter os russos”, a segunda em “estabilizar a frente” e a terceira é “a campanha de contra-ofensiva“.

A Ucrânia conseguiu recuperar numa semana território que a Rússia demorou sete meses a conquistar, de acordo com a CNN.

“É óbvio que houve uma superioridade dos ucranianos nesta contra-ofensiva”, admite Madalena Meyer Resende, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-NOVA).

Em entrevista ao Público, Meyer Resende esclarece que “parece ter havido um colapso parcial da frente russa” e “capacidade de surpresa” por parte da Ucrânia, condições que tornam provável que a retirada russa seja “duradoura”.

“A não ser que haja uma mudança radical em Moscovo, esta permanecerá uma guerra que não se irá resolver nos próximos meses”, garante a investigadora.

“Zelensky tem tornado cada vez mais amplos os objetivos de vitória”, relembra Meyer Resende, tentando não só recuperar o território que a Rússia ocupou este ano, como também a Crimeia e a zona separatista do Donbass.

O Exército ucraniano anunciou pela primeira vez uma contraofensiva no sul, antes do avanço relâmpago na semana passada na região de Kharkiv, onde forçou os soldados de Moscovo a recuar para outras posições.

As autoridades ucranianas também têm relatado sucesso na região de Kherson, no sul, ocupada pela Rússia, na fronteira com a Crimeia anexada, bem como nas regiões orientais sob o controlo de separatistas pró-russos desde 2014.

Os militares ucranianos reconquistaram quase 6.000 quilómetros quadrados de território controlado pelas forças russas na Ucrânia, desde o início da contraofensiva lançada no início de setembro, segundo o Presidente Volodymyr Zelensky.

“Desde o início de setembro, os nossos soldados já libertaram quase 6.000 km2 de território ucraniano no leste e no sul, e ainda estamos a avançar”, salientou o chefe de Estado ucraniano, no habitual vídeo noturno dirigido à nação.

Zelensky agradeceu em particular a três unidades militares, elogiando a sua “bravura” na operação que permitiu recuperar território conquistado pelas forças russas.

Caso sejam consolidados, estes ganhos serão os maiores para a Ucrânia desde a retirada das forças russas dos arredores de Kiev no final de março.

É “demasiado cedo” par avaliar a contraofensiva

O secretário de Estado norte-americano considerou ser “demasiado cedo” para antecipar o resultado da contraofensiva do exército da Ucrânia, no nordeste do país, contra as forças da Rússia.

“É demasiado cedo para dizer exatamente onde isso nos vai levar”, disse, na segunda-feira, Antony Blinken, numa conferência de imprensa no México, acrescentando que estes são “os primeiros dias [da contraofensiva] ucraniana”.

O responsável norte-americano observou que “os russos mantêm forças muito significativas na Ucrânia, bem como equipamentos e munições”, mas há “claramente progressos significativos da parte ucraniana, sobretudo no nordeste” do país.

Esta contraofensiva “é o resultado do apoio” que os Estados Unidos forneceram, “mas acima de tudo, é o resultado da extraordinária coragem e resiliência das forças ucranianas e do povo ucraniano”, disse.

“Os ucranianos lutam pela pátria e pelo futuro, não os russos”, sublinhou Blinken, que se deslocou ao México para um “diálogo económico” bilateral, no âmbito do qual os dois países anunciaram planos de integração na produção de chips semicondutores, veículos elétricos e lítio.

Na segunda-feira, a Ucrânia garantiu novas conquistas militares e ter retomado, ao longo de um mês, o equivalente a sete vezes a superfície de Kiev aos russos, que responderam com o bombardeamento de algumas zonas recuperadas.

O exército ucraniano tinha inicialmente anunciado uma contraofensiva no sul, antes de realizar, na última semana, incursões rápidas na região de Kharkiv (nordeste).

É natural que os ucranianos “usem este momento para pedir ao Ocidente um apoio ainda mais significativo”, acredita Madalena Meyer Resende, referindo como exemplo o “pedido muito extenso de armas” que Zelensky fez recentemente aos EUA.

Na semana passada, em deslocação a Kiev, o secretário de Estado norte-americano anunciou um novo pacote de ajuda militar com um valor superior a 2,2 mil milhões de dólares para a Ucrânia e 18 outros países, a somar ao fornecimento de armas e outro material bélico a Kiev a rondar os 600 milhões de dólares.

