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CGD “deu” 231 mil euros a Bárbara Vara. São 200 euros por mês a pagar em 90 anos

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Tiago Petinga / Lusa

Bárbara Vara pediu 231 mil euros à Caixa Geral de Depósitos, em 2009, para comprar uma casa de mais de 600 mil euros. Ganhou um empréstimo de luxo, sem taxa de juro, e com um prazo superior à esperança média de vida.

De acordo com o Correio da Manhã, a filha do ex-ministro Armando Vara contou que pagava pouco mais de 200 euros de prestação mensal – o que significa que aos 31 anos tinha de viver pelo menos mais 90 anos para pagar a casa. Além disso, a dívida não poderia nunca somar juros.

O juiz Ivo Rosa, que preside à instrução do processo Marquês, não questionou o montante, mesmo depois de Bárbara ter dito que, naquela data, já ganhava entre cinco a seis mil euros por mês.

A resposta foi a uma outra pergunta de Rosário Teixeira, procurador do MP, que quis saber se, dez anos depois, ainda mantinha a dívida. Bárbara disse que sim e revelou que foi no balcão de Vinhais que fez o empréstimo. Segundo o mesmo jornal, Armando Vara ajudou-a em tudo.

O negócio é relevante por ser, na opinião do MP, uma forma de lavar dinheiro. A filha de Vara comprou uma casa na Infante Santo por 600 mil euros e deu 231 mil euros e uma outra casa em troca, que foi depois comprada por uma empresa controlada pelo pai à sociedade com a qual Bárbara fez a permuta.

Bárbara voltou esta segunda-feira a dizer que não sabia. Pensava que havia outro comprador, desconhecia que o negócio tinha saído à casa.

Armando Vara começou a carreira, no início da década de 80, na agência da Caixa Geral de Depósitos de Vinhais, onde era funcionário bancário. Foi nesta agência bancária que a filha do ex-ministro socialista contraiu o empréstimo para comprar a casa na avenida Infante Santo, em Lisboa.

Bárbara Vara disse ainda ao juiz que mantém a gestão da conta bancária naquele balcão, onde começou o pai.

Bárbara Vara não estranhou dois milhões de euros

Bárbara Vara foi a primeira a ser ouvida na fase de instrução da Operação Marquês. A filha de Armando Vara rejeita qualquer conhecimento das atividades do pai.

O depoimento de Bárbara Vara não teve grande novidade face ao que já tinha dito ao procurador Rosário Teixeira quando foi constituída arguida. Numa frase: confiava no seu pai e nada sabia sobre a origem dos cerca de dois milhões de euros que Armando Vara angariou numa conta bancária na Suíça aberta em nome de uma sociedade offshore formalmente controlada por Bárbara Vara.

Contudo, o depoimento de Bárbara Vara, que decorreu entre as 14h00 e as 16h05, deixou algumas pistas sobre as relações sociais do pai com os restantes arguidos, nomeadamente com Carlos Santos Silva.

Bárbara Vara é acusada de dois crimes de branqueamento de capitais por ser titular da sociedade offshore Vama Holdings, que recebeu na sua conta um milhão de euros — metade das alegadas luvas que um grupo de investidores terá pagado em 2007 ao então primeiro-ministro José Sócrates e a Armando Vara, então administrador da Caixa Geral de Depósitos, como contrapartida pelo financiamento de 284 milhões de euros para comprar o resort Vale do Lobo, no Algarve.

A arguida chegou a depositar dinheiro numa conta no Dubai, que assegurou acreditar ser para o pai abrir várias empresas naquele país. Ter-se-á limitado a dar o nome para a criação de duas sociedades offshore e não terá relacionado os elevados montantes depositados nas contas do pai na Suíça com o facto de ele ser administrador da Caixa Geral de Depósitos.

A filha de Armando Vara confirmou ao juiz Ivo Rosa que a conta bancária da Vama Holdings foi por si aberta em Lisboa em 2005 ao pé da casa do pai, e por instruções deste, com um funcionário da Union des Banques Suisses (UBS) chamado Michel Canals. Mas que tal aconteceu por instruções de Armando Vara e porque a própria Bárbara ia começar a trabalhar na Irlanda — daí a necessidade de abrir uma conta no estrangeiro.

Canals é o principal suspeito do processo Monte Branco — uma investigação concentrada numa rede de branqueamento de capitais que tinha o seu epicentro em Michel Canals, na sua empresa gestora de fortunas, fundada após a sua saída da UBS, e em Francisco Canas, um cambista com escritório na baixa de Lisboa já falecido.

Nos autos da Operação Marquês, Armando Vara está referenciado como tendo sido um dos clientes de Canas, tendo-lhe alegadamente entregado várias centenas de milhares de euros em dinheiro vivo para ser transferido para a Suíça.

