Rússia pode perder a guerra por falta de chips? Já estará a arrancá-los de frigoríficos

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President of Russia / Twitter

O Presidente russo, Vladimir Putin.

O Presidente russo, Vladimir Putin.

Após seis meses de invasão à Ucrânia, a Rússia está a ser obrigada a recorrer ao antigo arsenal militar soviético e a falta de chips pode complicar os esforços da guerra. Mas será decisiva o suficiente para que os russos percam a batalha?

O exército russo já gastou “quase metade do seu arsenal de armas” na Ucrânia, segundo diz o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, em declarações ao Politico.

O contingente da Rússia está reduzido a apenas “quatro dúzias” de mísseis hipersónicos que “são os que têm precisão e exactidão devido aos microchips que possuem”, refere ainda Shmyhal.

Devido às sanções impostas à Rússia, “as entregas desses equipamentos de microchips de alta tecnologia pararam e eles não têm como reabastecer esses stocks”, aponta ainda o governante ucraniano.

Assim, a Rússia, encontra-se “estrangulada por um grave déficit de tecnologia” e está a recorrer a “stocks antigos de munições primitivas da era soviética“, destaca o Politico.

Shmyhal assegura que os soldados russos estão a usar “equipamentos e mísseis de fabricação soviética que foram produzidos nos anos 1960 ou 1970“.

Neste cenário, o evoluir da guerra pode depender de se a Rússia conseguirá, ou não, aceder a chips de alta tecnologia.

“Arrancar chips de frigoríficos e máquinas de lavar”

A Ucrânia lançou, nos últimos dias, um alerta sobre uma suposta “lista de compras” da Rússia para a aquisição de “semicondutores, transformadores, conectores, invólucros, transístores, isoladores e outros componentes” que são feitos, sobretudo, por empresas de EUA, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Taiwan e Japão, como constata o Politico.

Estes componentes são fundamentais para alimentar o esforço de guerra russo, mas será difícil à Rússia “conseguir adquirir a tecnologia mais sensível” da lista, ainda segundo o site de política internacional.

Nos últimos anos, a Rússia obteve os semicondutores que alimentaram a sua indústrias de armamento de países como EUA, Japão e de nações da União Europeia. Mas as sanções impedem as compras habituais.

Dos 25 itens da “lista de compras” que a Rússia procura “mais desesperadamente, quase todos são microchips fabricados pelas empresas norte-americanas Marvell, Intel, Holt, ISSI, Microchip, Micron, Broadcom e Texas Instruments”, nota o Politico.

“Alguns dos itens podem ser facilmente encontrados em retalhistas de eletrónica online, enquanto outros estão esgotados há meses devido à escassez global de microchips”, aponta a mesma publicação.

“Em casos extremos”, os russos estarão já a “arrancar chips de electrodomésticos como frigoríficos e máquinas de lavar louça”, conforme dados divulgados pelos serviços secretos ucranianos.

Não há “absolutamente forma nenhuma” de saber

Há especialistas que acreditam que a Rússia poderá ter acumulado stocks de microchips ocidentais e de outros equipamentos essenciais para a guerra durante os últimos anos. Mas estará a ficar com a “dispensa” vazia.

Os gastos na Ucrânia excederam as previsões e e as sanções estão a complicar o acesso a novas provisões.

As sanções implicam alguma monitorização das trocas comerciais efectuadas, mas é sempre muito complicado detectar o consumidor final dos produtos adquiridos.

As empresas russas que fornecem o exército russo podem recorrer a estratagemas, por exemplo, usando empresas de terceiros, para adquirirem os equipamentos em falta. Outra alternativa pode passar por comprar no mercado negro.

A China também pode ser uma peça-chave neste processo, adquirindo os chips de que a Rússia precisa e depois, revendendo-os ao seu “fiel amigo” Putin.

“China e Rússia partilham uma fronteira de 4.300 quilómetros” e não há “absolutamente forma nenhuma” de “detectar se esses chips forem passados da China para a Rússia”, alerta o ex-Director do Conselho de Segurança Nacional dos EUA para a China, entre 2018 e 2019, Matthew Turpin, em declarações ao Politico.

Note-se que a China também não tem capacidade para produzir estes componentes de alta tecnologia. Portanto, as compras a países como os EUA são fundamentais também para a indústria chinesa, mas também são essenciais para as empresas norte-americanas em termos de lucros.

Assim, ficam no ar as consequências delicadas de eventuais sanções que pudessem também ser aplicadas à China.

A Rússia pode, igualmente, receber a ajuda de países como a Coreia do Norte e o Irão que “acumularam anos de experiência a contornar as sanções” de que têm sido alvos, como analisa no Politico o investigador Diederik Cops, especialista em exportação de armas.

Cops acredita que, nos últimos meses, “a Rússia certamente se preparou para lidar com isto”. Além disso, tem “a experiência histórica” da Guerra Fria, “longas fronteiras com países vizinhos e uma grande rede de estados aliados para trabalhar”, aponta Cops.

Por outro lado, é sempre muito difícil “monitorizar a proliferação dos canais ilegais, e mesmo dos canais legais” de venda de armamento, apesar dos esforços dos aliados ocidentais, repara Cops.

ZAP //

 

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