Vem aí um novo Mapa Mundo. Pode ser vertical (e Portugal está numa pontinha)

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Paolo Forlani, OTRS / Wikipedia

O Mapa Mundo já não é o que era

A Europa dominou a cartografia durante tantos séculos, que o seu papel central no Mapa Mundo parece óbvio. Mas à medida que o centro de gravidade da economia mundial se desloca para leste, o mapamundi vai inevitavelmente tornar-se bem diferente.

Estamos todos habituados a olhar para um mapa do Mundo com um eixo central no Atlântico, a América à esquerda, a Europa ligeiramente afastada do centro, a dominar o mapa, a Ásia relegada para a ponta direita e a Austrália num canto ao fundo.

Neste mapa, Portugal está no centro do Mundo. Mas a realidade dos nossos dias é já um pouco diferente.

Na verdade, para mais de metade da população mundial — engrossada pela população chinesa e indiana, entre outros países do leste asiático — o “seu” mapa esteve sempre centrado noutro eixo: o Oceano Pacífico.

Mas se até agora o mapa “oficial” do mundo (pelo menos aos olhos ocidentais) está centrado no Atlântico, à medida que nas últimas décadas o centro de gravidade da economia mundial se foi deslocando inexoravelmente para o extremo oriente e a  da Europa se tornou mais irrelevante, o Mundo (e o seu mapa) mudaram.

Este é o “verdadeiro” Mapa Mundo:

ETSY

 

Neste realista mapa dos nossos dias, a China, Índia e Austrália estão no centro do Mundo, que partilham com os Estados Unidos do outro lado do Pacífico.

A Europa está relegada para um extremo, pendurada numa posição muito adequada ao papel que a sua economia tem neste momento no planeta.

Portugal, que um dia dominou os oceanos e controlou grande parte das rotas que alimentavam a economia global, está no fim do mundo.

Na verdade, só mesmo aos nossos olhos ocidentais é que o Mapa Mundo, popularizado por séculos de domínio ocidental da cartografia, da cultura e dos meios de comunicação em massa, está centrado no Atlântico.

Para os nossos vizinhos longínquos do outro lado do planeta, o mapa sempre foi diferente. O Kunyu Wanguo Quantu, primeiro Mapa Mundo de relevo criado na China, já nos mostrava um mundo bem diferente.

Neste mapa, criado em 1602 pelo missionário jesuíta Matteo Ricci para o imperador Wanli, a China é obviamente o centro do mundo.

Matteo Ricci / Wilkipedia

Kunyu Wanguo Quantu, o Mapa Mundo chinês de 1602

Para lá da Grande Muralha, o Kunyu Wanguo Quantu nunca se enraizou verdadeiramente como representação do mundo — mas a sua visão do planeta é ainda muito próxima da que hoje se ensina nas escolas chinesas.

Parece inevitável que o Mapa Mundo do futuro seja de facto centrado no Pacífico, mas nada garante que venha a ser este (ou as suas variações mais modernas) a impor-se. Na verdade, há outras abordagens à forma como vemos o Mundo.

Uma das mais originais representações de um futuro Mapa Mundo, que recentemente o Big Think recuperou, mostra-nos o planeta… na vertical.

A belíssima representação ao alto, com origem na China, não dá apenas mais jeito para ver em telemóveis, como é moda nos nossos dias. Faz todo o sentido.

Neste mapa vertical, o Mundo está centrado, literalmente, no Oceano Índico. E à medida que os nossos olhos, inicialmente atraídos para o centro da imagem, se afastam à procura de terra firme, a primeira grande massa continental a impor-se mostra-nos a Índia e a China a dominar o centro do mundo.

A Europa está acantonada à esquerda, um apêndice da Ásia abafado por uma desproporcionadamente grande África. Portugal está ali num dos confins da Terra, mais difícil de encontrar do que o Wally.

