Pediatras, cardiologistas, enfermeiros e representantes do setor da Saúde do grupo de trabalho encarregado de apoiar a Direção-Geral da Saúde (DGS) na vacinação contra a covid-19 dos menores de idade defendem que a vacina deve ser limitada a casos de risco acrescido.
O Expresso avança, no entanto, que apesar de o grupo reprovar a imunização pediátrica generalizada, a decisão deverá avançar – até porque já foi anunciada pelo primeiro-ministro.
O parecer dos peritos será terminado no início da próxima semana e entregue até quinta-feira à Comissão Técnica de Vacinação para a covid-19. Esta irá redigir o documento final e enviá-lo à diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
Francisco Abecasis, representante da Ordem dos Médicos (OM) no grupo de trabalho, disse ao semanário que, “tal como aconteceu com a vacinação dos adolescentes, vamos ter uma decisão política transvertida de parecer técnico”.
“No caso dos adolescentes, fomos contra por unanimidade, a Comissão Técnica concordou, mas cerca de 10 dias depois mudou de posição, com a DGS a justificar que tinham surgido novos dados de segurança, que não existiam. Pedimos para tornar público o parecer do grupo porque os portugueses precisavam de saber que a decisão tinha sido política e não técnica“, explicou.
“É diferente serem os pediatras a decidir ou ser António Costa, que disse no Parlamento que íamos dar a vacina e ainda nem tínhamos decidido — mas não foi autorizada por nós”, acrescentou o especialista.
Na quinta-feira, na comunicação ao país, António Costa revelou que as primeiras doses pediátricas vão chegar a Portugal no dia 20 de dezembro.
Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, denuncia que o Governo português não foi o único a decidir vacinar todas as crianças a partir dos 6 anos sem decisão técnica de sustentação. “A Comunidade Europeia já disse aos países para se prepararem para distribuir a vacina.”
Mas se há quem se oponha à vacinação pediátrica generalizada, há também quem a defenda. É o caso de Henrique de Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
Em declarações ao Expresso, o epidemiologista referiu que “a vacinação dos 5 aos 11 vai fazer muita diferença, porque é o grupo etário que agora tem mais infeção e terá um impacto na circulação do vírus como teve nos outros grupos”.
“A vacina impede a infeção. Em 100 não vacinados, 60 infetam-se. Em 100 vacinados, infetam-se 18. A resposta vacinal nos mais novos é melhor, pelo que no próximo ano não haverá praticamente infeção entre as crianças”, sustentou.
A Agência Europeia do Medicamento deu luz verde à vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos, mas a Direção-Geral da Saúde só vai decidir se Portugal avança nesse sentido na próxima semana. Apesar disso, o Governo já encomendou 700 mil doses da vacina à Pfizer.
O anúncio da reserva das vacinas foi feito pelo próprio primeiro-ministro António Costa, após a reunião do Conselho de Ministros de quinta-feira.
A primeira remessa, de 300 mil doses, deverá chegar a Portugal a 20 de dezembro e a segunda, de 462 mil doses, é esperada em janeiro.
Coronavírus / Covid-19
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