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INEM não atende e já morreram 6 pessoas. Governo reconhece “enorme falta de recursos”

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António Cotrim / Lusa

Desde quarta-feira que os TEPH estão em greve às horas extraordinárias. Governo já avançou com medidas para otimizar o funcionamento dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). Mas “de certeza absoluta que não” vão resolver os problemas de longa data.

Os atrasos no socorro que se verificam desde quinta-feira da semana passada já levaram à morte de seis pessoas, com pelo menos metade das vítimas a esperar uma hora e meia ou mais pela ajuda do INEM.

Os incidentes, espalhados por todo o país, incluem o caso de uma mulher de 70 anos, vítima de um acidente vascular cerebral enquanto prestava depoimento no Tribunal de Almada. Durante uma hora e meia, diversas tentativas de contacto com o CODU não tiveram resposta, levando a intervenções alternativas, incluindo o uso de um carro-patrulha para o transporte da vítima até ao hospital. Apesar dos esforços, a mulher não sobreviveu, levando o Ministério Público a ordenar uma autópsia.

Outro caso dramático ocorreu em Castelo de Vide, onde uma mulher de 86 anos, que residia num lar de idosos, entrou em paragem cardiorrespiratória. Apesar de dois telefonemas feitos para o 112, a resposta do CODU foi inexistente, e o atendimento só foi concluído quando a vítima foi levada ao Hospital de Portalegre, onde acabou por falecer horas depois, relata o Correio da Manhã.

Em Vendas Novas, um homem de 73 anos que se sentiu mal em casa também não conseguiu obter assistência atempada. Segundo fontes locais, o atendimento demorou mais de 40 minutos e, mais uma vez, foi necessário o recurso aos Bombeiros de Vendas Novas, que só conseguiram ativar o INEM após considerável atraso. A situação resultou na morte do sujeito.

Em Cacela Velha, um homem de 77 anos que caiu de bicicleta também esperou mais de uma hora e meia pelo INEM. Acabou por morrer à espera de ajuda.

47 meios parados

Desde quarta-feira que os TEPH estão em greve às horas extraordinárias para pedir a revisão da carreira e melhores condições salariais, uma situação que está a criar vários problemas no sistema pré-hospitalar e na linha 112.

Na segunda-feira, a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar obrigou à paragem de 47 meios de socorro no país durante o turno da tarde, agravando-se os atrasos no atendimento da linha 112. Esta quarta-feira o Governo manifestou abertura em dialogar com os técnicos do INEM.

Triagem de emergência para chamadas com espera de 3 ou mais minutos

O instituto alegou que a falta de técnicos de emergência pré-hospitalar (TEPH), “exacerbada agora pela greve” dos trabalhadores desta categoria profissional às horas extraordinárias, sem fim previsto, tem “pontualmente condicionado o nível de resposta” do INEM.

Perante isso, avançou com medidas para otimizar o funcionamento dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), como a implementação de uma triagem de emergência para chamadas com espera de três ou mais minutos.

Além disso, a curto prazo, o INEM pretende integrar enfermeiros nos CODU para realização de determinadas funções, rever os procedimentos relativos à passagem de dados das equipas de emergência no terreno, assim como os fluxos de triagem do CODU e do SNS24 para transferência de chamadas entre estes serviços.

Problemas não são de agora

O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) afirmou que o INEM já registava constrangimentos antes da greve às horas extraordinárias e alertou que algumas das medidas anunciadas esta quarta-feira apenas vão permitir mitigar essas dificuldades.

“Os constrangimentos já se verificavam mesmo antes da greve. Aliás, o maior pico de chamadas que se verificou na semana passada foi na segunda-feira e nós ainda não estávamos em greve”, adiantou à Lusa o presidente do STEPH, no dia em que o INEM anunciou várias medidas para melhorar a sua resposta.

Medidas resolvem problemas? “De certeza que não”

Questionado se estas medidas vão resolver os constrangimentos no instituto, o presidente do STEPH respondeu que de “certeza absoluta que não”, mas algumas poderão mitigar algumas das dificuldades sentidas.

Rui Lázaro referiu que algumas das medidas foram propostas pelo sindicato ao presidente do INEM e ao Ministério da Saúde, como o aproveitamento dos técnicos que estão em serviço administrativo não essenciais à emergência médica para colocá-los nos postos de atendimento dos CODU ou nos meios de emergência.

Quanto ao fluxo rápido para atendimento de chamadas com tempo de espera superior a três minutos, o dirigente sindical adiantou que tem “muitas dúvidas” como será operacionalizado e quem vai atender essas chamadas.

Já em relação à integração de enfermeiros nos CODU, Rui Lázaro afirmou que a medida parece “de todo excessiva”.