Ao cimo, a América do Norte, de pernas para o ar — tal como o subcontinente sul-americano, que aparece no canto superior esquerdo, abaixo da Antártida. A Austrália, à direita, um pouco encolhida — tal como o Polo Norte, entre a Rússia e o Canada. Não há lugar para o Pai Natal, neste mapa.

O mapa é bastante diferente da familiar Projeção de Mercator, que corta os pólos Norte e Sul e projeta o mapa num cilindro, onde podemos escolher qual é o centro do nosso mundo.

Este mapa parece-nos hoje alienígena, mas talvez tenhamos que nos habituar a ver assim o Mundo — num futuro próximo dominado pela China, com uma economia global influenciada por rotas marítimas que escolhem cruzar um Ártico sem gelo.

Armando Batista, ZAP //

16 Comments

    • Nem o Mercator nem este estão correctos em proporção . Asia tem 45 milhões km2. América 42, África 30. Europa 10. Antártida 14 e Oceanía 8.

  1. Representações planimétricas há muitas. Dependendo para qual o efeito pretendido no mapa, o ponto ou linha central é definida. Por exemplo, para navegações marítimas é interessante a projecção Transversa de Mercator (aproveitado pelos crentes da Terra-plana, esquecendo-se que são 2 projecções com 2 pontos centrais, enquanto eles só mostram a do polo norte) , pois permite medir no próprio mapa as distâncias em latitude sem deformação.

    Para cada mapa, as zonas de deformação é suposto serem em áreas com pouca importância para o que se quer representar e poder medir. Esse exemplo do mapa centrado no meridiano central que passa na China e em latitude no sul da China é muito bom para representar a China e zonas envolventes. Mas péssimo para outras zonas do planeta!

    Na Europa também se aplica o ETRS89, centrado na europa, sendo o sistema de coordenadas oficial usadas na Europa, com correcções em cada país quanto à sua projecção planimétrica. E não é o WGS84, cujo os sistemas “GPS” usam. Daí haver diferenças consideráveis entre os dois sistemas de coordenadas.

    Quanto à centralidade do mapa de Mercator centrado no meridiano de Greenwish, tendo sido atribuído o valor 0 aí, não é com a deslocação do meridiano central que as coordenadas alteram. Se o objectivo for centralizar o índico-pacífico, faz sentido.
    Contudo para o plano global, essa nova centralidade tem um grande problema: há terras e ilhas que ficam cortadas. E a centralidade em Greenwish tem uma lógica de menor prejuízo possível da representação em toda a área com superfície em terra.

    • Nem mais! Aliás a de4slocação da representação sempre existiu. Esta proposta é um autêntico disparate per si, representa uma enorme mancha oceânica com o Indico no meio do mapa tem zonas geográficas cortadas, no caso o continente americano e o Pacifico está dividido. E isto apenas, para dar destaque a zonas populosas do planeta e aonde obviamente se centram muito interesses económicos, criados com uma anuência doentia por parte do Ocidente, sobretudo a Europa. Mais os mapas aceites têm a forma que têm devido a quem de facto os desenvolveu de forma mais correcta, a saber os portugueses e depois os ingleses ao estabelecer as coordenadas finais respeitantes às latitudes e longitudes com o avanço das tecnologias relativas ao relógio. Ora todo esse movimento decorreu na Europa, em mais lugar algum tal facto sucedeu. Daí que as representações terrestres mantenham a Europa no centro, pois foi daí que se deu a exploração sistemática do planeta e aonde estão sediados os meridianos que mesmo hoje determinam toda a actividade humana.

    • Exactamente. É terrorismo cultural, histórico e até ciêntifico. Mas temos de fazer o “frete” a quem nada fez pelo conhecimento do planeta a propósito do quê?

  2. Obviamente que cada país pode pôr o seu país no centro. Não existe nenhuma obrigação. É só um standard que passou de geração em geração, pois a Europa fez o mapa Mundi e os outros copiaram. Obviamente pôs a Europa no meio e vai assim continuar.
    Agora dizer que a economia europeia está em teste… só dá vontade de rir. Está-se a aumentar as taxas de juro para refrear o consumo exagerado, e portanto, criar inflação propositada para isso, é um teste à economia?

