Já se sabia que existiam vestígios de ADN Neandertal no genoma dos humanos modernos. Agora, um novo estudo traz ainda mais provas dessa semelhança.
Um novo estudo avaliou a estrutura facial dos crânios pré-históricos, e chegou à conclusão que grande parte deste cruzamento ocorreu no Próximo Oriente — a região que vai desde o Norte de África até ao Iraque.
“O ADN antigo causou uma revolução na forma como pensamos sobre a evolução humana”, realça Steven Churchill, autor do estudo e professor de antropologia evolutiva na Duke University, citado pela NC State News.
“Pensamos frequentemente na evolução como os ramos de uma árvore, e os investigadores têm passado muito tempo a tentar traçar o caminho que nos conduziu. Mas começamos agora a compreender que não é uma árvore — é mais como uma série de riachos que convergem e divergem em múltiplos pontos”, acrescenta.
“O nosso trabalho aqui permite-nos compreender melhor onde é que essas correntes se juntaram”, nota Ann Ross, autora do estudo e professora de ciências biológicas na Universidade Estadual da Carolina do Norte.
“A explicação é bastante complicada“, admite Churchill. No entanto, “sabemos que houve uma reprodução cruzada”. As populações asiáticas modernas parecem ter mais ADN Neandertal do que as populações europeias modernas, o que é estranho, porque os Neandertais viviam no que é hoje a Europa.
“O nosso objetivo com este estudo era compreender melhor estes cruzamentos, avaliando a estrutura facial dos humanos pré-históricos e dos Neandertals”, diz Ross.
“Avaliando a morfologia facial, podemos descobrir como as populações se deslocaram e interagiram ao longo do tempo”, acrescenta a docente. “E as evidências mostram-nos que o Próximo Oriente foi um cruzamento importante, tanto geograficamente como no contexto da evolução humana”.
Para este estudo, os investigadores recolheram dados sobre morfologia craniofacial a partir de outros estudos, resultando num conjunto de dados que inclui 13 Neandertais, 233 Homo sapiens pré-históricos, e 83 humanos modernos.
Os investigadores concentraram-se em medições craniofaciais padrão, que são reproduzíveis, e utilizaram essas medições para avaliar o tamanho e a forma das principais estruturas faciais.
Assim, os investigadores fizeram uma análise aprofundada para determinar se uma dada população humana era suscetível de se ter cruzado com populações Neandertais, bem como a extensão desse provável cruzamento.
“Os Neandertais tinham caras grandes”, refere Churchill. “Mas o tamanho por si só não estabelece qualquer ligação genética entre a população humana e as populações Neandertais. O nosso trabalho envolveu uma análise mais robusta das estruturas faciais”, sublinha.
Os investigadores também analisaram variáveis ambientais associadas a alterações nas características faciais humanas, para determinar a probabilidade das ligações que estabeleceram entre as populações Neandertais e humana terem sido o resultado de cruzamentos consanguíneos e não de outros fatores.
“Verificámos que as características faciais em que nos concentrámos não foram fortemente influenciadas pelo clima, o que facilitou a identificação de prováveis influências genéticas”, explica Ross.
“Verificámos também que a forma facial era uma variável mais útil para acompanhar a influência da consanguinidade Neandertal nas populações humanas ao longo do tempo. Os Neandertais eram maiores do que os humanos modernos. Com o tempo, o tamanho do rosto humano diminuiu, gerações após terem sido criados em conjunto com os Neandertais. Mas a forma real de algumas características faciais reteve provas de uma reprodução cruzada com os Neandertais“, acrescenta.
O termo “Neanderthal” é muitas vezes usado como insulto. Mas depois deste estudo, publicado a 3 de agosto na revista Biology, talvez deva pensar duas vezes antes de o fazer.
Há um erro no artigo. Tanto os Neandertais como os Sapiens são humanos. Dizer que o rosto dos Neandertais era maior do que o dos humanos não faz portanto sentido.
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo.
Onde aplicável, as ocorrências de “humanos” no texto foram substituídas por “humanos modernos” ou “Homo sapiens“