“Número 2” de Carlos Ghosn na Nissan declara-se inocente

Frank Robichon / EPA

Greg Kelly, antigo colaborador de Carlos Ghosn na Nissan, acusado de má gestão financeira, declarou-se “não culpado” na abertura do processo judicial que começou esta terça-feira em Tóquio.

Carlos Ghosn, o ex-administrador da Nissan e figura principal do processo encontra-se a monte, no Líbano, para onde fugiu depois de ter estado preso preventivamente no Japão.

“Eu penso que os elementos atestaram que não violei as regras” do mercado bolsista japonês”, disse Greg Kelly, de 64 anos, na primeira sessão do julgamento que deve durar dois meses. Kelly, que foi preso há dois anos no Japão, compareceu no tribunal de Tóquio acompanhado de três advogados.

Greg Kelly e Carlos Ghosn foram presos no mesmo dia, em 2018. O antigo homem forte do grupo Renault-Nissan fugiu à justiça japonesa, deixando Kelly na primeira linha do processo. Kelly e a empresa Nissan foram acusados de terem omitido nos relatórios bolsistas anuais da empresa construtora de automóveis remunerações, entre 2010 e 2018, num valor total de 73 milhões de euros.

“Eu nego as acusações. Não participei em nenhuma ‘conspiração criminosa’”, declarou Kelly, que pode vir a ser condenado a 10 anos de cadeia.

Na mesma sessão, Kelly reconheceu que trabalhou com outras pessoas de “forma legal” remunerando Ghosn, desde 2010, para o dissuadir de abandonar a empresa para trabalhar num outro grupo onde seria melhor remunerado.

Na altura, disse, era do interesse da Nissan reter Ghosn – “um dirigente extraordinário” que tinha salvado a Nissan protegendo “ferozmente a independência” da empresa em relação à Renault.

No princípio do ano, quando protagonizou a primeira aparição pública, em Beirute, após a fuga do Japão, Ghosn reafirmou ter sido vítima de um “golpe montado” por certos responsáveis da Nissan que o queriam “fazer cair” por ter evitado que a aliança Renault-Nissan tivesse sido transformada numa fusão.

Kelly foi libertado no final do ano de 2018, depois do pagamento de uma caução, após um mês detido, e com a condição de não abandonar o Japão até ao início do julgamento. O arguido não conseguiu o depoimento direto de testemunhas abonatórias que segundo os advogados “seriam muito úteis” ao acusado porque são estrangeiros e não querem estar presentes por “não confiarem na justiça japonesa”.

“Eles têm medo e não vêm testemunhar no Japão”, disse à France-Presse James Wareham, um dos advogados de Kelly.

O tribunal não autorizou a participação das testemunhas por vídeo conferência.

Em 2019, a Nissan pagou 20 milhões de euros à Agência Japonesa de Serviços Financeiros (FSA) por ter omitido as referências sobre os pagamentos a Ghosn. Entretanto, o fabricante japonês já aceitou pagar 15 milhões de dólares nos Estados Unidos, após a conclusão de um acordo com as autoridades norte-americanas sobre o mesmo assunto.

Ghosn, que tal como Kelly diz estar totalmente inocente, aceitou pagar um milhão de dólares às autoridades financeiras norte-americanas para evitar ser processado nos Estados Unidos sob a mesma acusação. Da mesma forma, Kelly aceitou pagar 100 mil dólares às autoridades dos Estados Unidos.

A notícia da fuga de Carlos Ghosn apanhou de surpresa as autoridades nipónicas. Os serviços de estrangeiros e fronteiras não tinham qualquer informação sobre a saída de Ghosn. Ghosn terá usado um avião particular com destino à Turquia e depois ao Líbano. Ghosn ter-se-á escondido numa caixa destinada a equipamentos musicais.

Ghosn terá entrado no Líbano com um passaporte francês. O objetivo da fuga seria encontrar um ambiente jurídico mais favorável para Ghosn. O Líbano tinha iniciado contactos com o governo japonês para que o gestor fosse julgado em Beirute.

Desconhece-se ainda como Carlos Ghosn conseguiu escapar para a capital do Líbano e quando começou a preparar o plano que segundo o próprio foi elaborado “sozinho”. No entanto, as autoridades estão a tentar perceber se houve cúmplices.

O Líbano recebeu um mandado internacional da Interpol para a detenção do ex-presidente da Renault-Nissan. As autoridades turcas já detiveram e colocaram sob custódia sete pessoas, incluindo quatro pilotos, todos suspeitos de ajudar Ghosn a fugir do Japão para o Líbano.

ZAP // Lusa

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