O coordenador da “Task Force” para a elaboração do “Plano de Vacinação contra a COVID-19 em Portugal”, Francisco Ramos, renunciou, terça-feira, ao cargo.
A causa da saída deve-se a irregularidades detetadas pelo próprio no processo de seleção de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, do qual é presidente do Conselho de Administração.
“Ao tomar conhecimento de irregularidades no processo de seleção para vacinação de profissionais de saúde do Hospital da Cruz Vermelha, do qual sou Presidente da Comissão Executiva, considero que não se reúnem as condições para me manter no cargo de coordenador da task force para a elaboração do Plano de Vacinação Contra a COVID-19 em Portugal. Assim, apresentei ontem, dia 2 de fevereiro de 2021, à Senhora Ministra da Saúde, a renúncia ao cargo”, escreve Francisco Ramos num e-mail enviado às redações.
Francisco Ramos, colocou-se na mira da direita parlamentar quando disse que punir não vacinando na segunda toma os que se vacinaram indevidamente com a primeira era uma ideia própria do “espírito vingativo” dos eleitores de André Ventura nas presidenciais.
Essas afirmações colocaram o coordenador na mira da oposição parlamentar. O Chega pediu explicitamente a sua demissão e a JP (organização de juventude do CDS-PP) também. A Iniciativa Liberal sugeriu-a, desafiando o primeiro-ministro a assumir as suas responsabilidades na “gestão calamitosa do plano de vacinação”.
O funcionamento da Task Force mantém-se assegurado pelos restantes membros do núcleo de coordenação, revela o Ministério da Saúde.
“Poupou-se à vergonha”
André Ventura afirmou esta quarta-feira que o coordenador do Plano de Vacinação Anti-Covid-19, Francisco Ramos, “poupou-se à vergonha” ao demitir-se e pediu ao Governo socialista que nomeie um substituto não pelo cartão de militante, mas pela competência.
“Portugal precisa de alguém credível, isento e objetivo. Não me cabe ter nomes em mente. É ao Governo que o cabe fazer. Agora, apelamos a que não seja nomeado ou escolhido alguém pelo cartão de militante, mas sim pela competência, serenidade e moderação”, declarou André Ventura, no parlamento.
O deputado único do partido da extrema-direita parlamentar acusou Francisco Ramos de ser um “devoto socialista”, referindo o facto de o mesmo já ter sido diversas vezes secretário de Estado de executivos do PS.
“Saudamos esta decisão, que já devia ter sido tomada. É evidente que houve pressão do Governo para que Francisco Ramos abandonasse as funções. Francisco Ramos não só não assumiu responsabilidade pelas várias irregularidades como desvalorizou a situação e fez insinuações sobre o eleitorado que tinha votado em mim nas Presidenciais”, lamentou Ventura.
Para o líder populista, tal atitude “não é comportamento de um coordenador de um Plano Nacional de Vacinação, que deve ser um técnico”.
Rui Rio vê possibilidade de se salvar o verão
O líder do PSD, Rui Rio, vê na demissão de Francisco Ramos a possibilidade de entregar a liderança da task force da vacinação a um especialista em logística e, consequentemente, salvar o verão.
“Francisco Ramos demite-se porque sob a tutela dele aconteceram irregularidades na Cruz Vermelha. Bem, então demitia-se da Cruz Vermelha e não da task force. Precisamos de alguém que saiba o que está a fazer. As forças armadas e o Exército em particular têm formação neste tipo de situações. A vacina neste momento um dos bens mais importantes e mais escassos da nossa sociedade. Se não vacinarmos mais de 70% da população até ao final de junho, estragamos o verão. Não digo que há males que venham por bem, mas esta é a oportunidade de ficar alguém entendido na matéria a liderar a task force. Devíamos estar a dar 50 mil doses por dia e estamos a dar 10 mil. Se calhar vamos ter de passar a dar 70 ou 80 mil por dia para cumprirmos os objetivos”, analisou o líder da oposição.
Rui Rio diz que “o primeiro-ministro devia estar a fazer melhor“, ainda que não duvidando da “dedicação e vontade” do líder do governo. “Se há vacinação indevida, é porque há doses a mais e se planeou mal”, acrescentou, revelando ter “conhecimento de situações em que não se está a dar a segunda dose”.
Francisco George demarca Cruz Vermelha
O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Francisco George, assegurou esta quarta-feira que a instituição não está ligada à gestão do hospital, cuja comissão executiva é presidida por Francisco Ramos, que se demitiu da taskforce de vacinação contra a covid-19.
Em declarações à agência Lusa, o antigo diretor-geral da Saúde lembrou que “no dia 14 de dezembro de 2020, a CVP vendeu 55% das ações que detinha na gestão do hospital à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML)” e que desde então não teve mais contactos com a comissão executiva do Hospital da Cruz Vermelha (HCV), garantindo que a organização “é só proprietária do edifício” e que esta decisão “não condiciona em absolutamente nada” a CVP.
