Uma equipa de investigadores descobriu porque é que os adultos mais velhos são mais vulneráveis a formas graves de gripe. O culpado é uma proteína chamada ApoD, que aumenta com a idade e interfere com a capacidade do organismo para combater infeções.
Num novo estudo, publicado na semana passada na PNAS, uma equipa de investigadores verificou que os indivíduos mais idosos produzem níveis muito superiores de uma proteína glicosilada chamada apolipoproteína D (ApoD), que está envolvida no metabolismo lipídico e na inflamação
Esta proteína danifica o tecido pulmonar e enfraquece as defesas imunitárias, conduzindo a piores desfechos clínicos.
O aumento de produção da proteína nos mais idosos, por comparação com os mais jovens, compromete a capacidade do organismo para resistir a infeções virais, conduzindo a um agravamento da doença.
Os cientistas descobriram assim porque é que as pessoas mais velhas tendem a sofrer de forma mais grave com a gripe, e poderão agora usar estas conclusões para mitigar esse risco.
Ao identificarem a ApoD como o principal fator envolvido, os cientistas apontam agora um novo alvo terapêutico promissor que poderá proteger os doentes idosos de casos potencialmente fatais de gripe e reduzir de forma significativa as mortes associadas à doença.
A equipa demonstrou que a produção acentuadamente elevada de ApoD com o envelhecimento, sobretudo no pulmão, provoca extensos danos nos tecidos durante a infeção e reduz a resposta protetora de interferões tipo I contra os vírus.
“O envelhecimento é um dos principais fatores de risco para as mortes relacionadas com a gripe. Além disso, a população mundial está a envelhecer a um ritmo sem precedentes na história humana, o que levanta enormes desafios para os sistemas de saúde e para a economia”, diz Kin-Chow Chang, investigador da Universidade de Nottingham e coautor do estudo, citado pelo Science Daily.
Curiosamente, os investigadores descobriram também que uma dose de vírus da gripe que seria normalmente letal em ratinhos sem ApoD (ApoD-/-) resultou, afinal, numa maior sobrevivência, numa carga viral mais baixa nos pulmões e em menos danos pulmonares.
Estas melhorias estavam associadas a uma redução da mitofagia e a uma produção aumentada de interferão tipo I (IFN), explica a GEN.
“Ratinhos envelhecidos ApoD-/- apresentaram uma redução da mitofagia e ficaram protegidos contra uma infeção por IAV que, de outra forma, seria letal”, dizem os autores do estudo.
“Estes animais mostraram uma menor mortalidade, menor perda de peso corporal, carga viral reduzida nos pulmões e menos danos pulmonares, tudo isto associado a uma recuperação da resposta de IFN tipo I”, acrescentam.
A equipa demonstrou ainda que a utilização do fármaco senolítico ABT-263 para eliminar células senescentes nos pulmões de ratinhos envelhecidos reduziu os níveis de ApoD e atenuou os danos pulmonares provocados pela infeção por vírus da gripe.
Os cientistas sugerem, por isso, que a ApoD poderá ser um alvo terapêutico promissor para proteger contra infeções graves por vírus da gripe em pessoas idosas, algo que poderia ter um impacto significativo na redução da morbilidade e mortalidade na população envelhecida.
“Existe agora uma oportunidade promissora de reduzir a gravidade da doença causada pelo vírus da gripe nos idosos através do bloqueio terapêutico da ApoD”, concluem os investigadores.