“Apesar das dificuldades que este inverno trará para as economias, sobretudo as europeias, os governos ocidentais têm demonstrado que o seu compromisso [para com a Ucrânia] é bastante firme”, acrescenta Meyer Resende.

Na Rússia, pelo contrário, “pela primeira vez ouvem-se vozes claramente críticas da capacidade do Exército russo”, sublinha a investigadora, salientando que este “é um novo dado” a ter em consideração.

Alice Carqueja, ZAP //

14 Comments

  1. A mentira e a propaganda transformou-se em norma nos jornais portugueses. O que os ucraniano “conquistaram” foi apenas 2% do território ocupado atualmente pelos russos.

  2. É preciso armas, armas e mais armas para a Ucrânia. Os russos serão destroçados, outros fugirão se puderem, nem que pelo caminho tenham que ir deixando cair, das viaturas, alguns dos seus, na beira das estradas.

    • A Rússia combateu o Hitler apenas depois deste ter acabado unilateralmente com o pacto Molotov–Ribbentrop (também conhecido por Pacto Nazi-Soviético) e ter invadido a Rússia na Operação Barbarossa.

  3. O título desta peça é estúpido e enganador: os Ucranianos só recuperaram uma pequena porção do território ocupado pelos Ruzzos. Ainda há muita terra por reconquistar e muita gente para morrer. E se os Ruzzos partiram os dentes contra Kharkiv, Kramatorsk, Mykoliav, etc. , agora são os Ucranianos que têm uma difícil e longa tarefa pela frente – e o inverno está a chegar…
    Acho que ninguém deve embandeirar em arco e começar a lançar foguetes, a bazófia nunca é boa conselheira.
    ps: pode ser giro de ver como os Russos que correram com as tropas de Napoleão e de Hitler do seu território, agora experimentem o mesmo tipo de frustração daqueles.

  4. A Ucrânia ganha a guerra. A Rússia, afundada outra vez numa grave crise económica e social, corre com o Putin (ou este cai de uma janela). O PCP ensaia o seu famoso jogo de cintura e repete que nunca apoiou a invasão da Ucrânia, que sempre defendeu a paz (russa, claro, sabemos nós), que o Putin não é comunista, mas um capitalista que promoveu um sistema oligárquico. Os indefectíveis, cada vez menos, continuam a votar CDU. (Previsões do Nostradamus Zeppelin)

  5. A Rússia perdeu em 7 meses de guerra mais armamento do que em 10 anos de Afeganistão. Pensavam que iam rapidamente tomar Kiev e depor o atual regime. Essa operação logo no início viu-se confrontada com um poder político forte que ficou para lutar em vez de fugir (ao contrário de tantos outros no passado que preferiram refugiar-se em Inglaterra). Foi o mote para a resistência. A frase “A luta é aqui; eu preciso de munições, não de uma boleia” dirigida aos EUA ficará para a história. Esse foi o momento central na união dos ucranianos em torno do seu líder. Depois, erros operacionais graves por parte dos russos (carros de combate dispersos por toda a Ucrânia, sem proteção de infantaria?!!!, alvos fáceis para os nlaw e javelin), dispersão de meios por um território muito vasto, terem pensado que o povo ucraniano se juntaria a eles (ou pelo menos não ofereceria grande resistência), soldados desinformados (muitos nem sabiam que iam para a Ucrânia combater!!!)… Tudo contribuiu para o que assistimos.
    A dada altura caíram na realidade. Alguém terá pensado: temos de concentrar esforços numa porção mais pequena de território. Aí as coisas até começaram a correr bem com os avanços conhecidos por todos no Donbass. Mas, o elevado número de baixas e a incapacidade de repor, substituir tropas, a incapacidade logística de apoio à frente de batalha, as armas do ocidente e a vontade dos ucranianos implicaram um grande retrocesso. Não é fácil para a Rússia nem para qualquer outra potência invadir e dominar um país uno com mais de 40 milhões de pessoas. Na história temos mais derrotas das superpotências do que vitórias (Vietname, Somália, Afeganistão, Coreia…). E esta será mais uma derrota de uma superpotência. Que sirva de aviso para todas.

    • Outro exemplo de derrota de uma superpotência, foi a da França de Napoleão aqui em Portugal. E, tal como a Ucrânia, tivemos a inestimável ajuda de um aliado.

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