Os pássaros estão cada vez mais chatos. A culpa é dos lampiões

Os pássaros expostos a luz artificial cantam quase mais uma hora por dia do que aqueles que não estão expostos a postes de iluminação.

Um estudo publicado esta quinta-feira na Science revelou que a luz artificial está a prolongar a atividade dos pássaros.

Para chegarem a esta conclusão, os investigadores da Southern Illinois University e da Oklahoma State University analisaram 2,6 milhões de inícios de cantos de pássaros de manhã e de cessações ao fim da tarde.

Os investigadores estudaram os padrões de 583 espécies diurnas; e descobriram que as aves das zonas com maior poluição luminosa causada pelo homem cantam durante mais 50 minutos do que as que não estão expostas a luz adicional.

Detalhadamente, as aves nas paisagens mais brilhantes começaram a cantar cerca de 18 minutos mais cedo do que as das zonas mais escuras, e continuam a cantar durante 32 minutos mais tarde durante a noite.

Os investigadores afirmam que as aves mais afetadas foram as espécies com olhos grandes, ninhos abertos e grandes áreas de distribuição.

Os efeitos da poluição luminosa nos padrões de canto foram também mais notórios durante as épocas de reprodução. A equipa afirma que não é claro se o impacto no canto é positivo, negativo ou neutro em termos da saúde das aves.

“Por um lado, 50 minutos de atividade prolongada podem representar uma perda substancial de tempo de repouso, particularmente durante a época de reprodução, que é um período já exigente para as aves”, disseram os cientistas no seu estudo, citados pela New Atlas.

“No entanto, a atividade prolongada pode não se traduzir num débito de sono e nos seus efeitos prejudiciais se as aves puderem descansar durante o dia, dormir mais intensamente durante os períodos de não atividade ou dormir com um hemisfério cerebral durante a atividade. De facto, as mudanças na atividade relacionadas com a poluição luminosa podem levar a efeitos positivos na aptidão física se facilitarem o aumento do tempo de procura de alimentos ou a produção reprodutiva”, acrescentam.

Atualmente, estima-se que 80% da vida na Terra vive sob céus poluídos pela luz – áreas onde a luz produzida pelo homem faz recuar a escuridão natural que o planeta teria durante a noite.

Este fenómeno é conhecido como skyglow, e tem causado vários constrangimentos como a morte de insetos que colidem com as luzes; a perturbação dos padrões de migração noturna das aves; a alteração dos ritmos hormonais sazonais; e problemas com os hábitos reprodutivos.

Miguel Esteves, ZAP //

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