Na história da Humanidade, houve novas espécies humanas, e sete delas viveram ao mesmo tempo. Atualmente, resta o Homo sapiens — e é possível que os nossos antepassados tenham contribuído para o desaparecimento de todas as outras espécies.
Atualmente existe apenas uma espécie de humanos: nós. Os Homo sapiens, para usar o nosso termo científico.
Mas nem sempre foi assim. Várias espécies de humanos existiram ao mesmo tempo durante a maior parte das últimas centenas de milhares de anos, e, ao longo da História existiram pelo menos 9 espécies de humanos — ou 10, se se considerarmos a nova espécie recentemente descoberta na China.
Depois, todas elas desapareceram, deixando-nos como o único membro do género Homo existente no planeta.
Os paleontólogos têm tentado perceber o que aconteceu exatamente e se a culpa é dos nossos antepassados.
Se recuarmos no tempo até à altura em que se acredita que o Homo sapiens evoluiu – há cerca de 300.000 anos – descobriremos que havia muitas outras espécies humanas por perto.
Os Neandertais são provavelmente os mais famosos, mas mais ou menos na mesma altura existiam os Denisovanos, o Homo heidelbergensis, o Homo naledi e o Homo erectus, bem como uma espécie diminuta de humanos na ilha das Flores, o Homo floresiensis, normalmente designados por “Hobbits”.
Existem algumas provas fósseis de mais espécies, mas a falta de ADN de muitos desses fragmentos não permite uma confirmação completa de outras espécies presentes na altura.
Pelo menos sete espécies humanas viveram ao mesmo tempo, durante dezenas de milhares de anos. Os nossos antepassados começaram a sair de África há cerca de 60.000 anos e essas migrações coincidiram com o desaparecimento das outras espécies.
Fomos nós os responsáveis pela sua extinção? Porque é que fomos os únicos a enganar o esquecimento?
“Gostava de poder dar uma resposta direta. Não sabemos, francamente, porque é que somos os únicos que restam”, explica o professor Chris Stringer, responsável pela investigação da evolução humana no Museu de História Natural, ao IFLScience.
“Obviamente, alguns deles podem ter desaparecido antes de nos espalharmos pelo mundo, mas sabemos que, nos últimos 100 000 anos, o Homo sapiens, tendo evoluído em África, começou a sair de África”, acrescenta Stringer.
Esta migração para fora de África colocou os nossos antepassados em contacto com outros humanos, encontrando os Neandertais na Europa, os Denisovanos na Ásia e as outras possíveis espécies espalhadas pelo mundo.
“Todas as espécies que existiam há menos de 100.000 anos desapareceram de alguma forma nesse período, pelo que é fácil estabelecer uma ligação entre a disseminação da nossa espécie e o desaparecimento das outras espécies”, nota Stringer.
“Algumas pessoas estabelecem uma ligação direta e dizem ‘Ah, matámo-las a todas, é fácil. Nós éramos muito superiores a eles, eles foram ultrapassados e extinguiram-se muito rapidamente’. Mas de facto, quanto mais sabemos sobre este período, mais complicado parece“, diz Stringer.
Das outras espécies, a que conhecemos melhor é a dos Neandertais. Os humanos partilharam territórios e até acasalaram com eles durante milhares de anos.
Stringer sublinha que, atualmente, sabemos que os Homo sapiens, na realidade, não eram particularmente superiores aos Neandertais — que eram uma espécie capaz. No entanto, o Homo sapiens competia com o Homo neanderthalensis por recursos, o que pode ter levado ao seu desaparecimento.
Há no entanto inúmeras teorias que tentam explicar por que motivo os neandertais desapareceram — genocídio cometido pelos sapiens, coelhos, a inversão dos polos magnéticos, um golpe de má sorte, as infeções do ouvido, uma diminuição na taxa de fertilidade nas mulheres e a falta de agasalhos contra o frio.
E quanto às outras espécies humanas?
“Não sabemos porque é que os Denisovans se extinguiram, mas sabemos que alguns milhares de anos depois de o Homo sapiens ter chegado a essa região da Sibéria, desapareceram. Mais uma vez, podemos fazer esta potencial ligação”, diz Stringer
“O H. Floresiensis, não sabemos o que lhe aconteceu, e o H. erectus, também não sabemos o que lhe aconteceu. Por extrapolação, talvez o mesmo processo tenha acontecido com esses também, mas temos muito menos dados“, admite o investigador.
Ou seja, se não faltam teorias para explicar o desaparecimento dos neandertais, escasseiam explicações para o desaparecimento das restantes espécies humanas — ou oito, se considerarmos a nova espécie recentemente descoberta na China.
Resta-nos no entanto a consolação de saber que pelo menos os neandertais podem não ter desaparecido totalmente: há mais de Neandertal em si do que pensa. “De certa forma, os Neandertais não se extinguiram completamente porque um pouco deles vive em nós“, nota Stringer
“Alguém calculou que, como nem todos temos os mesmos pedaços de ADN neandertal, se juntarmos todo o ADN neandertal existente no mundo atual em todas as pessoas, poderíamos provavelmente reconstruir 40% do genoma neandertal sem sequer ter um neandertal, apenas a partir das pessoas vivas atualmente”, conclui o investigador.