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EMA autoriza vacina em crianças dos 5 aos 11. Mas os especialistas dividem-se (e ninguém quer a “batata quente”)

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Abir Sultan / EPA

A Agência Europeia do Medicamento decidiu, nesta quinta-feira, autorizar a vacina contra a covid-19 em crianças entre os 5 e os 11 anos. Mas mesmo entre os especialistas, não há consenso e ninguém quer ter na mão a “batata quente” de uma decisão final.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA na sigla original em Inglês) aprovou o uso da vacina da Pfizer na faixa etária entre os 5 aos 11 anos, tal como já tinham feito entidades como a FDA, a equivalente norte-americana.

O organismo europeu reuniu-se hoje, a título extraordinário, para analisar a autorização da vacina, mas a sua aprovação não significa que os Governos da União Europeia (UE) decidam avançar com a vacinação das crianças.

Em Portugal, membros da Comissão Técnica de Vacinação (CTV) já notaram que a luz verde da EMA não será suficiente para dar esse passo – até porque há muita divisão entre os próprios especialistas.

O parecer positivo da EMA será, agora, enviado à Comissão Europeia, que emitirá uma decisão final.

Esta vacina assenta na tecnologia do RNA mensageiro, com instruções para a produção de uma proteína que está naturalmente presente no SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, preparando assim o corpo para combater a infecção.

Sociedade de Pediatria é a favor para evitar confinamentos nas escolas

Nesta terça-feira, a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) considerou que a vacina contra a covid-19 “é segura e eficaz” no grupo etário dos 5 aos 11 anos. Uma posição que choca com a que tinha tomado há cerca de seis meses quando tinha manifestado reservas neste âmbito.

Esta mudança de opinião é justificada com um estudo norte-americano com 1.517 crianças e que terá servido de base à FDA para aprovar a vacina da Pfizer nestas crianças, nos EUA.

A posição da SPP surge depois de a Direcção Geral de Saúde (DGS) ter pedido um parecer para ser analisado pela Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19.

Assim, a SPP entende, como nota em comunicado, que “provada a segurança e eficácia da vacina, poderá ser considerada a sua aplicação neste grupo etário, se isso permitir trazer normalidade à vida das crianças” e, nomeadamente, evitar novos confinamentos nas escolas.

“As vacinas contra a covid-19 são seguras e eficazes, protegem contra doença grave e reduzem a transmissão da infecção, embora não a impeçam por completo. Os resultados mostraram que é segura e eficaz contra a covid-19, tal como noutros grupos etários”, aponta ainda a SPP.

“Avaliação de benefício-risco”

O epidemiologista Manuel Carmo Gomes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, não questiona a posição da SPP, mas levanta dúvidas e nota a importância de fazer “uma avaliação de benefício-risco”, conforme declarações à CNN Portugal.

“Esperamos que os benefícios superem largamente os riscos”, aponta este especialista.

Declaradamente contra a vacinação é o presidente do Colégio da Especialidade de Pediatria (CEP), Jorge Amil Dias, que frisa, em declarações à Lusa, que “ainda não há evidência que justifique” a inoculação de menores de 12 anos.

Jorge Amil Dias questiona também o estudo norte-americano citado pela SPP, considerando que “só avaliou se as crianças desenvolveram anticorpos” e que “não mostrou que esta população ficava mais protegida”, nem que “tinha diminuído a contagiosidade ou que tinha alterado a epidemiologia”. E “em termos populacionais, é um estudo pequeno”, conclui.

“São casos e não doentes”

Numa altura em que têm aumentado os casos de infecções com covid-19 em crianças mais pequenas, Jorge Amil Dias trata de sublinhar que são “casos, e não doentes”.

“Os números que têm sido divulgados de crianças, nomeadamente dos zero aos nove anos, são crianças identificadas não em internamento hospitalar, não em cuidados intensivos, mas, seguramente na sua grande maioria, por testagem nas escolas, porque houve um menino, uma empregada ou um professor que foi positivo”, destaca o presidente do CEP.

A comprovar esta ideia de Jorge Amil Dias, várias fontes hospitalares ouvidas pelo Público confirmam que “o peso da infecção nas urgências e nos internamentos é baixo”.

As urgências pediátricas têm estado cheias de pacientes, mas é mais devido aos outros vírus respiratórios típicos desta época.

Houve “um acréscimo de afluência à urgência quando comparado com Invernos anteriores” que o director da urgência pediátrica do Centro Hospitalar São João, Ruben Rocha, atribui ao facto de ter havido “um grande período em que as crianças praticamente não estiveram expostas aos vírus“. “Acabaram por ter agora a exposição que não tiveram antes”, aponta ao Público.

