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Reunião do Infarmed. Um puxão de orelhas de Ferro e como evitar segunda vaga

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José Coelho / Lusa

O regresso das reuniões do Infarmed foi marcada por um “puxão de orelhas” de Eduardo Ferro Rodrigues ao Governo que nem era suposto ter sido público. Enquanto Marcelo Rebelo de Sousa se manteve em silêncio e António Costa apenas falou à entrada, o Presidente da Assembleia da República não poupou críticas à gestão da resposta nos lares.

As declarações foram feitas na segunda parte da reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, que decorreu na segunda-feira no Porto, e que não é aberta aos jornalistas. Proém, a transmissão não foi interrompida e acabou por se ouvir a intervenção de Ferro Rodrigues.

Na reunião, Ferro Rodrigues disse não compreender como é que, nesta altura, ainda não se retiraram lições do que aconteceu nos lares numa primeira vaga da pandemia da covid-19.

“Como é que se compreende que continuem apenas a fazer-se testes quando há pessoas que acusam positivo. Quando há uma pessoa num lar que acusa positivo, o caminho já está prejudicado, o caminho para uma vaga nesse lar já é muito forte”, afirmou Ferro Rodrigues. “É isso que não consigo perceber porque é que não se apreenderam lições da primeira fase e não se retiraram lições para a evolução da situação em julho e em agosto, nomeadamente”.

Outra das questões levantadas foi a fiabilidade dos dados internacionais. “Não consigo olhar para as estatísticas que mostram os número de casos em Portugal e na China sem ficar com um misto de perplexidade e de alguma irritação“, confessou o político.

Ferro questionou como é que é possível que a China apresente diariamente sete ou oito casos de novos infetados, enquanto Portugal apresenta às vezes 300 e 400 casos.

O Presidente da Assembleia da República frisou que não podem existir dados com consequências económicas graves para vários países, entre os quais Portugal, que não são comparáveis. Não faz sentido que alguns países despejem informação que não é certamente verdadeira, referiu, acrescentando que se for verdadeira Portugal tem de estudar o que as autoridades desses países estão a fazer para aprender com elas.

Depois destas declarações, à saída da reunião, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, e Marta Temido, ministra da Saúde, tiveram de garantir que o Governo têm feito tudo feito para otimizar a resposta nos lares, escreve o semanário Expresso.

O que disseram os especialistas sobre as escolas

A reunião entre especialistas e políticos foi dominada sobre a questão do regresso às aulas, de acordo com o Expresso.

“A reabertura das escolas tem uma grande propensão para originar uma segunda onda. Mas não é uma fatalidade, não é inevitável e até conseguimos estimar aproximadamente o que é possível fazer, em termos gerais, para a evitar”, afirmou Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“Se a rede de contactos dos jovens nas escolas for reduzida para metade ou um terço do período pré-covid, a segunda onda pode ser evitada”, explicou. “Se o relaxamento dos contactos na sociedade voltar ao que era antes da covid, mesmo reduzindo os contactos escolares a um terço, não se consegue compensar a transmissão e há uma segunda onda”.

O especialista defendeu que é necessário “flexibilizar” os regimes de aulas, “maximizar” o espaço na sala de aula, reajustar horários, garantir ventilação e ter uma só sala para cada turma.

Maria João Brito, responsável da Unidade de Infecciologia do Hospital Dona Estefânia, disse que as crianças parecem transmitir menos a doença do que os adultos. “O SARS-COV-2 não se transmite como a gripe e outros vírus respiratórios, onde as crianças são frequentemente o caso índice nos disseminadores de infeção domiciliar e comunitária”, apontou.

Rui Ivo, presidente do Infarmed, falou sobre a disponibilidade de vacinas. “Os dados preliminares que já foram disponibilizados, e a breve trecho teremos os dados deste estudo de fase 3, são positivos, portanto, são bastante promissores em termos do desenvolvimento das vacinas. Mas o desenvolvimento está numa fase precoce“, disse.

Segundo Ausenda Machado, do Instituto Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge (INSA), Portugal está entre os piores países quando se compara a incidência com a transmissibilidade do novo coronavírus. Entre 17 e 30 de agosto, registaram-se 3.909 novas infeções, sendo que 49% aconteceram em contexto familiar e 16% em contexto laboral.

Desilusão no fim da reunião

O Bloco de Esquerda disse esta segunda-feira ao Governo que, perante a pressão que o país vai viver devido à pandemia, seja reforçado o número de profissionais nas escolas, Serviço Nacional de Saúde e lares, criticando “alguma insuficiência de informação”.

Também o PAN se manifestou preocupado com o regresso às aulas e defendeu que devem ser adotadas medidas para “redução do número de contactos” nas escolas, como a diminuição do número de alunos por turma.

Por sua vez, a Iniciativa Liberal considerou a reunião “dececionante”. Para Tiago Mayan Gonçalves, “esta reunião foi dececionante” já que “o grande objetivo declarado para esta reunião ser pública era de prestar informação direta aos cidadãos sobre a questão da pandemia”.

Por fim, o deputado único do Chega criticou o Governo por não ter definido um plano de transportes para estudantes entre as suas casas e as escolas, considerando haver uma “grande probabilidade” de o regresso às aulas correr mal.

ZAP // Lusa

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12 Comments

  1. Não foi um “puxão de orelhas” mas sim uma encenação, um teatro para fazer crer o populacho que a Assembleia da República e o seu Presidente estão vivos e nessa circuntância valem para algumaa coisa no quadro da adinistração do estado.

  2. Mas o que consta é que o SNS só paga os testes aos infectados ou a quem esteve em contacto directo com um infectado. Foi por isso que a Presidência da República teve de pagar ao laboratório do Germano de Sousa a módica quantia de 21.000 euros por 230 testes!!! Talvez seja por isto, sr presidente!

  3. Já muitos se tinham perguntado o que andam a fazer nos lares? Os Lares não fazem Nada chutam para o Estado a responsabilidade, mas não chutam as mensalidades que cobram….Uma VERGONHA.
    Daqui para a frente a actividade dos lares tem que ser redefinida com novas competências e uma forte inspecção.

  4. Puxão de orelhas, nada que mais uma cimeira maçónica não resolva!
    Andam todos a brincar ao faz de conta, e, fez-se de conta que não era suposto ouvir-se o “puxão de orelhas”, que conveniente!
    Está certo, façam mais do mesmo, continuem a brincar, parece que o o povo gosta e está com vocês, esse é o verdadeiro vírus!
    Acordem abstencionistas!

  5. Confesso que fiquei admirado com o comentário do Sr. Rodrigues sobre este assunto.É pena que não abra a boca mais vezes para mostrar que há alguém que se preocupa no meio de tanto inútel no governo.

  6. As observações do Ferro Rodrigues sobre os números da China, e então comparar com Portugal, são de quem não vê um boi do que se anda a passar internacionalmente.

  7. Finalmente o homem disse uma acertada! No meu entender qualquer governo em vez de subsidiar lares deveriam mais em se preocupar em investir na manutenção dos idosos nos seus lares através de cuidadoras habilitadas para tal; os lares são uma rentável fonte de negócio e corrupção e, por outro lado, um amontoado de ferro-velho humano muitas vezes deitados ao abandono e vítimas de várias formas desumanas.

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