Novo estudo sugere que o Sudário de Turim cobriu, sim, uma escultura — o que condiz com a conclusão da datação de carbono de 1989.
Diz o Cristianismo que o Santo Sudário (ou Sudário de Turim) foi o tecido que envolveu o corpo de Jesus após a sua crucificação, mas um novo estudo, publicado esta segunda-feira na revista Archaeometry, desmente a crença de longa data.
A investigação brasileira, conduzida por Cicero Moraes, garante que a imagem do Sudário não pode ter sido criada pelo contacto com um corpo humano tridimensional. É sim mais provável que a imagem tenha sido criada a partir de uma escultura em baixo-relevo.
O designer brasileiro, especializado em reconstruções faciais históricas, recorreu a modelação digital e software 3D para o provar. Comparou o comportamento de um tecido ao ser colocado sobre um corpo humano tridimensional, face a quando é posto sobre uma escultura em baixo-relevo.
Os resultados mostraram que o padrão observado no sudário é mais compatível com a forma como o pano se ajusta a uma superfície plana com relevo reduzido.
“A imagem no Sudário de Turim é mais consistente com uma matriz de baixo relevo”, confirmou Moraes à Live Science. “Tal matriz poderia ter sido feita de madeira, pedra ou metal e pigmentada (ou mesmo aquecida) apenas nas zonas de contacto, produzindo o padrão observado”.
A veracidade do Sudário e da história que o rodeia é controversa desde a sua descoberta, no final do século XIV.
Em 1989, uma datação por radiocarbono indicou que a peça não passava de um artefacto medievel, produzida entre 1260 e 1390 — o que coincide com a descoberta brasileira de agora, uma vez que representações religiosas em baixo-relevo — como lápides esculpidas — eram comuns na Europa nessa altura.
Na prática, Moraes criou dois modelos digitais: um corpo humano tridimensional e uma versão em baixo-relevo. Ao simular o ato de cobrir ambos com o tecido virtual, concluiu que apenas o modelo em baixo-relevo gerava uma imagem semelhante à do sudário fotografado em 1931. No modelo tridimensional, a imagem sofria distorções, fenómeno que Moraes apelidou de “efeito da Máscara de Agamémnon”, em alusão à máscara mortuária grega cuja forma foi alargada ao ser pressionada sobre um rosto real.
Embora exista uma “remota possibilidade de que se trate de uma impressão de um corpo humano tridimensional, é plausível considerar que artistas ou escultores com conhecimentos suficientes poderiam ter criado tal peça, seja através da pintura ou do baixo relevo”, diz o autor.