Bem, isto anda interessante. Há uma semana houve um Porto-Benfica, a meio da semana um Sporting-Porto e um Braga-Benfica e agora uma final entre Sporting e Braga. As quatro equipas de topo a encontrarem-se frequentemente. Vai dar faísca. Vai mesmo: a comitiva do Sporting de Braga chegou ao estádio, em Leiria, pronta para encontrar…um pequeno incêndio no balneário. Antes do Sporting, o primeiro adversário foi o fumo. Quem foi o incendiário?
Um balde de plástico. Sacana. Foi um balde de plástico que derreteu e que obrigou a mudança temporária de instalações. Mas tudo controlado, vamos lá vestir, aquecer e jogar.
Jogar a final da Taça da Liga entre Sporting Clube de Portugal e Sporting Clube de Braga. Dois clubes que já venceram esta competição, mais do que uma vez. Aliás, nas últimas cinco edições todas as finais contaram, ou com o emblema lisboeta, ou com o emblema bracarense. Mas nunca se tinham cruzado no jogo decisivo. Final inédita.
Antes de começar, Fransérgio olhou bem para o troféu, enquanto pensava: “Vou pegar em ti, quando isto acabar”. O outro capitão, Coates, praticamente ignorou a taça, talvez pensasse que não era para ele. Veremos.
Igualmente antes de começar, os dois capitães disseram adeus…a uma poltrona. Que levou a bola para o relvado e que exibia duas crianças. Sim: um sofá vazio (ou mais ou menos) levou a bola do jogo, tinha uma câmara de vídeo incorporada e mostrou dois adeptos pequeninos, lá em casa deles. Isto chama-se 2021 e isto chama-se corona.
O sofá foi uma pequena parte da pequena cerimónia de abertura da final da Taça da Liga. Tudo pequeno, tudo pequeno, mas o jogo começou atrasado por causa destas coisas.
Inicia a partida. Carlos Carvalhal num banco, mas já esteve no outro. Ruben Amorim num banco, mas já foi jogador da outra equipa. Ah, e treinador também. Durante umas semanas. Esteve de passagem pelo comando técnico do Sporting de Braga. É um viajante.
Os dois treinadores conhecem a sua equipa mas também conhecem a outra. Têm respeito e consideração pela instituição adversária, vão portar-se bem.
Logo nos primeiros segundos, deu para ver João Mário a jogar futebol de praia. A meter a bola no ar, para conseguir controlá-la. Pois, com pequenos lagos em algumas zonas do relvado… Era melhor assim. Mas ninguém reparou que havia tanta água na relva? Pegavam na água e apagavam o incêndio no balneário.
O que se destacou durante os primeiros 40 minutos? Duas expulsões. Dos dois treinadores! Que começaram a reclamar um com o outro. E depois aproximaram-se, e depois houve empurrões, e depois houve socos, e depois rebolaram no chão à porrada, e depois houve xutos e pontapés. Sim, este cenário que Ruben e Carvalhal protagonizaram justificou os dois cartões vermelhos.
Tiago Martins não é um homem do leme ideal. Sem surpresa, o árbitro foi demonstrando ter pouco controlo sobre as operações, ao longo do duelo.
No meio de discussões, da chuva, de entrega, de cartões…zero oportunidades de golo. E zero golos, pois. Assim deverá ficar até ao intervalo. “Porra, eu não deixo!” – disse o Porro, antes de inaugurar o marcador, muito perto do descanso.
Na segunda parte, quando se esperava uma reação ofensiva dos minhotos, a equipa de Carvalhal (ou do seu adjunto) não encontrava espaços para criar perigo. Paulinho já tinha entrado, Horta continuava desaparecido… No outro lado, Pedro Gonçalves quase fez o 2-0, para Iuri Medeiros reagir logo de seguida. Mais para o fim, Al Musrati e Šporar também tentaram, com o último esforço a pertencer a João Novais.
Segundo tempo mais interessante e menos molhado do que o primeiro mas, como muitas vezes acontece, sem golos.
Mais um troféu para o museu do Sporting, nos últimos tempos. Ruben Amorim, que depois do apito final esteve sozinho numa bancada, a pensar na vida, durante quase dois minutos seguidos (eu contei), já conquistou oito vezes a Taça da Liga: seis como jogador e duas como treinador. Individualmente, é o maior neste torneio.
Vamos às declarações, que não escaparam ao momento das expulsões dos dois técnicos. João Mário – que não é, nem jogador do Sporting, nem do FC Porto, mas sim treinador-adjunto em Braga – disse que aquela discussão entre os dois líderes faz parte da festa do futebol.
A Cândida e o Carlos têm razão: isto faz parte da fanfarra e da algazarra que assistimos por cá. É que, além das expulsões, e do antijogo, mal o encontro terminou, houve direito a confusão no relvado e na tribuna. Há que espalhar a alegria e a harmonia.
Razão tem também o Fransérgio, que na entrevista rápida deixou a frase: “Fazer o quê? É o nosso futebol português”.
O futebol português deveria seguir o exemplo do futebol inglês. Carlos Carvalhal já disse isto, mais do que uma vez; quando fala no respeito, por exemplo, no fair-play. Durante os festejos do Sporting, alguém viu o Carvalhal no relvado? Nem sombra dele.