KITH SEREY/EPA

Pessoas fogem das suas casas perto da fronteira entre o Camboja e a Tailândia, na província de Oddar Meanchey, Camboja.
“Se a situação piorar, pode tornar-se uma guerra”, admite governo tailandês. Seis F-16 atacaram alvos militares cambojanos no solo. Tudo por causa do traçado da fronteira e de um templo.
O primeiro-ministro interino tailandês, Phumtham Wechayachai, alertou esta sexta-feira para o risco de o conflito em curso na fronteira com o Camboja poder “tornar-se uma guerra”.
“Nós tentámos chegar a um compromisso porque somos vizinhos”, disse o líder aos jornalistas no segundo dia de confrontos.
“Se a situação piorar, pode tornar-se uma guerra, mesmo que, por enquanto, se limite a confrontos”, acrescentou.
Mais de 138 mil deslocados
O Ministério da Saúde tailandês informou hoje que mais de 138 mil civis foram retirados das regiões fronteiriças afetadas pelos confrontos com o país vizinho, revendo um balanço anterior que apontava para mais de cem mil.
Além destas 138 mil pessoas, 428 pacientes de hospitais foram transferidos para centros de acolhimento, indicou o ministério tailandês, que deu conta, esta manhã (madrugada em Lisboa), de 14 vítimas mortais nos confrontos – 13 civis e um militar.
“Há atualmente confrontos em várias zonas fronteiriças. Pede-se às pessoas que evitem as zonas fronteiriças”, declarou, às 08:10 (02:10 em Lisboa), a Segunda Região do exército tailandês – uma divisão destacada no nordeste do país.
No Camboja morreu pelo menos uma pessoa, declarou esta sexta-feira à agência France-Presse o porta-voz da província fronteiriça cambojana de Oddar Meanchey (noroeste), num primeiro balanço oficial das autoridades do país.
“Até ao momento, um civil foi morto e cinco pessoas ficaram feridas durante os combates” na região, afirmou Meth Meas Pheakdey, acrescentando que a vítima mortal era um homem de 70 anos.
F-16 atacaram alvos militares cambojanos no solo
Os confrontos, de uma intensidade rara, eclodiram na quinta-feira, na fronteira entre os dois países, com troca de tiros, granadas e foguetes. Os combates concentram-se em torno de seis locais, informou o exército tailandês.
Banguecoque enviou, na quinta-feira, seis aviões F-16 para atacar “dois alvos militares cambojanos no solo”, disse o porta-voz adjunto das forças armadas do país, Ritcha Suksuwanon.
Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU está marcada para hoje às 15:00 (20:00 em Lisboa).
O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, que ocupa a presidência rotativa da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e dialogou com os dois países, pediu moderação.
Conflito de longa data em torno de templo
O Camboja e a Tailândia estão em conflito há muito tempo sobre o traçado da fronteira de mais de 800 quilómetros, definida em grande parte por acordos celebrados durante a ocupação francesa da chamada Indochina, entre final do século XIX e meados do século XX.
Em 2011, confrontos em torno do templo Preah Vihear, classificado como património mundial pela Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e reivindicado por ambos os países, causaram pelo menos 28 mortos e dezenas de milhares de deslocados.
Embora em 2013, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), principal órgão jurisdicional da ONU, tenha atribuído ao Camboja a zona contestada abaixo do templo, o traçado de outras zonas continua a opor Banguecoque e Phnom Penh.