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A Suíça pondera abandonar a sua histórica neutralidade

A secular neutralidade da Suíça pode já não ser adequada ao mundo moderno. Segundo os especialistas, já não protege a nação — que acaba de ser brutalmente atingida pelos estilhaços da guerra das tarifas impostas por Donald Trump.

A Suíça, há muito considerada um bastião de neutralidade permanente, enfrenta desafios fundamentais à sua posição internacional como resultado das tarifas impostas pelos Estados Unidos sob a administração Trump, diz o The Wall Street Journal.

O princípio da neutralidade é, desde o século XIX, o fundamento central da política externa da Suíça. Em 1815, no Congresso de Viena, as grandes potências europeias reconheceram oficialmente a neutralidade perpétua do país — que garantia a sua independência e segurança e a afastou das duas guerras mundiais.

Entretanto, o mundo mudou.

No dia 7 de agosto, os Estados Unidos impuseram uma taxa sem precedentes de 39% sobre produtos suíços, uma das tarifas mais elevadas do mundo. Estas taxas atingem diretamente as principais exportações da Suíça — incluindo os seus famosos relógios, chocolate, produtos farmacêuticos e maquinaria.

Em comparação, os estados membros da União Europeia beneficiam, ao abrigo do acordo recentemente estabelecido, de uma tarifa reduzida de 15%, o que deixa as empresas suíças com um fardo bastante mais pesado.

Em resposta, algumas empresas suíças estão a ponderar deslocalizar a produção para países com tarifas americanas mais baixas.

Os especialistas dizem que a crise evidencia que a estratégia tradicional de neutralidade da Suíça, mantida durante séculos nos interstícios entre as grandes potências, pode já não funcionar como rede de segurança.

A Suíça obteve reconhecimento internacional como Estado Neutro, dando a garantia de não participar em guerras — em troca de garantias de independência e integridade territorial.

Com o tempo, a Suíça aproveitou frequentemente a sua neutralidade para servir como mediadora não oficial entre grandes potências e zonas de conflito, fortalecendo a sua influência nos assuntos internacionais. As mudanças recentes no ambiente global estão a pôr à prova esta tradição.

“A era em que a Suíça podia navegar livremente entre os blocos das grandes potências chegou ao fim”, diz Jon Pult, Vice-Presidente do Partido Social Democrata suíço.

“A neutralidade proteger-nos de todas as ameaças é um mito — só funciona se os outros países a respeitarem”, nota por seu turno Stefanie Walter, professora de Ciência Política da Universidade de Zurique.

Esta não é a primeira vez que a neutralidade suíça é posta em causa. Durante a invasão russa da Ucrânia em 2022, a Suíça enfrentou pressão internacional e alinhou-se com as sanções da UE contra a Rússia, afastando-se da sua tradicional neutralidade política.

Entretanto, na sequência da atual crise tarifária, cada vez mais vozes apelam por laços mais estreitos com a UE.

“Embora aderir à UE continue difícil, pequenas nações como a nossa correm o risco de ser esmagadas“, diz Hans-Peter Portmann, membro da comissão de política internacional do Partido Democrático Liberal suíço. “Esta situação oferece uma oportunidade para reavaliar as prioridades geopolíticas“, conclui.

ZAP //

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