África quer mudar o Mapa Mundo

Equal Earth

O verdadeiro Mapa Mundo — de acordo com o Equal Earth

O mapa do mundo como o conhecemos – a projeção de Mercator – não é totalmente preciso. África está agora a liderar o movimento para o abandonar de vez.

Já sabemos que o Mapa Mundo nos mente há séculos. Em primeiro lugar, porque o tamanho relativo dos países e continentes é incorreto; além disso, o centro do Mundo não é aqui ao lado, no Atlântico, como estamos habituados a ver. No “verdadeiro Mapa Mundo”, o centro é no Pacífico — e Portugal está numa pontinha.

Para a maior parte dos ocidentais, não há problema nenhum que o Mapa do Mundo nos conte uma pequena mentira. Mas nem todos estão satisfeitos com a representação tradicional do Mundo — ou acham que a mentira é pequena.

Na semana passada, a União Africana, união continental com 55 estados membros, juntou-se a uma campanha que apela a que as organizações em todo o mundo substituam o mapa de Mercator por uma alternativa que represente com maior precisão o tamanho de África.

“Pode parecer apenas um mapa, mas, na realidade, não é”, disse à Reuters a vice-presidente da Comissão da UA, Selma Malika Haddadi, que salienta que o Mercator fomentou a falsa impressão de que África era um continente “marginal” — apesar de ser o segundo maior do mundo em área.

Este esforço também é apoiado pela Comunidade das Caraíbas, um grupo intergovernamental com 15 estados membros.

A tradicional projeção de Mercator foi criada em 1569 pelo cartógrafo flamengo Gerardus Mercator. É uma projeção cilíndrica, na qual se coloca o globo dentro de um cilindro e, em seguida, projeta-se cada ponto do mapa num ponto correspondente no cilindro, explica o IFLS.

Nos séculos seguintes, durante a Era dos Descobrimentos e o Iluminismo, tornou-se o mapa de referência para navegar oceanos e atravessar continentes.

Ainda hoje, é amplamente utilizado em salas de aula, manuais escolares, e em qualquer representação tradicional do Mundo — pelo menos, no Ocidente.

A projeção de Mercator foi até usada originalmente como base do Google Maps, mas o programa apresenta agora a Terra como um globo digital, deixando para trás as distorções dos mapas planos.

E é aqui que reside o problema: é muito difícil representar um objeto esférico tridimensional, como o planeta Terra, num plano bidimensional, como um mapa plano. Em algum ponto, é necessário fazer compromissos.

Para contornar esta dificuldade geométrica, a projeção de Mercator distorce o tamanho das massas terrestres: as regiões próximas dos polos parecem maiores, enquanto as áreas perto do equador são encolhidas.

Como resultado, América do Norte e Europa parecem muito maiores do que realmente são, enquanto África e as zonas junto ao equador ficam muito menores. Por exemplo, a projeção de Mercator faz com que a Gronelândia pareça maior do que África, embora, na realidade, África seja 14 vezes maior.

Statista

O verdadeiro tamanho de África

Muitas pessoas em África, incluindo agora a União Africana, consideram esta distorção extremamente injusta, e defendem que a projeção de Mercator deve ser substituída por uma alternativa, como a projeção Equal Earth, desenvolvida em 2018.

A questão vai além da mera precisão cartográfica. O mapa de Mercator, argumentam os defensores da projeção Equal Earth, amplia a América do Norte e a Europa enquanto reduz África, reforçando uma visão centrada no ocidente do mundo, que marginaliza o continente africano e minimiza a sua importância global.

“África está mal representada nos mapas mundiais, e não é apenas uma questão de geografia — é um reflexo de como o mundo vê o continente”, afirmasm os promotores da campanha Correct The Map, sediada em África, que pretende que organizações como as Nações Unidas adotem o mapa Equal Earth.

“Ao corrigir o mapa, pretendemos mudar perceções e destacar a verdadeira escala, poder e potencial do continente africano. Projeções cartográficas precisas são essenciais não só para a educação e a geografia, mas também para promover uma compreensão mais profunda do papel de África na comunidade global,” afirmam.

No entanto, nenhum mapa bidimensional do planeta será perfeito. Os críticos argumentam que o Equal Earth, assim como outros modelos de mapas alternativos, também faz compromissos, tal como a projeção de Mercator; apenas os faz noutros aspetos.

Com efeito, embora o Equal Earth seja melhor na representação precisa da área de superfície, acaba por distorcer a forma de algumas regiões.

Assim, a melhor forma de compreender a disposição das massas terrestres e oceanos da Terra é olhar para um globo — seja ele uma versão digital ou uma esfera física giratória numa biblioteca antiga.

ZAP //

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