    • Exactamente. Mais, é necessário atender às inúmeras empresas europeias que estão deslocalizadas! Isso não quer dizer que, estejam paradas ou sequer tenham desaparecido, mas tão somente que deslocaram a produção para mercados cuja mão de-obra é mais baixa e aproveitar a emergência de novos mercados, para aproveitar melhores mais valias e economia de escala. Há muitos erros que certas “mentes actuais” pouco habituadas a pensar. Comentem erros de cálculo em demasia e sempre em prol de outrem. Para mais todas as regiões do mundo a seu modo fizeram mapas locais, obviamente cheios de erros até chegarem os europeus, à frente deles, os portugueses! Vejam os mapas chineses, indianos, japoneses e coreanos antes do século XVI? Porque razão os chineses não exploraram uma ilhota a 180 quilómetros da sua costa e só tiveram verdadeiramente ideia dela, após os portugueses chegados do outro lado do mundo terem-na explorado pela primeira vez e descoberto o seu povo nativo de origem austronésia e não asiática, à qual deram o nome de Formosa, conhecida por esse nome até ao início do século XX! Reparem que mesmo certas costas da sua região estão erradas ou desenhadas de acordo com preconceitos imperialistas, locais e até mesmo mitológicos como o foi o famoso “mapa em T” em que se basearam os europeus e povos do médio Oriente até ao advento dos Descobrimentos portugueses! Agora vêem-nos com os mitos dos outros para fazer crer que eram muito dinâmicos e já descoberto tudo, por milagre, até se diz por aí que os chineses fizeram descobertas num Oceano já farto de ser navegado não só por eles, mas Também por outros com costas marítimas, nos quais estavam uns, por sinal muito mais dotados para a navegação: os polinésios. Nunca se fez Ciência sem provas, a não ser nestes tempos tão conturbados, onde cadea vez mais manda o dinheiro e a imposição acéfala e delirante dos ditos “países grandes”…

      • Macau tem uma Ponte da Amizade. Na projeção Mercator centrada no Japão, Portugal está na frente do “Velho Mundo”.
        Se o Homem se expandiu a partir de África, globalmente ela ocorreu da esquerda para a direita.

  3. Realmente não há nada mais importante com que nos preocuparmos. Até nas imagens de satélite Portugal aparece maioritariamente das vezes como primeira imagem. E os mapas que as pessoas têm em casa não irão ser renovados, então acho que tudo ficará na mesma…

  4. Ao longo do tempo, os mapas colocam no centro o que julgam ser mais importante. Na Idade Média era Jerusalém, agora é o Oceano, o que faz todo o sentido se pensarmos que andamos sempre a meter água. Houve uma época em que se representava o Sul para cima. Tudo não passa de convenções, mas também acho que faria sentido nos dias de hoje, em que anda tudo de pernas para o ar.

    • Pois é, mas as convenções foram criadas por quem se dedicou ao estudo aturado da geografia. Os portugueses só para ficarem a conhecer o sistema de ventos do Atlântico levaram mais de 20 anos! Hoje ninguém se imagina a perder tanto tempo para estudar vento! Os meios eram rudimentares e foi necessária mente necessário cometer muitos erros e correcões, mas forma os portugueses primeiros e depois três séculos depois, os ingleses, quem verdadeiramente deram a mais aproximada ideia da realidade da geografia do Mundial. até lá todos de um modo ou de outro limitavam-se a realizar pequenas indicações mais ou menos aproximadas visando apenas um objectivo, fosse ele económico ou militar. Após os Descobrimentos – que hoje muitos tentam denegrir, devido a uma cultura cada vez mais inculta com muito oportunismo político à mistura -, ficou-se a sabe quais direccõers a tomar para chegar a qualquer parte do Mundo. Foi esse fenómeno histórico que de facto deu origem à globalização, que colocou 5toda a Humanidade em contacto. Até então ninguém mais tentou ou sequer pensou nisso.

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