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Lisboa descarrilou devido à falta de técnicos. Reforço de meios tardou duas semanas

Mário Cruz / Lusa

Na Amadora, um dos concelhos mais afetados, chegou a haver 100 casos positivos em que não foi possível fazer o trabalho de identificação e isolamento de contactos, possivelmente infetados com o novo coronavírus, por falta de capacidade de resposta da equipa de saúde pública local.

A notícia é avançada este sábado pelo semanário Expresso, que adianta que o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, responsável por coordenar o combate à covid-19 na região de Lisboa, sublinhava, para um artigo publicado no dia 13 de junho, que o importante era “a rapidez de resposta e em rede”.

Na altura, o responsável referiu que a estratégia nas semanas seguintes iria ser “a velocidade com que se referencia e isola um caso positivo”. “Tenho plena consciência do cansaço de todos, mas a saúde pública tem de aumentar a intensidade. Se for preciso, serão disponibilizados mais meios.”

Os meios começaram a chegar à Amadora no dia 15 de junho, altura em que havia quatro a cinco elementos a fazer o rastreio dos contactos de casos positivos, passando a haver oito a nove profissionais dedicados a essa tarefa.

No entanto, o Expresso sublinha que, nessa altura, já tinham passado duas semanas desde que a equipa de saúde pública do concelho requisitou reforços. O pedido de ajuda foi feito assim que a situação começou a ficar crítica, na última semana de maio.

“O que acabou por acontecer foi que estas unidades locais tiveram muitas dificuldades em dar resposta em tempo útil e esses reforços deviam ter sido planea­dos e decididos muito antes, porque já sabíamos que era expectável, com a retoma da atividade, um aumento de casos em certos contextos”, lamentou Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP).

O dirigente culpa a falha de planeamento e aponta responsabilidades. “Acima das unidades estão as ARS [administrações regionais de saúde] e acima das ARS está a DGS [Direção-Geral da Saúde] e a tutela. A DGS deveria ter dado indicações para o reforço de meios, inclusive para dar descanso aos colegas que estão a trabalhar de forma intensa e ininterrupta há muitas semanas.”

A partir deste sábado, a equipa da Amadora começa a contar com a ajuda de 10 a 12 médicos internos, que passam a garantir os fins de semana em regime de horas extraordinárias. Guilherme Gonçalves Duarte, membro da ANMSP e médico de saúde pública, conta que a situação no terreno é muito difícil.

Há casas onde vivem oito ou nove pessoas. E passámos a ter casos positivos em bairros sociais em que as pessoas estão muito na rua, porque simplesmente não conseguem aguentar muito tempo em casa”, disse ao Expresso.

De acordo com um relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), o rastreio de contactos é essencial “tanto como método para conter o vírus onde existe um número limitado de casos como enquanto instrumento eficaz no contexto da transmissão generalizada”, sendo determinante nas fases de desconfinamento.

ZAP //

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