É uma restrição que nunca chegou sequer a ser recomendada pelo Governo, mas que é defendida por 70% do corpo docente. A maioria também discorda que os alunos até ao 9.º ano possam utilizar telemóveis nos espaços escolares.
A maioria dos professores é contra a utilização de smartphones no recreio em todos os ciclos de ensino e, no caso do básico, mais de metade discorda que entrem nas salas de aula mesmo que para fins pedagógicos.
As conclusões, divulgadas esta sexta-feira, resultam de uma consulta nacional promovida pela Federação Nacional da Educação (FNE) e pela Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho (AFIET).
Entre os 4.638 docentes ouvidos, a esmagadora maioria discorda que os alunos até ao 9.º ano possam utilizar telemóveis nos espaços escolares, mas muitos vão mais longe.
Perto de sete em cada 10 professores consideram que nem os mais velhos deveriam poder usar smartphones no recreio, uma restrição que nunca chegou sequer a ser recomendada pelo Governo.
Apesar da preferência dos professores, um relatório oficial — elaborado pelo Centro de Planeamento e de Avaliação de Políticas Públicas (Planaap) a pedido do Ministério da Educação e divulgado esta semana — reconhece a dificuldade do controlo do uso de telemóveis nas escolas de grande dimensão ou com vários ciclos de ensino, situação agravada com a falta de pessoal nos estabelecimentos.
“O controlo do uso de smartphones revela-se particularmente difícil em estabelecimentos escolares de grande dimensão física ou que agregam vários ciclos de ensino, agravando-se em contextos de escassez de recursos humanos”, conclui a investigação.
E usar o telemóvel para fins pedagógicos?
Por outro lado, a FNE procurou também saber o que os professores pensam sobre o recurso aos telemóveis como ferramentas de trabalho e, apesar de haver uma maior aceitação dos equipamentos para esse fim, mais de metade (52,8%) discorda da utilização pedagógica no ensino básico.
Nesse âmbito, a posição dos docentes é diferente quando estão em causa os alunos mais velhos e 63,3% concordam que os smartphones possam ser usados no âmbito das aulas.
Quanto aos manuais escolares digitais, regista-se uma minoria favorável, sendo que 65,8% preferem o papel.
No próximo ano letivo, as escolas a partir do 2.º ciclo vão poder optar pelos dois formatos, mas terão de justificar a decisão se escolherem o formato digital. A decisão do MECI baseou-se nas conclusões de um estudo da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), que concluiu que não existem efeitos significativos nos resultados dos alunos.
Digitalização e uso de IA
Relativamente à digitalização, a esmagadora maioria dos professores procura acompanhar as transformações e aplicá-las na sala de aula e sete em cada 10 considera até que poderão alterar positivamente as condições de aprendizagem.
Ainda assim, cerca de metade acha que também vão dificultar o trabalho em sala de aula e, no que diz respeito à inteligência artificial, por exemplo, 64,7% afirma que não tem conhecimentos suficientes que permitam avaliar se os trabalhos dos alunos são realizados com recurso a inteligência artificial (IA) generativa.
Alguns professores já recorrem a ferramentas de IA na preparação das aulas ou em atividades desenvolvidas nas aulas, mas são uma minoria e, sobretudo, os mais jovens.
Apesar da crescente digitalização do ensino, os resultados revelam que 34,2% não frequentaram nenhuma ação de formação de capacitação digital, percentagem que a FNE considera ainda elevada.
O que prevê a nova regra
No ano passado, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) recomendou a proibição de smartphones do 1.º ao 6.º ano de escolaridade, ou seja, até aos 12 anos, mas a partir de setembro a recomendação vai passar a regra.
Para o 3.º ciclo, a ideia do Governo é promover o uso limitado, responsável e adaptado, mas a partir do 10.º desaparecem as limitações, estando apenas previsto o “uso responsável e adaptado”.
Telemóveis básicos e sem acesso à Internet podem entrar com os alunos entre o 1.º ao 6.º ano no recinto escolar. A exceção responde a uma das principais preocupações dos pais e encarregados de educação, que apontava para uma ausência de comunicação com os alunos: telemóveis capazes de fazer operações básicas de chamadas e SMS “não estão abrangidos pelas medidas, sejam elas restritivas ou proibitivas”, foi explicado na apresentação das medidas, citada pelo Expresso.
A medida aplica-se a todas as escolas que abranjam estes ciclos de ensino, tanto públicas como privadas.
ZAP // Lusa