Bárbara Vara negou conhecer Horta e Costa, alegadamente também implicado no esquema de Vale do Lobo, ou sequer o milionário holandês Jerome Van Dooren que nos primeiros meses de 2008 depositou cerca de dois milhões de euros para uma conta da UBS de Joaquim Barroca, vice-presidente do grupo Lena. O MP suspeita que essa soma seria para dividir entre o ex-primeiro-ministro José Sócrates e Armando Vara, com a cumplicidade do empresário Carlos Santos Silva.

Armando Vara também tem vindo a dizer que a filha é alheia aos crimes que lhe imputam na Operação Marquês. O antigo governante devia ser ouvido esta terça-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal, mas, como se encontra a cumprir pena na cadeia de Évora e decorre uma greve de guardas prisionais, o seu interrogatório foi adiado para 5 de fevereiro.

ZAP // Lusa

46 Comments

  1. ZAP, onde se lê: “um grupo de investidores terá pago em 2007”, devia ler-se “um grupo de investidores terá pagado em 2007”
    Isto porque, mesmo tendo o verbo pagar dois particípios, com “ter e haver” é a forma regular(PAGADO) que terá de ser usada, sendo que a forma irregular(PAGO) usa-se com “ser e estar”

  2. Tudo gente séria, “ónesta” e nada trafulha! Se um pelintra pedir um empréstimo bancário, seja a que banco for, vão vasculhar a sua situação desde que nasceu até ao presente. No final, leva a nega porque não tem condições económicas para efectuar os pagamentos desse empréstimo devido aos monstruosos juros e alcavalas que o processo cobra.

  3. 231 mil euros !!!
    Roubo e Corrupção são sempre delitos.
    Mas comparar esse “pequeno desvio” com o enorme ROUBO que José Sócrates fez ao país, é irrisório e serve para desviar as atenções, enquanto o Juiz Ivo Rosa anda a mandar destruir emails e outras provas comprometedores para o “seu amigo” Sócrates !
    País de dois pesos e duas medidas … país Corrupto em que os maiores Corruptos são protegidos pelos tribunais.

    • Isto, de facto, comparado com o que fez Ricardo Salgado, são trocos. Mas a este, ninguém toca, porque se calhar também distribuiu muito….

  4. Tudo reclama, mas nem sequer as contas fazem..
    Quando fizerem….
    200*12*90 = 216000

    Portanto, ou emprestaram menos, ou ainda é mais grave, e 90 anos nem dá para pagar o dinheiro emprestado, quanto mais os juros..

      • UAU!
        Então isso é a custo zero?!
        Olhem: também quero um desses!
        Será que tenho fazer o pedido no balcão de Vinhais, para poder ter as mesmas vantagens que essa menina?
        Dava-me mais jeito fazer o pedido aqui na Capital. Seria possível? Não é possível? E será que a CGD também pode conceder uma verba para a deslocação a Vinhais?!
        Isso também vinha mesmo a calhar.

      • Eu só me pronunciei em termos matemáticos, não disse que era justo, pois qualquer um com 2 dedos de testa vê que isto é um claro roubo!

  5. Como é sabido, o inquérito ás trafulhices e roubos na CGD, todos com raízes à politica, não irá ser feito, como o não foi, quando foi constituída a comissão de inquérito e que acabou por ser desfeita, por todos os partidos. Tudo, com a intenção bem clara, de irem ganhando tempo, para que a prescrição, pelo menos criminal acontecesse, e dar tempo a que todos os gatunos, tivessem tempo de por tudo a salvo, como já deve estar, seguramente. Mesmo que venha a acontecer nova Comissão agora, é curioso que todos os partidos estão de acordo, mas só porque sabem que não vai dar em nada. Era bom que houvesse um jornalista, que perguntasse ao PC e do BE,porque acabaram com a comissão de inquérito, e agora estão interessados em outra. Na verdade, esta gente, é de uma hipocrisia sem limites, e também os do PS, CDS E PSD. Todos estão lá nesse bolo de Corrupção. Como é bem claro, nenhum deles, está interessado em,já não digo a corrupção, mas diminui-la ao mínimo. As próprias leis, já são feitas de forma a facilitar essa corrupção, mas por todos os partidos.

  6. Infelizmente já nada disto me indigna!
    O que me indigna mesmo, são aqueles que ainda acreditam e defendem que tudo isto é inventado e que eles (elas) (coitado(a)s), estão completamente inocentes…
    E o pior é que nem é só gentinha desinformada, são aqueles pseudo informados, cuja sua cor politica (seja ela qual for), lhes consegue enviesar os seus cérebros de galinha…
    E destes infelizmente, são dos que por cá mais se vê!!!

  7. o que acho sempre extremamente engraçado mas sem graça nenhuma é a ingenuidade que esta gente apregoa…

    ingenuidade falsa está bem de ver.

    já agora tenho de ir à cgd ver se tb consigo empréstimos destes.

