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Londres declara guerra à música rasca em alta voz nos transportes públicos

O serviço de transportes públicos de Londres lançou uma nova campanha para combater o utentes que acham adequado deixar os auscultadores na mochila e presentear os restantes passageiros com as suas escolhas musicais — frequentemente de gosto duvidoso.

É um lugar comum em Portugal: cidadãos bem intencionados que acham de bom tom partilhar a sua música favorita, normalmente em volume elevado, com os seus concidadãos.

Acontece nos transportes públicos, onde os passageiros são frequentemente sujeitos a levar com a música, invariavelmente de gosto duvidoso, de outros passageiros — que se esqueceram dos headphones em casa ou de que os têm na mochila.

Acontece nas ruas, onde ocasionalmente passa mais um condutor de janela ou capota aberta, a alardear a potência dos seus subwoofers difundindo na atmosfera os acordes musicais da sua banda ou cantor preferido — escolhidos habitualmente com o bom gosto de esperar em quem acha boa ideia fazê-lo, em primeiro lugar.

Para não falar também dos ocasionais transeuntes ou motociclistas que, não satisfeitos com a qualidade dos decibéis que os seus telemóveis debitam, o extrapolam com colunas de som portáteis.

Não acontece só em Portugal, pelos vistos. Os britânicos padecem do mesmo mal, e o assunto chegou à esfera da discussão política. Tanto Liberal Democratas como Conservadores já apelarem ao governo trabalhista que tomasse medidas para resolver o problema.

Recentemente, o deputado Richard Holden, atual ministro-sombra dos Transportes do Partido Conservador, na oposição, afirmou que os passageiros não deviam ter de “aturar a escolha de música rasca de outra pessoa”.

O fenómeno levou a Transport for London (TfL), o serviço londrino de transportes públicos, a lançar uma campanha de sensibilização que incentiva os passageiros a usar auscultadores quando ouvem música, conta a Sky News.

Na terça-feira, começaram a surgir cartazes nas estações de Metro a lembrar os viajantes de que não devem ouvir música nem usar o telemóvel em alta voz, uma vez que isso pode incomodar os outros passageiros.

A campanha da TfL, denominada Travel Kind, vai nos próximos dias ser alargada a toda a rede de transportes.

As regras de viagem nos comboios já consideram infração ouvir música em voz alta. Mas, tal como outras questões, como a fuga ao pagamento de bilhetes, a aplicação da lei depende da Polícia de Transportes Britânica ou das próprias operadoras ferroviárias.

No início deste ano, os Liberal Democratas defenderam multas de até 1.000 libras (cerca de 1.160 euros) para os chamados headphone dodgers — pessoas que dispensam os seus auscultadores e ouvem música em alta voz nos autocarros e comboios.

Seb Dance, vice-presidente da Câmara de Londres para os Transportes, afirmou por seu turno que a pequena minoria que “ouve música ou vídeos em voz alta pode ser um verdadeiro incómodo para outros passageiros e perturbar diretamente as suas viagens”.

“Independentemente da forma como os londrinos aproveitam o percurso, seja a acompanhar a sua série preferida ou a ouvir música, queremos que todos tenham uma viagem agradável”, acrescentou Dance.

Os cartazes da campanha vão também incentivar as pessoas a levantar os olhos do telemóvel e a estar atentas a outros passageiros que possam precisar de um lugar sentado.

Anteriormente, a campanha Travel Kind tinha já lançado apelos à vigilância contra o assédio sexual e incentivado os viajantes a avançar para o interior das carruagens do Metro de Londres, para permitir que mais pessoas consigam entrar.

O sucesso da nova fase da campanha baseia-se no pressuposto de que os headphone dodgers serão sensíveis ao incómodo que causam e capazes de se comportar com civismo.

Talvez fosse mais eficaz se tentasse explicar-lhes a falta de noção que têm de que dar música aos outros não é um ato de bondade, mas uma agressão — não só pelo alto volume do som, mas principalmente pela música que normalmente escolhem.

ZAP //

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