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O equipamento é mais importante do que parece. A ciência prova que influencia o desempenho das equipas

Os equipamentos de futebol estão na moda. Mas, mais do que moda, são estratégia. A sua cor parece ter um impacto significativo no desempenho desportivo.

A época começou; e os adeptos tanto debatem as contratações do seu clube, as opções do treinador, como os novos equipamentos.

Um estudo de 2005 revelou que a cor da camisola pode dar às equipas uma vantagem de desempenho, principalmente o vermelho.

Curiosamente, nessa altura equipas como Arsenal, Manchester United, Liverpool e AC Milan estavam em grande forma.

Desde então, este efeito dos equipamentos vermelhos conduzirem a maior sucesso tem sido analisado ao detalhe pela ciência.

Em Portugal, sabemos que os “encarnados” são o clube mais titulado. Mas, na Premier  League, por exemplo, mais de metade de todos os campeões vestiram equipamentos principais vermelhos.

Mas não é só no futebol. Esse analisou os Jogos Olímpicos de 2004 e descobriu que em desportos de combate, onde as cores vermelho e azul são atribuídas aleatoriamente, atletas que vestem de vermelho tendem a sair vencedores.

Estes efeitos também foram provados pela ciência no Râguebi e até nos esports.

Mas porquê isto? O especialista em psicologia do desporto, Zoe Wimshurst, explica, num artigo no The Conversation, que, tanto de uma perspetiva cultural como biológica, o vermelho está associado à dominância e agressividade.

Por um lado, vestir vermelho mostra aumentar os sentimentos de dominância dos jogadores. Por outro lado, um adversário que está a vestir vermelho é percecionado como mais ameaçador.

Polémico: “e os árbitros…”

Um estudo, de 2008, também mostrou que árbitros de taekwondo, por exemplo, atribuem mais pontos a lutadores em vermelho do que azul – mesmo quando manipulação digital lhes permite ver exatamente a mesma luta apenas com as cores invertidas.

Outro estudo, desta vez no futebol, também revelou que os avançados marcam menos golos quando enfrentam um guarda-redes vestindo vermelho.

Há outras cores úteis

O dourado é um forte concorrente pois oferece alta visibilidade tanto à luz do dia como sob holofotes.

Cores mais claras que oferecerão um alto contraste contra o relvado também se destacarão.

Psicólogos chamam a isto “color singletons”, tonalidades que são únicas no campo visual. A ciência mostra que a nossa atenção é automaticamente atraída para elas.

Cores invulgares que são improváveis de coincidir com aquelas encontradas no relvado ou nas placas publicitárias tornarão os jogadores mais fáceis de detetar num lance.

Os padrões também importam. Riscas de alto contraste, por exemplo, podem ajudar a separar um objeto em movimento do seu fundo.

Efeito camuflagem

Apesar desta evidência, nem um único clube da Premier League escolheu vermelho para um equipamento alternativo esta época. Em vez disso, há algumas escolhas novas como lilás, creme e turquesa.

Um exemplo anterior de uma escolha nova de equipamento a não funcionar tão bem foi em 1996 quando o infame equipamento cinzento alternativo do Manchester United foi abandonado a meio do jogo depois de estar a perder 3-0 com o Southampton.

O treinador, Alex Ferguson, afirmou que os jogadores não conseguiam ver-se claramente uns aos outros. Não era só uma desculpa, o cinzento confundia-se com o betão do estádio e as várias cores das bancadas.

Biologia atesta estas teorias

Efeitos de camuflagem como este estão bem documentados na biologia.

De facto, os animais dependem desta técnicas para tornar a deteção por predadores mais difícil. Num estádio de futebol, cinzentos ou castanhos podem ter o mesmo efeito.

O novo equipamento castanho alternativo do Brentford, por exemplo, arrisca um problema semelhante, especialmente em condições nubladas ou com bancadas de fundo em betão.

Equipamentos pretos podem também desvanecer-se no fundo, particularmente em condições de pouca luz onde há reduzido contraste.

Nesta época, permanecendo na Premier League, Tottenham Hotspur, Manchester City e Aston Villa têm todos camisolas alternativas pretas que poderiam levar a menor visibilidade entre os colegas de equipa.

Mas camuflagem não está limitada a cores baças. O equipamento alternativo verde do Newcastle, embora brilhante, é provável que se funda com o relvado, particularmente na perceção periférica dos jogadores onde o sistema visual humano não foi desenhado para ver cores claramente.

Outra armadilha visual subtil é o “countershading”, um gradiente que vai de escuro a claro encontrado em muitos animais para os tornar menos detetáveis.

No futebol, uma camisola escura com calções claros também pode confundir. Isto é ótimo para um veado a evitar predadores, menos útil para o médio que está a tentar localizar o teu avançado no “espaço”.

Então porque não usam os clubes esta ciência para selecionar equipamentos? Provavelmente, a resposta está… no estilo.

“A cor não é apenas moda. Está também ligada à psicologia, perceção e física. A tonalidade certa pode tornar-te inconfundível, a errada pode fazer-te desaparecer. No desporto de elite, com margens tão finas entre sucesso e fracasso, a cor do equipamento é algo que não deveria ser negligenciado”, conclui Zoe Wimshurst.

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