José Sena Goulão / LUSA
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O deputado do PS, Pedro Delgado Alves
Momentos de uma discussão que, para Aguiar-Branco, só iria demorar 4 minutos – mas durou quase 40 minutos.
A votação final global do Orçamento do Estado para 2025 começou muito mais tarde do que seria suposto.
Na manhã de sexta-feira, às 10h da manhã, José Pedro Aguiar-Branco iniciou a sessão, mas não para abrir o debate de encerramento.
Primeiro, deixou uma explicação aos deputados sobre as quatro tarjas que o Chega tinha pendurado pouco antes no exterior do Palácio de São Bento, contra o fim do corte nos salários dos políticos.
O presidente da Assembleia da República ficou “mais ou menos surpreendido” com aquele gesto do Chega. Lamentou a situação, lembrou que era proibido e contou que tentou tirar as lonas ainda antes do início da sessão, mas não conseguiu.
Foi um esclarecimento que durou 4 minutos e que, para Aguiar-Branco, não merecia mais do que isso. “Não desejo beneficiar o infractor”.
Ou seja, para o presidente da Assembleia da República, o assunto estava encerrado.
Mas não estava.
André Ventura quis falar, justificar-se. Depois falou Hugo Soares (PSD), depois Alexandra Leitão (PS), mais tarde Fabian Figueiredo (BE)… Falaram todos. Pelo menos um deputado de cada partido falou.
Destacamos três momentos peculiares.
Deputado fartou-se
O primeiro foi quando Mariana Leitão, líder parlamentar da IL, pediu também uma interpelação à mesa.
Começou por dizer que o Chega tem uma visão de democracia deturpada porque “nenhum outro português pode vir aqui afixar o quer que seja”.
Nesse instante, duas filas mais atrás, outro deputado da IL, provavelmente farto daquele assunto, ficou aparentemente desiludido com aquela intervenção da sua colega de partido: Carlos Guimarães Pinto começou a abanar a cabeça a dizer que não, levantou-se e foi embora. Deixou o debate (temporariamente, claro).
Livre defende deputado do PS
O segundo momento particular decorreu pouco depois, quando Pedro Delgado Alves (PS) disse que o Chega mostrou “criancice e puerilidade”, acrescentando que os deputados do Chega são “crianças mal comportadas”.
Aí foi interrompido pelo presidente da Assembleia da República, que pediu para o deputado do PS ter cuidado com a linguagem.
Esta intervenção de Aguiar-Branco originou de imediato uma reacção audível dos deputados…do Livre.
A bancada parlamentar do Livre está ao lado de Pedro Delgado Alves no hemiciclo; e neste caso ficou mesmo ao lado do deputado do PS, reagindo logo em sua defesa (e contra a atitude de Aguiar-Branco).
“Linguagem? Por amor de Deus!“, reagiu Isabel Mendes Lopes, enquanto Rui Tavares se ria e perguntava “Mas que história é esta, pá?” e Filipa Pinto ironizava “Ai a linguagem…” – enquanto apontavam para a bancada parlamentar do Chega, que usa outro tipo de expressões.
Pedro Delgado Alves respondeu: “Bom, isso motivava outra interpelação sobre palavras poderosas como criancice e puerilidade. Mas enfim, senhor presidente. Adiante”.
Divergência no PS
O mesmo deputado socialista pediu a suspensão dos trabalhos. Só deveriam ser retomados quando as tarjas do Chega fossem retiradas. É uma “coacção”, tinha dito Alexandra Leitão.
Mas entretanto, de lá de cima, da última fila da bancada parlamentar do PS, Sérgio Sousa Pinto pediu para falar: “Como é evidente, a aprovação do Orçamento do Estado do país não pode ficar dependente de meia dúzia de panos, por mais asquerosos que sejam“.
Só falou durante 5 segundos mas foi suficiente para deixar evidente que alguns socialistas estavam contra o que estava a ser dito na primeira fila da sua bancada parlamentar.
Alexandra Leitão fechou os olhos e começou a coçar a testa, aparentemente a lamentar aquela frase. Da bancada do PSD surgiram sorrisos e aplausos.
E mais: Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, levantou-se e foi de propósito ao topo da bancada do PS para cumprimentar Sérgio Sousa Pinto. Ouviu um aviso de Aguiar-Branco.
Logo a seguir, a votação. Não do Orçamento do Estado, mas da proposta do PS de suspender os trabalhos.
Livre, PAN e quase toda a bancada parlamentar do PS votaram a favor. Quatro deputados socialistas votaram contra: Manuel Pizarro, Marcos Perestrello, Filipe Neto Brandão e Sérgio Sousa Pinto.
Quase 40 minutos depois (e não 4, como Aguiar-Branco queria), começou o debate previsto.
Não vi tantos políticos incomodados quando estátuas e o padrão dos descobrimentos foram vandalizados por radicais de esquerda radicais!
Ex-Lenine, o que tem uma coisa a ver com outra?