O presidente russo Vladimir Putin virou literalmente as costas ao seu leal ministro da Defesa, Sergei Shoigu, durante as filmagens de um evento promocional. Shoigu tem enfrentado duras críticas à medida que a invasão da Ucrânia se transforma numa guerra longa e desastrosa.
Durante uma visita recente a um hospital militar de Moscovo, o presidente russo Vladimir Putin virou publicamente as costas ao Ministro da Defesa, Sergei Shoigu.
O momento, que foi filmado e transmitido pela televisão estatal russa, alimenta especulações sobre potenciais fissuras no interior da liderança russa.
Nas costas de Putin, o ministro baixa a cabeça, mostrando-se aparentemente desorientado e algo desconfortável com a atitude de Putin.
O incidente, que está a ser visto como um sinal de insatisfação de Putin com o seu ministro, foi partilhado online pelo político ucraniano Volodymyr Omelyan, que insinua que a posição de Shoigu na hierarquia russa poder estar em risco.
https://twitter.com/JimmySecUK/status/1668348344752562195
Shoigu, que praticamente não tem experiência militar real, foi enfrentando críticas cada vez mais duras à medida que a invasão da Ucrânia pela Rússia se transformou num conflito prolongado e ruinoso, muito longe da “operação militar especial” que Putin esperava que terminasse rapidamente.
Em vez disso, a guerra arrasta-se há mais de 15 meses, esgotando os recursos russos, dizimando as suas tropas e prejudicando a economia do país.
Segundo o Business Insider, relatórios do ministério da Defesa britânico sugerem que quando em agosto do ano passado a Ucrânia passou a atacar posições russas, alterando a dinâmica da guerra, Shoigu começou a ser marginalizado no seio da liderança russa.
De acordo com o relatório, responsáveis militares russos com experiência de combate real ridicularizam frequentemente Shoigu pela sua liderança ineficaz e distante da realidade da guerra — cujo progresso parece ter estagnado.
A ofensiva de inverno da Rússia foi vista como um fracasso estratégico, com ganhos territoriais limitados a um custo enorme para o exército russo. As forças ucranianas, armadas com equipamento ocidental, começaram a recuperar território, remetendo os russos para posições cada vez mais defensivas.
Na segunda-feira, durante um discurso para assinalar o Dia Nacional da Rússia, Putin admitiu que o país atravessa um momento difícil. Segundo a AFP, o presidente russo foi ainda mais longe esta terça-feira, numa reunião no Kremlin com correspondentes de guerra russos, a quem confidenciou haver problemas na frente de batalha.
“Durante a operação militar especial, ficou claro que nos faltavam várias coisas: munições de alta precisão, equipamentos de comunicação, drones. Dispomos deles, mas em quantidade insuficiente, infelizmente“, declarou Putin.
Um dos maiores críticos da hierarquia militar russa tem sido o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, até há pouco tempo um aliado de Putin no esforço de guerra de Moscovo — mas que parece cada vez mais afastado do Kremlin.
Em maio, Prigozhin admitiu o fracasso da guerra e arrasou as elites russas, advertindo-as de que a vida luxuosa que levam enquanto as tropas russas morrem em combate pode acabar como em 1917, numa revolução.
Os principais visados das críticas do líder mercenário são Serguei Shoigu e estado-maior russo, a quem chegou a apelidar de “cabrões”, e a quem acusa de não fornecer munições suficientes e de sabotar as ofensivas dos mercenários.
A desconfortável interação televisiva entre Putin e Shoigu está a alimentar ainda mais especulações sobre possíveis discórdias no interior da liderança russa e uma eventual ruptura entre Putin e o seu ministro da Defesa — a que não será alheia a forma como a “operação militar especial” está a correr.