Definitivamente, os comuns mortais não estão preparados para entender a Arte Contemporânea. Nunca estiveram. Foi necessário esperar quase 100 anos, por exemplo, para podermos ter um museu especificamente dedicado aos urinóis.
É verdade. Só em 2007 o mundo assistiria à inauguração do primeiro museu dedicado exclusivamente ao urinol: o Museu do Urinol, aqui bem perto, em Ciudad Rodrigo.
São mais de 13.000 peças, oriundas de 27 países, mostrando “como o essencial é imutável e como os objetos mais simples podem ser concebidos como uma obra de arte” — 90 anos depois de ser apresentada pela primeira vez a obra de Marcel Duchamp “A Fonte”, um urinol de porcelana branco invertido, que foi rejeitado pelo comité de seleção da Exposição Anual da Sociedade de Artistas Independentes, em Nova Iorque.
Hoje, esta obra icónica é desejada em todos as exposições do mundo, tendo sido já apresentada em Portugal, em 2018, no Museu Coleção Berardo.
Mas pegando em notícias mais recentes, por estes dias “viralizou” a história do visitante do Museu Pompidou-Metz, que decidiu comer a famosa banana do artista italiano Maurizio Cattelan, cuja obra, intitulada “Comedian”, foi vendida no ano passado por 5,3 milhões de euros. Para quem não conhece, é uma obra composta por uma banana colada à parede com uma fita-cola cinzenta.
Por incrível que pareça, este tipo de incidente — assim quisermos chamar — acontece muito mais vezes do que imaginamos. Ainda no passado mês de abril, um casal de turistas destruiu uma cadeira de cristais Swarovski, no museu Palazzo Maffei, em Verona, Itália, depois de tentarem tirar uma foto, sentados nessa mesma cadeira, avaliada em milhares de euros.
Começamos a assistir a um claro pendor utilitário — no entendimento do comum mortal — relativamente ao conceito de obra de arte: uma cadeira, o visitante senta-se; uma banana, o visitante come-a. Confesso que fui pesquisar se já alguém tinha utilizado a obra de Marcel Duchamp para urinar.
Pelo que percebi, parece que ainda ninguém se lembrou dessa possibilidade para poder ter o seu minuto de fama mundial.
Neste tipo de obra de arte — conceptual — questionamos o valor da própria arte. O pensamento e a mensagem transmitida sobrepõem-se à sua beleza ou às suas características técnicas.
Se assim não fosse, esta obra de arte – no caso da obra “Comedian”, perecível por natureza — há muito que teria desaparecido, pelo que se constituiria quase uma espécie de ”performance” artística. Mas não. Esta obra veio para ficar.
Claro está, que a minha primeira curiosidade relativamente a esta obra – e por defeito profissional — foi perceber como se conserva uma obra de arte, com tão grande grau de perecibilidade, como esta.
E é fácil. Não se conserva. A banana é substituída regularmente, segundo as indicações transmitidas pelo próprio autor.
Não será por isso de estranhar que esta não tenha sido a primeira banana a ser comida. Já em 2024, o comprador da obra de arte (ou se preferirmos, desta mensagem), comeu aquela que é considerada a banana mais cara do mundo.
Segundo o autor, a banana original, comprada em leilão por 2,65 milhões de euros – sim, porque eu também valorizo em igual parte a fita-cola cinzenta — terá sido adquirida num mercado de Nova Iorque por 35 cêntimos de dólar.
Mas o que realmente importa agora para os leitores: tal como “A Fonte” de Marcel Duchamp esteve exposta em Portugal, possibilitando uma oportunidade única para observarmos de perto esta obra icónica da História da Arte, também a obra “Comedian”, de Maurizio Cattelan poderá ser vista entre nós.
Está exposta, desde o passado dia 3 de julho, em Serralves, numa exposição composta por 26 obras do artista, dispostas pelo espaço do Parque e da Casa.
A exposição, de entrada gratuita, estará patente até ao próximo mês de janeiro. Fica pois, quase em jeito de sugestão literária – qual Luís Marques Mendes ou Marcelo Rebelo de Sousa – esta proposta para que neste período de férias visite Serralves! Boas Férias!
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Os parvos que se prestaram ao papelão de valorizar essa idiotice, merecem que enfiasse a banana goela abaixo!