O som de uma criança a chorar aquece (literalmente) os adultos

Se o som de um bebé a chorar o deixa com a cara corada, não está apenas a imaginar coisas. Um novo estudo concluiu que o choro de um bebé, especialmente quando sinaliza dor,— provoca mesmo um aumento de calor no rosto dos adultos, talvez como forma de nos impulsionar a agir.

Os gritos de um bebé são, de certa forma, propositadamente insuportáveis. Sem linguagem, o choro é a melhor forma que um bebé tem de conseguir ajuda dos seus cuidadores.

As vibrações que emanam de um bebé em sofrimento intenso são, literalmente, mais caóticas do que os choros associados a desconforto ligeiro.

Os choros de dor são produzidos de forma diferente de outros sons que um bebé emite: contraem com força a caixa torácica, empurrando rajadas de ar de alta pressão através das cordas vocais para gerar tons variáveis e sons dissonantes conhecidos pelos acústicos como “fenómenos não lineares” (NLP).

Os cuidadores conseguem geralmente distinguir entre os choros de desconforto normal e aqueles gritos lancinantes com NLPs que sinalizam dor intensa, mas não se sabe ao certo como é que o nosso corpo chega a esse efeito cognitivo mais complexo.

Num novo estudo, uma equipa de investigadores da Universidade Jean Monnet e da Universidade de Saint-Étienne, em França, quis perceber de que forma estes sons afetam o sistema nervoso dos adultos a um nível subconsciente e que efeitos fisiológicos provocam.

De acordo com os resultados do estudo, publicado na semana passada no Journal of the Royal Society Interface, o nível de NLPs num choro modula a dinâmica temporal da resposta térmica facial dos ouvintes, independentemente do seu sexo.

“Está estabelecido que os NLP são marcadores fiáveis do nível de sofrimento e/ou dor expressos pelo bebé”, diz o bioacústico Lény Lego, investigador da Universidade Jean Monnet e primeiro autor do estudo, citado pelo Science Alert.

No decurso do estudo, os investigadores testaram as reações de 41 participantes (21 homens e 20 mulheres, com uma média de 35 anos) a sons de bebés a chorar.

Estes adultos ouviram uma seleção de 23 gravações de áudio, recolhidas de 16 bebés diferentes enquanto sentiam o desconforto ligeiro de um banho ou a dor de uma injeção de vacina no consultório médico. Enquanto ouviam os sons, uma câmara térmica monitorizou as alterações de temperatura no rosto dos participantes.

Um aumento de calor nesta zona do corpo é uma resposta do sistema nervoso autónomo, a parte maioritariamente inconsciente do sistema nervoso que controla funções internas como o ritmo cardíaco, a respiração e a digestão.

Depois de ouvirem os sons, os participantes indicaram também se achavam ter ouvido sinais de desconforto ou de dor.

Segundo os autores do estudo, as variações na temperatura facial de um ouvinte, como marcador da resposta emocional do sistema nervoso autónomo, refletem a dor expressa no choro de um bebé.

Um choro com níveis mais elevados de NLP provocou uma resposta de rubor mais intensa no rosto dos ouvintes, sugerindo que estes sons caóticos são muito mais eficazes, a nível fisiológico, a captar a atenção dos adultos do que os choros com poucos ou nenhuns NLP.

Esta resposta a choros com elevados níveis de NLP foi observada tanto em participantes do sexo masculino como do sexo feminino, reforçando conclusões anteriores dos investigadores de que ambos os sexos conseguem identificar de forma fiável sinais de dor no choro de um bebé.

“Embora os nossos resultados sejam interessantes e novos, este estudo continua a ser bastante preliminar e levanta várias questões, tanto na interpretação dos dados como do ponto de vista metodológico”, admitem os autores do estudo.

Por exemplo, os participantes tinham pouca ou nenhuma experiência com bebés, pelo que estes resultados não refletem necessariamente a resposta fisiológica de pais experientes. Estudos futuros poderão revelar de que forma as respostas fisiológicas aos NLP diferem consoante a experiência dos cuidadores.

ZAP //

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