“Parece-nos estranho que o Governo não tenha verba para valorizar os salários dos profissionais que é de 920 euros, mas tenha verba para colocar lá profissionais a ganhar 1.600 euros”, referiu.

Taxa de abandono da profissão acima dos 40%

O presidente do STEPH referiu ainda que a falta de técnicos é um problema que persiste há vários anos e que se tem agravado “nos últimos tempos com uma taxa de abandono da profissão elevadíssima“, superior aos 40%.

Vai se agravar cada vez mais a não ser que sejam tomadas medidas para tornar a carreira atrativa para fixar os atuais técnicos e atrair novos”, defendeu Rui Lázaro.

Ministra reconhece “enorme falta de recursos”

A ministra da Saúde reconheceu a “enorme falta de recursos no INEM” e que as medidas de contingência anunciadas surgem devido à indisponibilidade dos técnicos de emergência pré-hospitalar para fazerem horas extraordinárias.

“Tivemos até há 48 horas com uma enorme esperança de que esta situação com um grupo profissional que valorizamos muito pudesse ter alguma resolução, pelo menos algum compasso de espera até nos voltarmos a sentar para debater, discutir, e, acima de tudo, rever a sua carreira, que faz todo o sentido como assumimos”, disse Ana Paula Martins.

“Houve uma greve, mas depois o que está a acontecer é uma falta de disponibilidade daqueles trabalhadores para horas extraordinárias, que, verdade se diga, as fazem em enorme quantidade, tendo em conta a enorme falta de recursos do INEM”, sublinhou.

“Exemplo da incompetência do Governo”

O secretário-geral do PS manifestou esta quarta-feira muita preocupação com a situação no INEM, considerando inconcebível que a ministra da Saúde tenha afirmado que não sabia que ia haver uma greve e acusando o Governo de não a ter antecipado devidamente.

O líder do PS afirmou que a “resposta de emergência médica em Portugal é uma área muito sensível” e considerou “muito, muito preocupante” o que se tem assistido nos últimos dias”.

“Primeiro, que um ministro não saiba que vai haver uma greve e, segundo, que não tenha feito tudo o que era possível para minorar o impacto negativo de uma greve deste tipo. E isso gera em nós, e julgo que em todos os portugueses, um grande sentimento de insegurança“, afirmou.

“Se há coisa que nós sabemos quando há uma greve, desde logo pré-aviso da mesma, é que os poderes públicos têm de se preparar para minorar os impactos negativos da greve e o que esta declaração da senhora ministra mostra é que essa preparação não foi feita”, afirmou, acrescentando que “é fácil apresentar-se PowerPoints”.

“Um Governo começa a ser testado na sua competência nestes momentos, perante problemas concretas e este Governo, quando testado perante problemas concretos, falha. Este é mais um exemplo da incompetência do Governo“, criticou.

ZAP // Lusa

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6 Comments

  1. Triagens de Emergências , num serviço de Emergências por telefone . Por vezes consegue-se fazer melhor com menos , mas neste caso são Vidas que estão en risco , quando se liga para o INEM , não é por por ter trilhado un dedo na porta . Quando digo que a Vida de un Cidadão comum , tem menos valor que un eletrodoméstico , para estes (as) Srs. (as) dos Governos passados e presentes , não devo estar longe desta verdade ! . Simplesmente INADMISSÍVEL , morrer por falta de Assistência atempada , no sistema de Saúde en geral!

  2. As perguntas que devem ser feitas: porquê que ninguém quer ir trabalhar para o INEM? porquê que o INEM antes e desde a sua fundação funcionava correctamente e a partir de 2012 passou a funcionar mal? quais são os critérios e a fundamentação para recrutamento e selecção de elementos para o INEM?
    É preciso obrigar os elementos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) desde o topo até à base da cadeira hierárquica a declarar se colaboraram/pertenceram ou colaboram/pertencem à Maçonaria ou a outras sociedades secretas (Jesuítas, Opus Dei, etc.), depois de identificados terão de sair, os sindicatos assim como toda e qualquer actividade sindical proibida, os despedimentos implementados na Função Pública, e definir a escolaridade obrigatória pela data de nascimento e realizar testes psico-técnicos para saber se possuem perfil para a profissão.

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  3. Não faz mal nenhum. O mais importante é que continuamos a viver numa democracia… e quem disser mal passa automaticamente a fascista.

  4. Reivindicar sim, mas sem colocar vidas em perigo. assim não concordo.
    Parece que só no privado é que as coisas funcionam. Tudo o que mete estado e autarquias, parece que está tudo apático….
    A começar pelos tribunais. Só a função pública é que faz greve. Parece outro país!!

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