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Rui Pinto não deu passwords dos discos encriptados à PJ

Rui Pinto / Twitter

Hacker Rui Pinto

A Polícia Judiciária não tem conhecimento das palavras-passe dos discos rígidos encriptados por decisão de Rui Pinto. Foi o denunciante que decidiu os termos da colaboração.

Rui Pinto está a colaborar com a Polícia Judiciária (PJ) e com o Ministério Público (MP), tendo aceitado desencriptar os discos rígidos a troco de imunidade e libertação da prisão preventiva. Assim, o denunciante português não pode ser julgado pelo conteúdo que tenha dentro deles.

No entanto, o Observador escreve que foi Rui Pinto quem decidiu os moldes pelos quais faria a divulgação das informações que os discos contêm. O pirata informático mantém controlo sobre os dispositivos e ainda não divulgou as palavras-passe, sabe o jornal.

Apesar de já terem sido abertos, a PJ continua sem saber as passwords de acesso. Rui Pinto apenas aceitou colaborar caso fosse ele mesmo a introduzir as credenciais de acesso.

“A opção foi o arguido controlar esse momento e introduzir as credencias. Não somos fiéis depositários, a opção foi dele. Não queria revelar quais eram as credenciais de acesso”, disse José Amador, na sétima sessão de julgamento, a decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

Amador argumenta que de pouco vale, já que foram feitas “cópias integralmente iguais” aos ficheiros que estavam no disco.

O inspetor, que está a ser inquirido pelo quarto dia consecutivo, explicou, quando questionado pelo coletivo de juízes, que era o arguido que mantinha o controlo do acesso aos discos, no âmbito das cópias efetuadas pela polícia francesa.

“Nós não temos nenhuma utilidade enquanto colaboradores de outras jurisdições”, acrescentou.

Sobre a colaboração de Rui Pinto com a polícia judiciária, em questão levantada pelo Ministério do Público, o inspetor da PJ adiantou que a situação foi proposta logo após a chegada, mas que isso não aconteceu logo.

“Desde o primeiro dia da chegada [de Rui Pinto a Portugal] foi tentada essa colaboração, houve reuniões, mas não foi possível porque o arguido assim não o entendeu”, revelou o inspetor, acrescentando que apenas no final de março, início de abril, houve uma alteração de postura por parte de Rui Pinto.

Em relação à tentativa de colaboração de Rui Pinto com a Eurojust, José Amador desvalorizou-a, afirmando que “não era possível” na forma que era pretendida pelo arguido.

Entre os documentos analisados nos discos pela PJ, constava uma comunicação com a Europol, de um nível de segurança muito elevado.

“Um protocolo, que é um caminho interno, criptografado e com níveis de segurança muito elevados”, explicitou o inspetor, e que essa situação criou dúvidas se havia algum nível de compromisso, mas que não foi encontrado nenhum indício de vulnerabilidade.

José Amador explicou que essa comunicação dizia respeito ao agendamento de uma reunião em Haia entre as autoridades portuguesas, espanholas e húngaras, num objetivo de uma operação concertada no âmbito do Football Leaks, mas que a mesma não teve consequências.

Rui Pinto terá acedido à sociedade de advogados Vieira de Almeida

A sociedade de advogados Vieira de Almeida (VdA) terá também sido alegadamente acedida por Rui Pinto no contexto do processo Football Leaks, adiantou José Amador.

O inspetor admitiu que o escritório de advogados que representa a Doyen terá sido igualmente visado – à semelhança do que é imputado a Rui Pinto em relação a Sporting, Doyen, Federação Portuguesa de Futebol, a sociedade de advogados PLMJ e a Procuradoria-Geral da República – por ter sido encontrada uma denúncia do CEO do fundo de investimento à então procuradora-geral Joana Marques Vidal nos dispositivos apreendidos ao criador da plataforma.

“No meio de outras entidades que tiveram o mesmo tipo de problema foi o escritório de advogados que representava a Doyen, a Vieira de Almeida. Com elevada probabilidade, [os documentos] terão sido exfiltrados do escritório Vieira de Almeida”, afirmou a testemunha do processo, sublinhando que foi extraída uma certidão deste processo e que está agora em investigação e sob segredo de justiça.

De acordo com José Amador, a PJ não se alongou sobre esta situação em específico porque “o tempo não dava para mais”, sem deixar de lamentar o indeferimento do pedido de especial complexidade do processo que alargaria o tempo de trabalho da investigação.

“Quando nos deparámos com a realidade daqueles discos, percebemos muito rapidamente que estávamos perante uma coisa de dimensão ímpar. Teríamos de ser 10 vezes mais e provavelmente isso não chegaria para metade [da informação]”, frisou, acrescentando: “Não tivemos muito tempo para a análise dos ficheiros e isso presidiu à seleção das entidades que figurariam na acusação”.

Com efeito, o inspetor realçou que Rui Pinto teria acompanhado desde muito cedo a investigação, ao terem sido encontradas “digitalizações muito vastas do inquérito” e “peças específicas” do processo.

Posteriormente, iniciaram-se a fase de questões dos representantes legais dos assistentes no processo a José Amador, com o inspetor a responder ao advogado da FPF, Pedro Barosa, que a atuação de Rui Pinto seguiria “uma lógica de alvo direcionado”. Por outro lado, evitou definir se isto teria sido obra de uma pessoa só ou de várias, defendendo apenas a existência da “chancela de uma pessoa”, com “evidências e modus operandi específicos”.

ZAP // Lusa

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