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Tábua suméria
A descoberta foi feita numa tábua que foi inicialmente escavada no século XIX, mas que tinha sido ignorada pelos cientistas.
Uma tábua com 4400 anos da antiga Mesopotâmia revelou um mito sumério até então desconhecido, envolvendo uma ousada missão de resgate por parte de uma raposa astuta.
A narrativa, recentemente decifrada por Jana Matuszak, sumeróloga da Universidade de Chicago, dá novas pistas sobre a mitologia e as tradições narrativas da Mesopotâmia primitiva. O estudo foi publicado na revista Iraq.
A tábua, conhecida como Ni 12501, data de cerca de 2400 a.C. e é originária da cidade de Nippur, um importante centro religioso sumério no que é hoje o sul do Iraque.
Embora tenha sido escavada no século XIX, o seu estado deteriorado fez com que fosse amplamente ignorada pelos estudiosos, apesar de uma breve menção feita pelo conceituado assiriólogo Samuel Noah Kramer em 1956.
Agora, após décadas de negligência, Matuszak analisou o texto fragmentário, revelando um mito centrado no deus da tempestade Ishkur (mais tarde conhecido como Adad), que é capturado e aprisionado no submundo (Kur).
A sua ausência provoca a morte de crianças, simbolizando possivelmente a seca ou a fome devido à ausência da divindade da tempestade, tradicionalmente associada à chuva e à vitalidade agrícola, refere o IFLScience.
A história toma um rumo dramático quando Enlil, a principal divindade do panteão sumério, reúne os deuses, chamados Anunnaki, para perguntar quem tentará o resgate. Nenhum se oferece, excepto uma raposa, que usa de artimanhas para entrar no submundo. O animal aceita oferendas de pão e água, rituais tradicionais de passagem, mas armazena-as astutamente em vez de as consumir.
Jane Matuszak / Iraq Journal

Cópia desenhada da tábua
Infelizmente, a narrativa é interrompida devido a danos na placa, deixando o resultado da missão da raposa em aberto. Ainda assim, Matuszak retira interpretações significativas da secção conservada. O mito alinha-se com motivos mesopotâmicos comuns, como o deus vulnerável que precisa de resgate e o animal heróico trapaceiro.
O desaparecimento de Ishkur pode refletir temas de morte e renascimento sazonais, explicando fenómenos naturais como a seca.
O estudo destaca a adaptabilidade dos motivos mitológicos na literatura antiga e enfatiza a importância de continuar a explorar artefactos negligenciados.
“A placa acrescenta significativamente ao nosso conhecimento da mitologia mesopotâmica”, escreve Matuszak. “Os motivos eram livremente adaptáveis a diferentes contextos, tecendo uma teia de ligações associativas entre as histórias.”
“Uma tábua com 4400 anos da antiga Mesopotâmia revelou um mito sumério até então desconhecido, envolvendo uma ousada missão de resgate por parte de uma raposa astuta.”
Porquê “até então”? Não deveria ser “até agora”?