Tiago Petinga / Lusa

O homem que morreu em Bragança depois de estar mais e uma hora e 20 minutos à espera da ambulância morava a dois quilómetros da sede da Viatura Médica de Emergência, que demorou, depois, cinco minutos a chegar ao local.
A 31 de outubro de 2024, um homem morreu em Bragança, depois de estar à espera de ajuda médica, durante uma hora e vinte minutos, aquando da greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar do INEM.
Segundo o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), a mulher do homem, que sofreu um enfarte agudo do miocárdio, durante a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar do INEM, fez o primeiro contacto com o 112 pelas 15h45, mas a chamada não foi atendida, tendo a ocorrência apenas sido criada cerca de meia hora depois, às 16h12.
Nesta altura, segundo o depoimento do técnico do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Porto ouvido pela IGAS, a chamada “entrou no Separador 112, por não ter sido atendida pelo CODU nacional”, ficando em espera e apenas às 17h00 foi atendida pelo CODU/Coimbra, mais de uma hora depois do contacto inicial.
Após passagem de dados pelo CODU/Coimbra, foi o CODU/Porto que ativou a ambulância dos Bombeiros Voluntários de Bragança, às 17h04, tendo a viatura chegado ao local quatro minutos depois (17h08).
Já o meio mais diferenciado, a VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) de Bragança, que dista dois quilómetros da casa da vítima, acabou por ser ativada às 17h03, chegando ao local cinco minutos depois, pelas 17h08.
Ou seja, o socorro chegou uma hora e 23 minutos depois do primeiro contacto, através de um percurso que se fez em cinco minutos.
Morte podia ter sido evitada
O perito ouvido pela IGAS reconheceu que “a probabilidade de sobrevivência após paragem cardiorrespiratória é sempre muito reduzida”, mas sublinhou que “para poder aumentar a sobrevivência devem ser imediatamente iniciadas as manobras de reanimação, que devem ser mantidas sem interrupção até chegar a emergência pré-hospitalar”.
Disse ainda que a sobrevivência aumenta significativamente se houver acesso local a um Desfibrilhador Automático Externo (DAE) e que, neste caso, “não foram iniciadas as manobras de reanimação, não havia DAE e a demora foi significativamente superior a 10 minutos”.
Os peritos confirmaram que o início da paragem cardiorrespiratória ocorreu pelas 15h45, mas as manobras de suporte básico de vida só se iniciaram às 17h08, mais de uma hora e 20 minutos depois.
A IGAS fala de um “atraso manifestamente excessivo, exagerado e inaceitável” entre o 1.º pedido de socorro pelos familiares e a chegada do meio apto a desenvolver manobras de suporte avançado de vida.
Conclui que, se o atendimento pelo CODU fosse feito em “tempo razoável” e adequado para socorrer um caso destes, era possível chegar mais atempadamente junto da vítima.
Responsabilidades ao telefone por apurar
A IGAS ainda ser óbvio que houve um efetivo atraso no atendimento que “condicionou decisivamente o socorro médico à vítima”, mas não conseguiu apurar, “sem margem para dúvidas”, quem deveria ter atendido as chamadas que ficaram a aguardar no chamado “Separador 112” no momento em que foram reencaminhadas para o CODU nacional.
Por isso, a IGAS considerou inviável imputar responsabilidade jurídico-disciplinar a qualquer trabalhador em concreto.
Contudo, admite possibilidade de responsabilização jurídica do Estado pelo mau funcionamento deste serviço público.
A este respeito, lembra a Lei Orgânica do INEM, que diz que a instituição deve “definir, organizar, coordenar, participar e avaliar as atividades e o funcionamento, no território de Portugal Continental, um Sistema integrado de Emergência Médica (SIEM), de forma a garantir aos sinistrados ou vítimas de doença súbita a pronta e correta prestação de cuidados de saúde”.
Considera “imperioso e mandatório” que as chamadas telefónicas reencaminhadas para o CODU Nacional não tivessem ficado “em espera” no denominado Separador 112 durante 48 minutos.
ZAP // Lusa
Caos no INEM
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24 Julho, 2025 Homem que morreu à espera de socorro em Bragança morava a 2km da VMER. Esteve quase uma hora e meia à espera
Não há solução!
Eu pergunto, como é que se assume a responsabilidade por uma morte que seja?