“Se o ministro puxou as orelhas à ministra teria razão”. Temido finta polémica com Costa, mas terá cabeça “a prazo”

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Nuno Fox / Lusa

A ministra da Saúde, Marta Temido

Depois da explosão de António Costa que se irritou com a forma como a ministra da Saúde falou da pandemia de covid-19, Marta Temido foge à polémica. E se é seguro que a ministra tem o lugar garantido para já, começa a crescer a ideia de que a sua cabeça está “a prazo” no Governo.

“Se o ministro puxou as orelhas à ministra teria certamente razão”. Foi, desta forma, que Marta Temido reagiu quando questionada pelos jornalistas se tinha levado um “puxão de orelhas” de António Costa, na reunião no Infarmed, onde foi analisada a situação da pandemia de covid-19 em Portugal.

Numa altura em que os novos casos de infectados continuam a aumentar em Portugal, com especial destaque para a região da Grande Lisboa, parece haver alguma tensão no seio do Governo. Na dita reunião, o primeiro-ministro terá manifestado o seu desagrado com os dados que lhe têm chegado, numa crítica que aponta à Direcção Geral de Saúde (DGS).

Mas também Temido surge na mira de Costa, como ficou patente na reunião do Infarmed. O primeiro-ministro interrompeu a ministra em tom exaltado quando ela falava do “confinamento no Norte” no início da pandemia. Costa fez questão de salientar que nunca houve confinamento e que a actividade económica se manteve sempre em funcionamento.

A questão é importante numa altura em que se pedem medidas mais restritivas para Lisboa, onde está, actualmente, o foco da pandemia.

O autarca de Ovar falou de impôr um cerco sanitário a Lisboa, mas há especialistas que defendem que é “impossível” aplicar a medida.

Certo é que Costa não pretende que o seu Governo faça esse tipo de abordagem. “Esse discurso não é útil“, terá dito o primeiro-ministro na cara de Temido, na reunião do Infarmed, a propósito da questão do confinamento, como reporta o semanário Sol.

O jornal aponta que “a continuidade da ministra no Executivo é dada como inquestionável”, especialmente quando estamos a meio de uma pandemia e depois da saída recente de Mário Centeno. “Seria impensável uma remodelação da principal responsável pela coordenação do combate” à covid-19 a meio da guerra contra o vírus, frisa o Sol.

O semanário lembra, porém, que “a nomeação do gabinete de supressão para a covid-19 em Lisboa já tinha sido encarada como um cartão amarelo à ministra da Saúde“. Para o cargo foi apontado o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, que não tem qualquer “experiência na Saúde”, focando, assim, o seu papel num âmbito mais político.

Entretanto, há indicações de que a situação em Lisboa, com o aumento de casos, descarrilou devido à falta de técnicos, no que terá sido “uma falha de planeamento“.

Deste modo, começa a crescer a ideia de que Temido está “a prazo” no Governo, segundo a mesma fonte que evidencia que o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, “se tem revelado em matéria de comunicação e de gestão da crise”. O seu nome pode, assim, surgir como uma alternativa de futuro e de continuidade para suceder a Temido.

Uma fonte do PS, identificada pelo Sol como “um destacado socialista”, lembra o que aconteceu com Constança Urbano de Sousa durante os incêndios de 2017. A então ministra da Administração Interna só foi substituída depois do rescaldo dos trágicos fogos. O mesmo pode vir a acontecer com Temido.

A ministra prefere ignorar a polémica, atribuindo a “explosão” de Costa ao cansaço pelo arrastar da pandemia.

“Nesta fase, quase em Julho, estamos bastante cansados e queríamos voltar a página da Covid, é habitual que se perca alguma da tranquilidade”, salienta Temido.

A ministra reconhece também que Portugal não está a conseguir interromper as cadeias de transmissão do coronavírus, o que indicia, de algum modo, um reconhecer de falhanço na forma como o Governo está a responder à pandemia. É provável que Costa não ache esta ideia “útil” no combate à crise sanitária.

ZAP //

7 Comments

  1. Fica tão bem “bater” nos subordinados, principalmente quando tal é feito à frente de outras pessoas.
    Isso diz tanto da capacidade de liderança e do carácter das pessoas.
    Os portugueses tiveram mais uma oportunidade de ficarem elucidados.

    • Apoiado. Apenas juntaria os outros membros todos do governo. E na sequência da demissão alguns poderiam ir já à esquadra mais próxima apresentarem-se para serem identificados.

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