“Interação antagónica”. Cafeína reduz a eficácia de alguns antibióticos

Eric Erbe, Christopher Pooley / USDA, ARS, EMU / Wikipedia

Micrografia eletrónica a baixa temperatura de um aglomerado de bactérias E. coli, ampliada 10.000 vezes

Segundo um novo estudo, conduzido por uma equipa de investigadores liderada pela portuguesa Ana Rita Brochado, alguns ingredientes da nossa dieta diária — incluindo a cafeína — podem influenciar a resistência das bactérias aos antibióticos.

O café anima-nos e ajuda-nos a ter um melhor desempenho em diversos tipos de atividades. Infelizmente, a cafeína presente no café também pode estimular as bactérias que vivem no nosso organismo, tornando-as mais resistentes aos antibióticos.

Esta é a descoberta inesperada de uma equipa de investigadores da Universidade de Tübingen e da Universidade de Würzburg, liderada pela engenheira biológica portuguesa Ana Rita Brochado.

Bactérias como a Escherichia coli usam cascatas regulatórias complexas para reagir a estímulos químicos do seu ambiente direto, o que pode influenciar a eficácia dos medicamentos antimicrobianos.

Num rastreio sistemático, a equipa investigou como 94 substâncias diferentes — incluindo antibióticos, medicamentos prescritos e ingredientes alimentares — influenciam a expressão de reguladores genéticos chave e das chamadas proteínas de transporte da E. coli.

Estas proteína funcionam como poros e bombas no ambiente bacteriano, e controlam que substâncias entram ou saem da célula.

Os resultados do estudo, que foram apresentados num artigo recentemente publicado na LOS Biology, mostram que várias substâncias podem influenciar, de forma subtil mas sistemática a regulação genética nas bactérias.

“Os nossos resultados sugerem que mesmo substâncias quotidianas sem um efeito antimicrobiano direto — por exemplo, bebidas com cafeína — podem ter impacto em certos reguladores genéticos que controlam as proteínas de transporte, alterando assim o que entra e sai da bactéria”, diz Christoph Binsfeld, microbiólogo da Universidade de Würzburg e primeiro autor do estudo, citado pela Sci News.

“A cafeína desencadeia uma cascata de eventos, começando com o regulador genético Rob e culminando na alteração de várias proteínas de transporte na E. coli — o que por sua vez leva a uma redução da absorção de antibióticos como a ciprofloxacina”, acrescenta Rita Brochado. “Como resultado, a cafeína enfraquece o efeito deste antibiótico.”

Os investigadores descrevem este fenómeno como uma ‘interação antagónica‘.

Este efeito de enfraquecimento de certos antibióticos não foi detetável na Salmonella enterica, um patógeno intimamente relacionado com a Escherichia coli., o que mostra que mesmo em espécies bacterianas semelhantes, os mesmos estímulos ambientais podem levar a reações diferentes — possivelmente devido a diferenças nas vias de transporte ou na sua contribuição para a absorção de antibióticos.

Os resultados do estudo podem ter implicações em futuras abordagens terapêuticas no tratamento com antibióticos — que deveriam incluir não só a dosagem e tipo de medicamentos, mas também a dieta dos pacientes durante a terapia.

ZAP //

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