“A atual administração entrou em funções sem a CVP, que deixou de ter qualquer participação na sociedade de gestão. A maioria do capital social da sociedade gestora é detida pela SCML. Assim, o presidente do conselho de administração – que era até 14 de dezembro o presidente da CVP – passou a ser o provedor da SCML, que nomeou como presidente da comissão executiva o doutor Francisco Ramos”, sublinhou.
Questionado se ficava surpreendido com a denúncia feita por Francisco Ramos de irregularidades no processo de seleção para vacinação de profissionais de saúde do HCV contra a covid-19, Francisco George recusou fazer comentários, mas saiu em defesa do ex-coordenador da taskforce, de quem disse ser “amigo pessoal há muitos anos”.
“Não falei com ele sobre este assunto. Francisco Ramos é uma pessoa de grande integridade, com quem trabalhei sempre e por quem tenho uma estima que considero que é recíproca. E é um dos políticos portugueses que está com inteira integridade nos atos de gestão que pratica”, referiu, acrescentando: “Se o programa de vacinação não foi regular no seu hospital – como ele diz -, compreendo que a solução teria de ser essa”.
Ordem dos Enfermeiros diz que culpa não é de uma só pessoa
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros afirmou que a vacinação indevida contra a covid-19 “não é culpa de uma só pessoa”, ao comentar a demissão do coordenador da task force deste plano em Portugal.
Considerando que na vacinação contra a covid-19 houve “uma tremenda falta de fiscalização, a que o Governo não se pode alhear”, Ana Rita Cavaco reiterou que “não se pode culpar apenas o coordenador” da task force.
Ana Rita Cavaco admitiu que “poderá haver aqui uma tentativa de, nestas situações de vacinação indevida, culpar uma só pessoa”, referindo não compreender por que razão Francisco Ramos, sendo presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, “demite-se da task force e, por outro lado, continua a presidir à instituição”.
A bastonária adiantou que “os casos de vacinação indevida têm sido denunciados à Ordem já há muitos dias”, que os tem “encaminhado oficialmente”.
“O volume de denúncias que temos recebido na Ordem demonstram-nos que estamos a falar de milhares de pessoas que foram vacinadas, em princípio indevidamente”, declarou, apontando “autarcas, provedores de santas casas, família, amigos, informáticos, pessoas em teletrabalho e muitas outras”.
Segundo a bastonária, a vacinação indevida tem ocorrido quando o país tem “ainda milhares de enfermeiros por vacinar”, assim como de idosos, incluindo os que residem em lares, bombeiros, forças de segurança e estudantes de Enfermagem que “estão fora de qualquer grupo prioritário e que têm ajudado os lares e que estão a receber ensino clínico” para o país poder ter enfermeiros.
“A Ordem ofereceu-se várias vezes para organizar os centros de vacinação, acabámos por escrever isso mesmo ao Presidente da República a semana passada, inclusive com trabalho pro bono da nossa parte. Portanto, se isso tivesse acontecido connosco, não tinha havido estes casos de vacinação indevida”, acrescentou.
Coronavírus / Covid-19
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Por outro lado, temos funcionários autárquicos e da Segurança Social, patrocinados pelo PS, a meterem a mãozinha nas vacinas, mas mantendo a confiança política dos patronos, não há honestidade que resista.
…e são apenas do PS? Há vários do PSD, um (Arcos de Valdevez) até foi adjetivado de “traste” pela Bastonária da Ordem dos Enfermeiros!!!
Atitude honrada e nobre. Num país do em que ninguém é responsável (salvé Jorge Coelho) em que os administrativos é que são os responsáveis houve um Homem que face ao se que passa de tanta aldrabice e da “esperteza saloia” (desde padres a srs.drs. passando por autarcas… Isildas e Salazares entre outros) soube tomar uma atitude nobre. “Tiro o meu chapéu” e “dou o braço a torcer” pois mudei de opinião no respeita à pessoa do Senhor Francisco Ramos.
PS – Francisco George ainda está na Cruz Vermelha ? Esquisito…
E o Costa e o Marcelo continuam como se nada fosse.Este é o resultado da democracia do PS mas os outros,também não são muito melhores.É a cruz que temos que carregar desde o 25 de Abril.
Oh… antes do 25 de Abril é que era…
Não carregues mais a “cruz” – se estás com saudades do Salazar podes sempre ir ter com ele!!
Já vai tarde. Só não percebo como é que a ministra da justiça, o ministro da administração interna e a ministra da saúde se mantêm em funções. O mesmo é agora válido para o desaparecido em combate do ministro da educação, depois de mentir descaradamente ao povo português.