António Pedro Santos / Lusa

Ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes
Em vez do Ministério da Cultura, Juventude e Desporto eu teria reunido o que de melhor têm as últimas páginas dos nossos jornais: criava o Ministério da Cultura, do Desporto e das Palavras Cruzadas.
Quando era miúdo, tinha por hábito ler os jornais de trás para a frente. As primeiras páginas, repletas de catástrofes e debate político, não despertavam a minha atenção, fugindo o meu interesse diretamente para as secções do Desporto e da Cultura.
Gostava de ler as notícias do Futebol e do meu Sporting e procurava saber quais as novas exposições temporárias nas Galerias e nos Museus da capital.
Ora, nada melhor então, para um jovem adolescente, que reunir agora os seus principais interesses, num único Ministério.
Eu até faria melhor: em vez do Ministério da Cultura, Juventude e Desporto eu tinha reunido e criado o que de melhor têm as últimas páginas dos nossos jornais: criava o Ministério da Cultura, do Desporto e das Palavras Cruzadas. Com o passar dos anos, começo a ficar cada vez mais afastado das questões relacionadas com a Juventude!
Que a Cultura perde autonomia, é um facto. Se com isso perde peso, ou não, é o que iremos verificar ao longo dos anos de mandato do atual Governo. Que a nova Ministra que tutela a pasta não tem experiência no sector cultural, também é outro facto. O trabalho que ela vai desenvolver em prol do sector, teremos também de avaliar ao longo do seu mandato.
Há vários anos que acompanho o trabalho da agora Ministra da Cultura, Margarida Balseiro Lopes, e sempre com agrado. Foi pois, por conhecer o trabalho que desenvolveu, que fiquei surpreendido com o facto de assumir uma pasta que inclui a Cultura.
Formada em Direito, não possui no seu percurso político, experiência ou trabalho desenvolvido na área da Cultura. Um risco pesado, tanto mais que terá que dividir o seu foco por três pastas distintas.
Infelizmente, este pendor para a perda de autonomia da Cultura tem-se verificado com alguma periodicidade e até mesmo, diria eu, previsibilidade. Foi assim agora, neste XXV Governo de Luís Montenegro, mas também o foi ao longo de vários outros Governos.
A Cultura ganhou autonomia pela primeira vez, nesta Terceira República, sob o IX Governo de Mário Soares, em 1983, tendo logo em 1985 sido retirada essa autonomia pelo Governo de Aníbal Cavaco Silva.
10 anos depois, o XIII Governo de António Guterres, repõe essa autonomia, com novo Ministério, sendo novamente retirada, pelo XIX Governo de Passos Coelho. António Costa recupera a autonomia do Ministério da Cultura em 2015, sendo agora, uma vez mais, retirada por Luís Montenegro.
Obviamente, o cenário que, na minha opinião, melhor se adequa à gestão da minha pasta, é a existência de um Ministério autónomo. Devo confessar, no entanto, que uma pasta da Cultura sob a alçada direta de um primeiro-ministro, com o trabalho de um bom Secretário de Estado, não me desagrada.
Esta solução, criada pela primeira vez por Francisco Sá Carneiro, e replicada em mais dois governos, parece-me uma boa fórmula para que a Cultura ganhe em peso político, aquilo que perde em autonomia. Uma espécie de acesso direto e facilitado ao “Big Boss”.
Já esta solução, com perda de autonomia, perda de peso político e sob a alçada de alguém sem experiência no sector, deixa-me bastante reticente. Pior cenário era difícil.
Na Secretaria de Estado, Alberto Santos, formado em Direito e antigo Presidente da Câmara de Penafiel, é reconduzido, transitando da anterior legislatura. A experiência no sector reparte-se entre a área da escrita e a área do património (na Rota do Românico).
Dalila Rodrigues, a anterior Ministra, despediu-se lamentando publicamente a dificuldade que sentiu na “luta contra as agendas mediáticas difamatórias e contra os poderes instalados”.
Termino, pois, desejando um bom mandato à Ministra Margarida Balseiro Lopes. Que possa desenvolver o seu trabalho, fora destas agendas mediáticas e sem os obstáculos dos poderes instalados. Agora terá de ser tudo em prol da Cultura!
E já agora, um pedido: tendo em mãos um sector tão subfinanciado peço-lhe que não deixe escapar nem um cêntimo do PRR ou do Portugal 2030, dedicado ao sector. Se a Defesa necessita de mais orçamento, nós também! Bom trabalho!
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