Mas “o número de positivos [por covid-19] entre as crianças é baixo, menos de 1%“, destaca ainda Ruben Rocha, realçando que apresentam maioritariamente sintomas ligeiros a moderados.

A directora do serviço pediatria/neonatologia do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, Graça Ferreira, nota, também ao Público, um aumento das infecções com covid-19 entre crianças atendidas, mas destaca que “a maioria dos casos são ligeiros”.

O mesmo cenário se verifica no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e no Hospital Amadora-Sintra, conforme fontes ouvidas por este jornal.

“Se não têm doença grave, quantas vezes vão ser vacinadas?”

Nos Cuidados Intensivos pediátricos do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, Inês Salva, refere, ainda conforme declarações ao Público, que “embora os números de infecção estejam a crescer, a apresentação da doença é habitualmente ligeira“.

Inês Salva refere que, nesta altura, há apenas uma criança internada nos cuidados intensivos devido à covid-19, mas tendo uma outra doença associada.

Perante este cenário, a presidente da Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Cristina Camilo, põe em causa a vacinação das crianças.

“Porque se insiste em dizer que é essencial que as crianças estejam vacinadas quando a vacina não é eficaz na prevenção da infecção, mas na doença grave? Se as crianças não têm doença grave, quantas vezes vão ser vacinadas?”, questiona Cristina Camilo.

O Público cita dados do Registo Nacional de Casos Pediátricos de Covid-19 com Internamento em Intensivos, registados desde o início da pandemia e até ao final de Setembro, que indicam a existência de “17 casos pediátricos agudos de covid-19, dos quais 14 tinham sintomas respiratórios” e “apenas uma criança não tinha comorbilidades importantes”.

Graça Freitas ficará “muito satisfeita” se puder recomendar vacinação

Em Portugal, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, já disse que ficará “muito satisfeita” se puder recomendar a vacinação contra a covid-19 a partir dos 5 anos.

“Eu sou fortemente a favor da vacinação”, salientou esta responsável durante uma conferência de imprensa no Ministério da Saúde, mas vincando que para assumir essa decisão é preciso avaliar muito bem os riscos e benefícios.

A directora-geral da Saúde notou que é preciso seguir “etapas” e aguardar, agora, a posição da Comissão Técnica nacional de Vacinação depois do parecer positivo da EMA.

Além dos EUA, também países como Canadá, China, Chile, Argentina, Venezuela e Cuba já estão a vacinar as crianças mais pequenas, a partir dos 3 ou dos 5 anos de idade, conforme os casos.

Na Europa, arrancou um projecto-piloto em Viena, na Áustria, com a vacinação de um grupo de crianças entre os 5 e os 11 anos de idade.

Em Espanha, a ministra da Saúde, Carolina Darias, já atirou a “batata quente” para o conselho de especialistas que assessora o Executivo nas medidas contra a pandemia.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Obrigado sras e srs médicos que ainda têm cérebro e voz para afirmarem que a vacinação em crianças é um completo disparate, eu diria mesmo, um crime.

  2. A mudança de opinião é simples, serão uns quantos presentes debaixo da árvore este ano e na conta bancária nas ilhas virgens ou Caimão para os responsáveis por esta aprovação, paga pelas mesmas farmacêuticas que produzem essa mesma vacina.
    Basta olhar ao resultados de tantos testes que tem aparecido em público de entidades bem reconhecidas em todo mundo, onde reconhecem que mesmo nos adultos algumas das proteínas na medicação irão causar doenças graves a longo termo, imaginem então o que fará isso numa criança.
    Estudos que também existem dizendo que existem imensos riscos ao vacinar crianças que provocará no corpo dessas crianças doenças constantes.
    Já para não dizer que esse estudo para aprovação da vacina em crianças foi pago por quem produz a vacina.
    Qual seriam as probabilidades de o parecer ser negativo???
    Abram os olhos povo, que isto roda tudo a volta dos lucros e não da saúde das povoações mundiais.

  3. Isto sem comentar que a mesma farmacêutica já veio em público dizer que os adultos já com a segunda dose de deveriam ainda ser novamente vacinados no mínimo 2 vezes.
    Fácil de entender essa tomada de posição, quando o dinheiro continua a entrar em cascata e as acções em bolsa da mesma empresa valorizaram 522% no espaço de um ano, isso deveria explicar muito ao mais atentos.
    Quanto a tudo o resto, basta olhar a situação mundial neste mesmo momento e perguntar o que mudou em comparação ao antes vacinação????
    Tudo isto sem contar que eu próprio já tive vários colegas com graves problemas cardíacos sem qualquer motivo e os quais nunca tiveram qualquer tipo de problema de saúde…

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