  8. Sabem agora os senhores leitores e comentadores porque é que não querem mexer mais na falência da Caixa? É que há coisas que quanto mais se lhe mexe mais mal cheiram. Um empréstimo deste montante e só a pagar 200/mês euros em 90 anos. A menina não sabia de nada e desconhecia tudo. Maroscas de um “socialista”. Quantos não haverá como este vara ou ainda piores. O Povo paga com língua de palmo a recapitalização da Caixa. Por isso a canalha quer esconder a todo o custo estas coisas porque se vasculharem, mais falcatruas vão encontrar de gente dos partidos e desgovernantes a quem o Povo deu o seu voto. É esta democracia e este sistema altamente corrupto que eles continuam a defender com a desculpa da liberdade e da democracia.

  9. Coitado do Vara… queixa-se de perseguição e com razão. Tinham tempo para o apanhar, afinal nem meia dúzia de anos passaram e já estão a persegui-lo. Uma justiça a sério, só lá para os 80 é que deviam começar a chatear.

    • E já agora calcitrim e o cogumelo do tempo… até porque o empréstimo prevê que a menina varinha tenha de ultrapassar os 120 anos para saldar a sua dívida. Vamos todos rezar diariamente pela varinha mágica!

  10. Isto é de facto surreal. Não sabe, desconhece o que o paizinho anda a fazer,… mas dá o nome para empresas offshore, ia trabalhar para a Irlanda e vai abrir uma conta onde caem uns milhões e nem estranha, tem uma empresa offshore com conta na Suíça mas também não sabe de nada, não estranha que lhe seja dado um empréstimo com prazo de 90 anos aos trinta e tal anos de idade (teria de viver até aos cento e vinte e tais para o pagar) e sem taxa de juro… e não estranha nada disto…

    Das duas uma… ou esta senhora está a concorrer para o prémio da tolinha do século ou está enterrada até ao pescoço. Em termos futebolísticos, senhor juiz Ivo Rosa… isto nem precisa da ajuda do VAR.

    • Tenho uma teoria oposta, caro Bruno. Acho que o povo já tem afetos a mais. São muitos os afetos diariamente e vindos de vários lados. Todos os dias somos f$%&/## de todas as maneiras e feitios e por todos aqueles que podem e querem.

  11. Eu para pedir 6000 euros para por uma placa a caixa geral de depositos negou-me o emprestimo e a minha mulher tem rendimento como eu que cobram isso

    • Pois… mas tu és alguma coisa ao Vara, ao Sócrates, ao Costa ou ao Medina? Então cala-te. Tu és é um grande invejoso que estás sempre a querer viver às custas dos outros. Esta gente que referi é gente trabalhadora. Gente que suou muito para ter o que os amigos têm. Gente que dá ao amigo o fruto do seu trabalho. Tu és apenas um invejoso e um grande burro… como eu.

  12. Tráfico de influência consiste na prática ilegal de uma pessoa se aproveitar da sua posição privilegiada dentro de uma empresa ou entidade, ou das suas conexões com pessoas em posição de autoridade, para obter favores ou benefícios para si próprias ou terceiros.

    • Tem toda a razão… eu vesti… mas fiquei sozinho em cima da ponte.
      Só têm o que merecem… quanto mais lhes metem o dedo mais arregaçam as nádegas… da-see … heróis do mar… só no hino…

  13. Já devem de se estar a preparar para infectar todo o sistema informático relativo à Operação Marquês com o vírus “Pinto de Sousa”, de forma a eliminar todas as provas em escutas e documentos digitalizados!

  14. Que reanalisem o processo e ser virem que não cumpre a taxa de esforço nem o prazo máximo, ficam-lhe com o bem. Penhora. Não é assim com todas as pessoas? Tratem como tratam os outros clientes, e responsabilizem os técnicos e gestores que FALHARAM na análise e autorizações que deram.
    Se fosse comigo, como procederiam? Façam igual.

  15. Foi o vale tudo.
    E vem a Sr.ª dizer que não sabia de nada.
    Espero, penso que a maioria dos Portugueses esperam, que a justiça se faça com celeridade e que todos os envolvidos de cima a baixo, devolvam o que roubaram e que sejam punidos com prisão.
    Admito que muitos já colocaram o produto do roubo em nome do tio, do primo, etc, mas que a justiça vá no encalço, pois estes também pactuaram com o assalto.
    Que os políticos que estão na Assembleia da República, preparem ou ajustem atempadamente as Leis, considerando que temos muito má e poderosa gente envolvida nos roubos.
    Vem em o Dr. Macedo dizer que era necessário esconder os nomes dos assaltantes, como é possível ter alguém a gerir um património público que pactua com o encobrimento.
    Se eu fosse 1.º Ministro ou Ministro das Finanças, já o convidava a sair, pois não faltam pessoas honestas para ocupar o lugar e por vencimento mais condizente com os valores que os Zés Portugueses recebem.

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