Há cada vez menos estrelas no céu. E a culpa é nossa

A investigação baseou-se em observações feitas num projeto científico com a participação de cidadãos comuns.

Atualmente, quem quiser desfrutar de uma noite de céu estrelado terá, quase obrigatoriamente, que sair dos grandes centros urbanos — caso aí viva. Isto porque, no meio de todas as luzes emitidas pelas estruturas inerentes à vida humana, é difícil encontrar um segmento de céu realmente escuro. No entanto, para os amantes de astronomia este é apenas o início das más notícias.

De acordo com um novo estudo científico, o céu está a ficar cada vez mais claro — cerca de 9,6% a cada ano que passa — o que quer dizer que menos estrelas são visíveis, com tendência a que se tornem indistinguíveis.

Em causa está a poluição luminosa, muitas vezes referida em inglês como skyglow, a qual tem impacto na capacidade dos indivíduos de verem as estrelas, mas também na diversidade existente na Terra e nas populações de animais. Não precisamos de esperar mais anos para termos zonas do globo em que o céu nunca fica totalmente escuro — não por consequência da sua latitude, mas pelo aumento da poluição.

Na investigação, a equipa baseou-se em observações feitas num projeto científico com participação de cidadãos comuns, intitulado “Globe at Night”, no qual qualquer pessoa poderia reportar o quão luminoso estava o céu na sua região, apenas por observar a constelação de Orion.

Durante os trabalhos, a equipa analisou mais de 50 mil observações feitas entre 2011 e 2022. Apesar de, à partida, esta ser uma quantidade significativa de dados, a verdade é que as observações não foram feitas de forma contínua — já que as pessoas se tendem a deslocar — e não são representativas de todo o planeta, já que os cientistas-cidadãos que integraram o projeto não estão espalhados por todo o mundo.

Apesar da existência de dados desde 2011, os cientistas estabeleceram 2014 como o ano de referência para o início das comparações. É, por isso, possível afirmar que as coisas mudaram nos últimos anos, para não dizerem que pioraram. “O que constatamos é queda realmente dramática na forma como as estrelas podem ser vistas em comparação com o mapa de 2014″, explicou Christopher Kyba, do Centro Alemão de Pesquisas para as Geociências,

Ao IFL Science, o cientista explicou que a situação não é uniforme, já que, perante a inexistência de um sistema que monitoriza a evolução da poluição a nível mundial, o que a sua equipa constatou foi que o aumento da luminosidade foi mais pronunciado nos Estados Unidos e menos na Europa. De facto, devido à luz artificial, a luminosidade das regiões usadas como referência aumentou entre 7 a 10% todos os anos.

Como tal, apontam os cientistas, é provável que, a este ritmo, um individuo que tenha nascido num determinado sítio onde era possível ver 250 estrelas, aos seus 18 anos só conseguiria vislumbrar 100, exemplifica Kyba. “É uma mudança muito grande!”, diz.

Outro fator curioso que a investigação veio revelar é a discrepância entre os valores descobertos e os reportados pelos satélites, que só apontam para um aumento de 2%. Segundo o principal cientista da investigação, há vários fatores que podem explicar a diferença. Por exemplo, os satélites captam a luz diretamente, mas durante a última década pode ter havido um aumento da luz no sentido lateral.

Também durante este período, houve também um aumento de LEDs brancos em comparação com as luzes laranja de sódio. Os satélites não vêem esta luz tanto como nós vemos. A luz azul espalha-se mais pelo ar (é mais difusa), o que poderia ser um fator que contribuiria para que o céu parecesse mais luminoso para nós.

ZAP //

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