
O cartoon tornou-se tão popular que foram feitas bonecas Lilli. O design acabou por inspirar a Barbie
Há 70 anos, um tabloide alemão criou a boneca Lilli, uma figura de fantasia masculina baseada numa personagem de banda desenhada, que acabou por inspirar outra boneca icónica — a Barbie.
A precisar de preencher um espaço na primeira edição do tabloide alemão Bild, em 1952, o cartoonista Reinhard Beuthien criou Lilli, uma personagem sensual inventada para atrair leitores masculinos.
As instigantes aventuras de Lilli em banda desenhada eram como cenas de um filme erótico: por vezes, falava de um camionista que a “ajudou” quando o seu carro avariou, deixando o seu vestido coberto de marcas de mãos oleosas.
Noutra ocasião, ela provoca um polícia numa praia onde os fatos de banho de duas peças são proibidos, perguntando-lhe: “Que parte devo tirar?”
Quem diria que uma versão desta caricatura sexualizada, com os seus seios fartos e lábios vermelhos, estaria um dia presente na vida de milhões de crianças?
Mas quando Lilli se tornou uma boneca, em agosto de 1955 — conhecida como Bild Lilli —, cedo inspirou a criação da Barbie, o brinquedo “da moda” mais vendido no mundo.
Objeto sexista outrora tido como “atrevido” e “independente”
De acordo com o editor do Bild, Axel Springer, Lilli era uma “secretária atrevida”. Mas várias fontes interpretam-na mais como uma call girl ou acompanhante de luxo.
Seja secretária ou prostituta, uma coisa é certa: Lilli não foi concebida como um brinquedo infantil. Com as suas curvas seminuas, rabo de cavalo alto e loiro e saltos altos, a estética de Lilli era mais próxima da de uma pin-up girl.
Hoje, os críticos diriam que Lilli é retratada puramente como um objeto de desejo criado para saciar o olhar masculino. Mesmo assim, o Bild ainda hoje a descreve como “atrevida, sexy, independente!”
Lilli rapidamente se tornou tão popular entre o público predominantemente masculino do jornal que o Bild a transformou numa boneca de plástico em 1953. Era, alegadamente, um presente popular entre os homens, incluindo para despedidas de solteiro, e era vendida em tabacarias, bares e quiosques.
Entre 1955 e 1964, o Bild vendeu cerca de 130 mil Lillis com diversas roupas e acessórios que também atraíam o público feminino. Lilli tornou-se rapidamente um best-seller, mesmo para além das fronteiras da Alemanha.
Líder da Mattel transforma Lilli em Barbie
Talvez a Lilli, com pouca roupa, ainda hoje estivesse a estampar as páginas do jornal Bild, não fosse Ruth Handler.
Handler, cofundadora da empresa de brinquedos Mattel, descobriu Lilli por acaso numa montra durante umas férias em Lucerna, na Suíça, em 1956; ela e a filha, Bárbara, ficaram encantadas.
Handler enviou várias Lillis para Los Angeles. Em 1959, a Barbie — batizada em homenagem à filha de Handler, Barbara, e inspirada em Lilli — foi lançada e, desde então, vendida mais de mil milhões de vezes. A Mattel adquiriu os direitos da boneca Bild Lilli em 1964 e interrompeu a sua produção.
Desde então, a Barbie tem sido uma presença dominante nos quartos infantis de todo o mundo e foi a inspiração para um dos filmes com maior receita de bilheteira de sempre.
E o que aconteceu a Lilli? A banda desenhada original terminou em 1961, depois de a secretária “atrevida e independente” se ter casado com o seu namorado Peter e desaparecido para sempre.
ZAP // Deutsche Welle