Kaikungwon Duanjumroon / EPA

A polícia está a ordernar a evacuação da província de Surin, na Tailândia, que foi palco dos confrontos com o Camboja
Após várias semanas de alta tensão devido a uma longa disputa fronteiriça, as forças armadas da Tailândia e do Camboja começaram a trocar ataques armados esta quinta-feira. Já há 12 mortos.
Os exércitos da Tailândia e do Camboja entraram em confronto numa zona fronteiriça disputada, de acordo com relatos dos dois lados, que se acusam mutuamente de iniciar o conflito após semanas de tensão.
A Tailândia já fechou completamente a fronteira terrestre com o Camboja após confrontos que provocaram até ao momento 12 mortos confirmados na Tailândia, segundo o ministério de saúde do país.
O exército tailandês afirmou que as forças de Phnom Penh abriram fogo numa zona fronteiriça, na província de Surin, e que seis soldados cambojanos estavam à porta de uma base de operações tailandesa “totalmente armados, incluindo [com] lança-foguetes”.
Entretanto, o presidente do Senado cambojano e antigo líder Hun Sen acusou as forças tailandesas de iniciarem o ataque. “O exército cambojano não tem outra escolha senão retaliar e contra-atacar“, escreveu Hun Sen, numa publicação na rede social Facebook.
“As agências competentes do Exército Real Tailandês estão a monitorizar de perto a situação”, indicaram as forças de Banguecoque, afirmando ter ouvido “o som de um veículo aéreo não tripulado cambojano” a sobrevoar o local.
O primeiro-ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, disse aos jornalistas ter recebido um “relato, pouco depois das 08:00 [02:00 em Lisboa] de que foram disparados tiros”. “Estamos a investigar os detalhes“, continuou.
“A situação exige extrema cautela e deve ser tratada de acordo com o direito internacional. Não quero entrar em detalhes neste momento e peço aos meios de comunicação social que noticiem com cautela, pois as emergências podem surgir a qualquer momento”, acrescentou Wechayachai.
Os líderes militares tailandeses “estão a reunir-se” e o Conselho de Segurança Nacional foi convocado, ainda de acordo com o líder interino, notando, porém, que este “não se tornou um confronto total” e que não há uma declaração formal de guerra.
A Tailândia também confirmou o lançamento de ataques aéreos contra dois alvos militares no Camboja. “Os F-16 lançaram ataques! Postos militares cambojanos das 8.ª e 9.ª divisões [comandos das forças especiais] foram destruídos”, afirmou a divisão Segunda Região do exército tailandês, destacada no nordeste, numa publicação na rede social Facebook.
O Ministério da Defesa cambojano condenou a “agressão militar brutal” da Tailândia e acrescentou que Phnom Penh “não tem outra escolha senão usar o direito soberano e territorial para se defender da invasão do exército tailandês”.
Entretanto, a Embaixada da Tailândia no Camboja solicitou aos cidadãos tailandeses que abandonem o país dada a possibilidade de os ataques “continuarem e expandirem-se”.
O exército tailandês acusa ainda as forças de Phnom Penh de abrir fogo numa zona fronteiriça da província de Surin e avança que seis soldados cambojanos estavam à porta de uma base de operações tailandesa “totalmente armados, incluindo [com] lança-mísseis”. O gabinete do primeiro-ministro tailandês anunciou a morte de um civil tailandês neste ataque, no nordeste do país.
“Um projétil de artilharia cambojana atingiu a casa de um civil tailandês, matando uma pessoa, ferindo gravemente uma criança de cinco anos e ferindo outras duas”, disse a mesma fonte em comunicado.
Conflito de longa data
A tensão entre os exércitos das nações vizinhas acontece um dia depois de um soldado tailandês ter perdido a perna direita ao pisar uma mina terrestre em território fronteiriço, em Ubon Ratchathani.
Este é o segundo incidente do género este mês, levando a Tailândia a retirar o embaixador no Camboja e a expulsar o embaixador cambojano em Banguecoque.
As autoridades tailandesas responsabilizam o Camboja pela instalação de minas terrestres em território tailandês, o que, segundo Banguecoque, constitui uma violação da Convenção de Otava, acordo internacional que proíbe o uso, o armazenamento, a produção e a transferência de minas terrestres antipessoal, de acordo com a emissora pública Thai PBS.
O Camboja e a Tailândia estão em conflito há muito tempo sobre o traçado da fronteira de mais de 800 quilómetros, definida em grande parte por acordos celebrados durante a ocupação francesa da chamada Indochina, entre final do século XIX e meados do século XX.
Em 2011, confrontos em torno do templo Preah Vihear, classificado como património mundial pela Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e reivindicado por ambos os países, causaram pelo menos 28 mortos e dezenas de milhares de deslocados.
Embora em 2013, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), principal órgão jurisdicional da ONU, tenha atribuído ao Camboja a zona contestada abaixo do templo, o traçado de outras zonas continua a opor Banguecoque e Phnom Penh.
A disputa territorial intensificou-se desde o final de maio, após a morte de um soldado cambojano numa troca de tiros entre os dois exércitos. Desde este incidente, pelo qual os dois se culpam mutuamente, a Tailândia e o Camboja intensificaram o envio de tropas para áreas que ambos reivindicam.
Enquanto Banguecoque defende uma solução bilateral, Phnom Penh encaminhou a disputa para o Tribunal Internacional de Justiça, em junho.
ZAP // Lusa