Antoine Lopes Griezmann. Podia ser assim, mas em França não era habitual colocar o apelido da mãe no bebé. Ficou apenas Antoine Griezmann.
Nasceu em Macôn mas se seguirmos a pista da sua ascendência chegamos a Paços de Ferreira, no norte de Portugal, a famosa Capital do Móvel.
O avô de Antoine Griezmann chamava-se Amaro da Cavada e ficou na história do FC Paços de Ferreira. Antoine Griezmann tem no seu ADN futebolístico traços vincados do avô português.
Defesa raçudo, “exemplo da garra pacense”, Amaro fez parte da equipa pioneira na Capital do Móvel. O clube surgiu em abril de 1950, sob o nome FC Vasco da Gama, e no plantel destacavam-se elementos como o avançado Agostinho Alves, o guarda-redes Leão e o avô de Antoine Griezmann.
Amaro Lopes representou o Paços, então Vasco, na primeira metade da década de 50. Era da zona da Cavada, nome do recinto que acolhia a equipa, e a alcunha ficou gravada no livro FC Paços de Ferreira – 1950/2000 – 50 anos de história: Amaro da Cavada (primeiro em baixo, em 1948).
“É pena o Antoine não jogar com as cores de Portugal”
A comunidade portuguesa de Mâcon, a cidade francesa onde cresceu o jogador Antoine Griezmann, acredita que Portugal vai ganhar a França por 2-1 na final do Euro 2016, com golos de Ronaldo, Nani e de… Antoine Griezmann.
“É uma brincadeira, mas o que se diz aqui é que Portugal vai ganhar por 2-1 com golos de Ronaldo, Nani e do terceiro português, o Antoine Griezmann“, disse à agência Lusa Antero Pacheco Leal, secretário-geral do Sporting Club de Mâcon, onde joga o irmão do avançado dos Bleus, Théo Griezmann.
O tema tem sido motivo de conversa nos cafés, na imprensa francesa e nas redes sociais, sobretudo desde que Antoine Griezmann colocou a França na final do Euro 2016 contra Portugal, graças a dois golos marcados contra a Alemanha, o que não surpreende Antero Pacheco Leal, porque “na família Griezmann e Lopes respira-se futebol“.
O jogador francês, filho de mãe lusodescendente, é neto de Amaro Lopes, que jogou no Paços de Ferreira na primeira metade da década de 50, mas “os tios Manu e José Lopes jogaram e foram treinadores do Sporting Club de Mâcon, assim como o pai” Alain Griezmann e o irmão, que ainda joga neste clube.
No domingo, o Sporting Club de Mâcon vai projetar o jogo Portugal-França numa sala “capaz de acolher até 150 pessoas e vão ser servidas moelas” para os portugueses que vão torcer pelas ‘quinas’, ainda que “o filho da terra” jogue com as cores de França.
“Os portugueses não estão divididos, são por Portugal, mas dizem ‘Que ganhe o melhor’. Temos orgulho, porque o Antoine é um filho da terra e estamos contentes por ele, mas os portugueses não esquecem de onde vêm, mesmo os que têm nacionalidade francesa, mas que no fundo são portugueses”, continuou o dirigente desportivo e vice-presidente da associação Mâcon Portugais.
Ainda assim, Antero Pacheco Leal, que chegou a Mâcon ainda bebé há 50 anos vindo de Paços de Ferreira, admitiu que “se a França ganhar, a comunidade portuguesa fica contente pelo Antoine Griezmann, pela família Lopes e pela família Griezmann“, ainda que isso não signifique que vá “celebrar a vitória da França”.
David Vaz, presidente do grupo folclórico Os Lusitanos de Mâcon, que faz parte da associação Mâcon Portugais, explicou à Lusa que “os mais velhos vão apoiar Portugal e os mais novos é 50-50″.
“A comunidade portuguesa está a viver a final com euforia, porque temos a sorte de termos um jogador na equipa de França que é metade francês e metade português e os pais dele já fizeram e ainda fazem parte da associação”, contou.
De qualquer modo, David Vaz, que já nasceu em França, avançou que “portugueses e franceses vão ver juntos o jogo na associação e vai haver festa, quer ganhe Portugal quer ganhe a França”, ainda que ele próprio vá torcer por Portugal, porque “seria o grande título para a comunidade portuguesa em França“.
“Temos sócios que são franceses e os franceses gostam muito da comunidade portuguesa em Mâcon. Não vai haver guerra, é mesmo festa, seja a França ou Portugal o campeão”, disse o lusodescendente de 36 anos, que sublinhou que “Portugal está a jogar em casa”.
Armando Gomes, antigo secretário-geral do Sporting Club de Mâcon, é mais um português oriundo de Paços de Ferreira, como “a maior parte dos portugueses de Mâcon”, e conheceu Antoine Griezmann “desde pequenino”.
“Foi sempre um rapaz simpático, não falava muito e gostou sempre da bola. Foi sempre um bom rapaz e humilde. Nunca o ouvi falar português”, contou à Lusa o português, que vive há mais de 40 anos em França.
Armando Gomes tem orgulho no francês com raízes portuguesas, mas isso não o impede de apoiar a seleção na final contra a França.
“Contra Portugal não quero que o Antoine marque golos. Contra os outros países claro que queria. Nós somos por Portugal, o que não devia ser era contra a França. É normal que apoiemos Portugal, mesmo que ele seja da nossa terra”, declarou.
Ainda assim, e como Griezmann “tem um bocadinho de sangue português”, Armando afirma: “Olhe, que o melhor ganhe. Portugal estar na final já é bom.”
Bernardo Martins, presidente do Cluny Foot, um clube local, também conhece bem o pai, Alain, que já jogou contra o seu clube e viu Antoine Griezmann dar os primeiros passos na bola.
“O Antoine é pena não jogar com as cores de Portugal, ele é mesmo muito bom. Depois, fala com toda a gente, é muito calmo e humilde”, descreveu o português de 65 anos, apostando que “exceto o pai e a mãe que são pelo filho, o resto da família deve estar com o coração bem dividido”.
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