Clube de fãs na prisão e milhares doados para pagar a defesa. Luigi Mangione é um “assassino sexy”

Pennsylvania Department of Corrections / EPA

Luigi Mangione, suspeito de assassínio do diretor executivo da UnitedHealthcare

O jovem de 26 anos suspeito de matar o CEO da UnitedHealthcare continua a somar apoios, até dentro da própria prisão. Mangione está ainda a reacender o debate sobre a glorificação de criminosos por causa da sua aparência.

A onda de apoio em torno de Luigi Mangione, o jovem de 26 anos suspeito de ter assassinado Brian Thompson, o CEO da seguradora norte-americana UnitedHealthcare, não dá sinais de abrandar.

Mangione tornou-se popular devido ao manifesto de apenas 262 palavras que endereçou à polícia, onde critica o sistema de saúde privado dos Estados Unidos, lembrando que o país tem o sistema mais caro do mundo e que, mesmo assim, surge no 42.º lugar na lista de nações com a esperança média de vida mais longa.

O suspeito deixa ainda uma mensagem diretamente à UnitedHealthcare, referindo que é “a maior empresa dos EUA em termos de capitalização de mercado, apenas atrás da Apple, Google e Walmart”. “A realidade é a seguinte, tornaram-se simplesmente demasiado poderosos e continuam a abusar do nosso país para obterem lucros porque o público americano permitiu que se safassem”, explica.

“Peço desculpas por qualquer conflito ou trauma, mas isto tinha que ser feito. Sinceramente, estes parasitas simplesmente tiveram o que mereciam”, remata. A nota refere ainda que Mangione queria fazer um ataque “direcionado, preciso e que não põe em risco inocentes” e que a sua preparação foi “bastante trivial”.

As balas encontradas perto do corpo de Thompson também tinham inscritas as palavras delay (atrasar), deny (negar) e defend (depor), lembrando o título do livro Delay, Deny, Defend: Why Insurance Companies Don’t Pay Claims and What You Can Do About It, de Jay Feinman, que relata as táticas usadas pelas seguradoras para evitar pagar os tratamentos dos clientes.

Clube de fãs de Mangione

Um estudo publicado na The Lancet em 2020 estima que a criação de um sistema universal de saúde evitaria 68 mil mortes todos os anos nos Estados Unidos. Uma sondagem de 2019 concluiu que 25% dos americanos deixam problemas graves de saúde arrastar-se devido aos custos dos tratamentos e há dados que estimam que 100 milhões de americanos têm dívidas médicas, sendo que 14 milhões chegam mesmo a ter de cortar na comida para pagar as dívidas.

Num contexto destes, já seria de esperar que a mensagem de Mangione ressoasse com muita gente. O jovem tornou-se uma verdadeira sensação na internet, inspirando inúmeros memes, canções de apoio e comparações ao Joker.

Foi até criada uma página para angariar fundos para pagar os advogados de defesa de Mangione, que já angariou mais de 70 mil dólares em doações.

Esta onda de apoio chegou mesmo até dentro da prisão onde está detido. Um repórter do canal de televisão NewsNation conseguiu conversar com outros reclusos dentro da prisão que manifestaram o seu apoio a Luigi Mangione. “Libertem o Luigi!” ou “as condições do Luigi não prestam!” foram as palavras de ordem ouvidas.

O poder de um criminoso “sex symbol”

Para além de despertar discussões sobre o estado do sistema de saúde norte-americano e sobre a justiça popular, há outro aspeto de Luigi Mangione que está a ser muito debatido — literalmente, o seu aspeto.

A aparência do jovem de 26 anos tornou-se um grande tema de debate na internet, com o seu cabelo encaracolado, sorriso branco e alinhado e abdominais definidos a valer-lhe a alcunha de “assassino sexy“. Até o seu perfil na aplicação de namoros do Tinder acabou por ser descoberto pela internet.

O detalhe de que Mangione terá sido preso por ter retirado a máscara que usava para namoriscar com uma mulher só ajudou à sua reputação de “sex symbol”. Recorde-se que o jovem foi apanhado após um funcionário do McDonald’s o ter reconhecido quando baixou a máscara.

O fervor em torno da aparência de Mangione e as brincadeiras de que é “demasiado bonito para ser condenado” fazem lembrar outros exemplos de criminosos que ganham fãs à custa da sua aparência, como o caso de Jeremy Meeks, cuja mug shot se tornou viral em 2014 e o catapultou para uma carreira como modelo após ser libertado, somando agora mais de um milhão de seguidores no Instagram.

“Parece que o Luici Mangione se vai juntar ao Jeremy Meeks no Hall of Fame de condenados sexy”, comentou um utilizador no X.

Charles Manson e Ted Bundy são outros nomes infames que ganharam uma legião de fãs graças à sua aparência, sendo exemplos do fenómeno psicológico do “efeito auréola” — quando a opinião que temos sobre uma pessoa é influenciada por julgamentos anteriores de desempenho ou personalidade. Nestes exemplos, a aparência física destes criminosos faz com que as pessoas tenham opiniões mais favoráveis sobre eles do que teriam se fossem feios.

De acordo com o professor assistente de criminologia da Universidade do Texas, há um grande historial de pesquisas que apontam para uma relação entre a atratividade de um suspeito e uma diminuição nas detenções e nas penas aplicadas.

Este fenómeno é frequentemente alvo de críticas por desvalorizar a violência sofrida pelas vítimas e glorificar criminosos. “Vivemos num mundo onde a notoriedade eclipsa a moralidade, e tornámo-nos tão insensíveis à violência e à tragédia que até os assassinos, alegados ou condenados, são romantizados. É hora de reavaliarmos quem e o que escolhemos glorificar”, refere Marla Bautista no USA Today.

Adriana Peixoto, ZAP //

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